Não se engane pelos deslizes: os Vikings são muito perigosos

Mesmo com J.J. McCarthy oscilando, o time tem uma base extremamente sólida e uma comissão técnica melhor ainda. Dentro de uma NFC acirrada, Minnesota tem talento e poder de fogo para acabar com as festas alheias.

Vikings

Talvez uma das frases mais escritas aqui no ProFootball seja, sem dúvida, “comissão técnica importa e muito na NFL”. Parece algo simples, mas é bastante comum ver histórias onde acontece o oposto. Não é o caso do Minnesota Vikings de Kevin O’Connell e companhia, no entanto.

A surra em cima do Cincinnati Bengals na última semana foi a prova disso. A defesa desmantelou qualquer sinal de vida do ataque dos Bengals logo nos minutos iniciais e depois só colocou mais pregos no caixão. Do outro lado, Carson Wentz (pois é) fez o feijão com arroz e o ataque só garantiu a vitória. Resultado: 48×10 e campanha 2-1 no momento.

Manter-se com campanha positiva é fundamental, especialmente numa divisão tão acirrada como a NFC North. Os Vikings podem não saber no momento – importante: neste exato momento – quem é J.J. McCarthy, mas possuem uma base muito sólida e uma ótima comissão técnica. Dois fatores que podem dar muita, mas muita dor de cabeça para os adversários.

É o bonde dos estraga baile

Ame-o ou odeie-o (sai do fake, Tua Tagovailoa), uma coisa é certa: Brian Flores sempre nos garante entretenimento com suas defesas. Desde que se tornou coordenador na franquia em 2023, a defesa de Minnesota se tornou uma das melhores – e mais birutas – da liga. Neste começo de temporada, nada mudou: a filosofia segue sendo “blitz hoje, amanhã e sempre”. Além de doses cavalares de agressividade.

A vitória contra os Bengals é um bom exemplo disso, quando elevado à máxima potência. O pass rush dos Vikings tornou a vida de Jake Browning um verdadeiro inferno. Por mais limitado que ele seja, forçar um quarterback a ter 59 passes apenas na partida toda é um grande feito. 56% de pressão para cima de Browning? Também. Contudo, a maior história do dia foram os vários turnovers que a defesa forçou em cima dos Bengals.

Só no primeiro tempo de partida (!!), foram três fumbles forçados e a pick-6 de Isaiah Rodgers. Aliás, o cornerback teve “o” jogo da carreira: foram dois fumbles forçados na sua conta, além da pick-6 e outro fumble recuperado para touchdown. Foi o dia iluminado dele, mas outros nomes também apareceram. Andrew van Ginkel teve dois sacks, a trinca de pass rushes – Javon Hargrave, Byron Murphy, Jonathan Greenard e outros – fez a festa pressionando Jake Browning, Eric Wilson, Josh Metellus com interceptação… O resultado não poderia ser outro: um show defensivo.

Essa unidade não tem uma mega estrela de fato, mas isso não chega a ser um grande problema para a equipe. São 23 vitórias e 15 derrotas (contando playoffs) sob a batuta de Brian Flores. De acordo com a TruMedia, o EPA da defesa foi 20 vezes maior do que o do ataque nessas vitórias. No caso das derrotas, a diferença de EPA diminui entre as duas unidades e os special teams. Ainda assim, é inegável que a força motriz de Minnesota está no lado defensivo.

Os próximos compromissos vão ser bem mais desafiadores. O primeiro será em Dublin, contra os Steelers. Embora parar DK Metcalf seja um problema, a linha ofensiva não é grande coisa e Aaron Rodgers sob pressão anda preocupando. Ou seja: prato cheio para o front de Minnesota ir para cima dele que nem um comboio. Depois disso, o calendário se complica, com Chargers, Lions, Eagles e Ravens pela frente.

Confrontos difíceis, de fato. Mas nada impossível para os coringas de Brian Flores transformarem isso num baile de corredor digno dos anos 90. Faz a rodinha no meio do baile com eles pra você ver só.

O paradoxo do curto e do longo prazo

Kevin O’Connell é um ótimo head coach, tanto que é o atual detentor do prêmio de Treinador do Ano. Porém, um fator sobre ele que passa abaixo do radar é o paradoxo cujo ele lida atualmente. Desde 2022, seu primeiro ano no comando da equipe, os Vikings vivem um dilema entre querer ser competitivo agora ou planejar o futuro: leia-se aqui draftar um quarterback.

No começo, parecia que o plano ia seguir o roteiro da primeira parte. Até que, no ano passado, o time draftou J.J. McCarthy. Ele se machucou na pré-temporada e o restante da história nós conhecemos: Sam Darnold ressurgiu das cinzas, o time foi aos playoffs e acabou perdendo no wild card. Uma temporada muito positiva, mesmo assim.

Pois bem. Chegamos na semana 4 e o roteiro de 2024 parece se repetir. McCarthy se machucou e quem está em seu lugar é Carson Wentz. Tal como Darnold ano passado, ele ressurgiu do inferno e não jogou mal no domingo. Pelo contrário: 14 de 20 passes completos para 173 jardas e 2 TDs. Embora a defesa dos Bengals seja incapaz de pressionar até sopro de asmático, Wentz trabalhou bem dentro e fora do pocket, além de soltar a bola rápido. Esse ponto é crucial dentro do sistema de O’Connell: ter um bom release, ser preciso nos passes curtos e pontuais passes longos no meio do campo. Tudo o que Wentz sabe fazer (quando ele não espalha a farofa).

Isso também nos leva a outro paradoxo: Jonathan James. Segundo o NFL Next Gen Stats, Wentz teve passes rápidos (abaixo de 2,5 segundos) em 60% das suas tentativas de passe contra os Bengals. Em contrapartida, J.J. McCarthy tentou lançar passes rápidos em apenas 17,1% dos seus dropbacks. Números ruins, mas vale lembrar que o espaço amostral de McCarthy na liga é menor do que o de Wentz.

O próprio Kevin O’Connell já declarou recentemente que jovens quarterbacks encontram dificuldades em se desenvolver – e que as franquias falham mais nessa missão do que o contrário. O plano dos Vikings parece bem claro: proteger J.J. McCarthy e deixá-lo sentir as dores de crescimento. Porém, fica difícil fazer isso quando o seu elenco é um dos mais caros da liga e seu time está há seis anos sem uma vitória em playoffs.

Equilibrar essa balança é uma tarefa árdua e nem sempre dá certo. Só que Minnesota quer fazer isso acontecer ainda em 2025. Se dará certo, isso só iremos saber no final da temporada.

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