Seria mentira se disséssemos que a NFC South é a divisão mais equilibrada da NFL, já que, por exemplo, as quatro franquias da AFC South estão empatadas com duas vitórias e duas derrotas. Após quatro semanas de temporada, não existe um equilíbrio absoluto em termo de record dos times na divisão sul da Conferência Nacional, mas, em compensação, há tanta coisa acontecendo, tantas histórias interessantes se desenrolando, que não é exagero considerá-la a mais intrigante e talvez mais imprevisível de toda a liga. No mínimo, pelo menos, é a divisão mais esquisita do momento.
New Orleans Saints, Tampa Bay Buccaneers e Carolina Panthers já passaram por momentos de turbulência que colocaram suas temporadas em risco, mas mesmo assim conseguiram se recuperar e, por ora, dão a entender que protagonizarão uma briga de foice pelo título divisional, mesmo que às vezes seja aos trancos e barrancos. O único que parece estar fora da festa é o Atlanta Falcons, equipe enterrada em um lamaçal de problemas difícil de sair. E é justamente pela franquia de Geórgia que começaremos.
Atlanta parece estar assustadoramente contra as cordas
A impressão vendo o jogo dos Falcons (1-3) contra o Tennessee Titans é que, em determinado momento, eles entregaram os pontos. A diferença em relação aos Saints (3-1) é de apenas duas vitórias, porém é difícil imaginar que um time aparentemente tão entregue e passivo consiga arrumar forças para buscar uma reação, embora ainda tenhamos três quartos de temporada pela frente. Tal passividade transpareceu inclusive na única vitória da franquia em 2019, quando ela quase permitiu uma virada dos Eagles no segundo tempo.
Perder Keanu Neal na semana 3 para uma ruptura no tendão de Aquiles foi um tremendo baque. Já é praticamente a segunda temporada inteira consecutiva que o jovem safety perde por conta de problemas físicos. A falta de sorte dos Falcons com lesões, fator decisivo no fracasso do ano passado, segue chamando a atenção.
É claro que, além das lesões, o que melhor explica a sensação de desânimo e apatia são os próprios problemas dentro de campo. O ataque terrestre pedestre, por exemplo, vem sendo uma marca registrada do time. É incrível como Dirk Koetter, hoje coordenador ofensivo, tem dificuldade para estabelecer um jogo corrido consistente. Em seus tempos como head coach de Tampa Bay, havia a desculpa de falta de talento no corpo de running backs, o que não existe mais com Devonta Freeman – ainda assim, são 3,3 jardas por tentativa de corrida para o running back. A falta de jogo terrestre tira todo o ataque dos Falcons do eixo, fazendo com que ele dependa de Matt Ryan constantemente tirar coelhos da cartola para Julio Jones e Calvin Ridley.
Enfim, os problemas de Atlanta são muito maiores e merecem um texto específico. Apenas queremos deixar claro que a situação atual é péssima e o pescoço de Dan Quinn está em risco.
Carolina e Tampa Bay: defesa é o trunfo para se manter na briga com New Orleans
Se Atlanta entrou em uma rota descendente, Carolina e Tampa Bay, ao contrário, estão com todo o momentum após a semana 4. E isso graças majoritariamente às suas defesas.
O ataque dos Buccaneers é exatamente o que a gente já esperava: uma unidade rica em talento e potencial, mas que varia de acordo com o humor de Jameis Winston. Touchdowns de tirar o fôlego acontecem quase que na mesma proporção de interceptações – o quarterback quase jogou no lixo uma apresentação excelente contra o Los Angeles Rams com uma pick six nos minutos finais. Seja como for, é basicamente o ataque que a gente estava imaginando.
A defesa, por sua vez, vem surpreendendo positivamente. Ela não é dominante como a de Chicago ou New England – muito longe disso, na verdade -, contudo, é uma unidade que vem ajudando a ganhar jogos. Diante de Los Angeles foram 40 pontos cedidos, mas, em compensação, quatro turnovers forçados que influenciaram diretamente na vitória. O touchdown que selou o confronto, aliás, foi um fumble retornado para end zone por Ndamukong Suh. Antes, na semana 2, a defesa já havia segurado os Panthers em uma noite não tão prolífica do ataque.
Os Buccaneers estão na segunda colocação no ranking de turnovers forçados, empatados com nove junto ao Pittsburgh Steelers. É uma evolução significativa para uma defesa que passou boa parte dos últimos anos na completa e absoluta irrelevância. Tampa Bay, entretanto, ainda carece de consistência, sendo o time que permite uma virada gigantesca dos Giants em uma semana e na outra massacra os temidos Rams por 55 a 40.
Carolina, por sua vez, renasceu após parecer uma equipe condenada nas duas primeiras partidas do ano. Trocar Cam Newton por Kyle Allen foi uma boa decisão, não porque Allen é melhor, mas porque Newton nitidamente não tinha condições de saúde para continuar tocando o barco. Em todo o caso, Christian McCaffrey continua sendo o ponto focal do ataque e Allen apenas tem a missão de não estragar tudo – o que ele quase fez com seus fumbles contra o Houston Texans.
Quem renasceu mesmo nas duas últimas semanas foi a defesa. Tudo bem, foram duelos contra duas das piores linhas ofensivas da NFL (Arizona Cardinals e Houston Texans), mas não é sempre que uma franquia consegue 14 sacks no intervalo de dois jogos. Mario Addison está voando baixo e já soma 5,5 sacks na temporada.
Existem muitas críticas a serem feitas em relação ao trabalho de Ron Rivera, porém é inegável que ele montou ótimos sistemas defensivos ao longo dos seus anos como treinador em Carolina. Os Panthers voltaram à briga pela divisão e mostram que podem seguir em frente confiando em uma defesa forte e entregando a bola compulsivamente para McCaffrey. Contra Houston essa foi a tônica, tanto que o running back encostou inacreditáveis 37 vezes na bola (27 corridas e 10 passes recebidos).
New Orleans: Sem Brees, (quase) sem problemas
A cada semana, os Saints adaptam a famosa frase de Dadá Maravilha para a sua própria realidade: não existe vitória feia, feio é não vencer. Sobreviver é a ordem do dia depois da lesão de Drew Brees e é isso o que a franquia vem fazendo. Apoiados em uma defesa excelente, nos passes curtos e seguros de Teddy Bridgewater, nas corridas de Alvin Kamara e na qualidade de sua comissão técnica, os Saints conquistaram importantes e improváveis triunfos diante de Seahawks e Cowboys.
O plano certamente era não estar em um buraco muito fundo quando Brees finalmente estivesse recuperado, mas agora é possível que a franquia se mantenha no topo da NFC South mesmo sem o seu quarterback titular por mais algumas rodadas, um feito sem dúvida impressionante. Apesar dos bons momentos de Panthers e Buccaneers, os Saints seguem como a equipe menos instável entre as três postulantes ao título de divisão, por isso merece carregar um certo favoritismo, sobretudo agora que provou existir vida sem Brees.
Bizarrices do calendário devem definir o destino das equipes e da divisão
O único time da NFC South que tem uma tabela minimamente lógica daqui até o final da temporada são os Panthers. Já as outras três franquias terão que superar algumas bizarrices que só o calendário da NFL costuma nos proporcionar.
Os Buccaneers, por exemplo, terão quatro partidas longe de seus domínios nas quatro próximas semanas, já que o confronto “em casa” contra os Panthers na semana 6 está marcado para Londres. Completam a dura sequência visitas a Saints, Titans e Seahawks, todos lugares bastante hostis. Menos mal que Tampa Bay terá sua bye week na semana 7, mas mesmo assim é estranho pensar que eles só voltarão ao Raymond James Stadium no dia 10 de novembro.
E o que dizer dos Saints, que enfrentarão quatro duelos divisionais consecutivos entre as semanas 10 e 13? Em uma divisão que promete ser tão acirrada, essa sequência diante de Falcons, Buccaneers, Panthers e de novo Falcons basicamente definirá o futuro de New Orleans. Uma temporada inteira decidida entre os dias 10 e 28 de novembro. A sorte é que Brees já deve estar de volta até lá ou, no máximo, perder o primeiro jogo contra a equipe da Geórgia.
Atlanta, por sua vez, terá uma sequência ainda mais sem noção: são nada menos do que cinco duelos divisionais consecutivos entres as semanas 10 e 14 – por sinal, seis dos últimos oito jogos são contra rivais de divisão. Curiosamente, as duas primeiras partidas (Saints e Panthers) serão fora de casa, enquanto as três últimas acontecerão no Mercedes-Benz Stadium (Buccaneers, Saints e Panthers). É uma tabela brutal que coloca uma pressão imensa nos ombros da franquia em um curto espaço de tempo.
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