Cam Newton, uma década de esperança e de ‘se’

O Carolina Panthers teve um dos melhores quarterbacks da última década - e que, com todos seus defeitos, fez o torcedor do time ter esperança por muito tempo

Apesar de Cam Newton não ter anunciado oficialmente sua aposentadoria da NFL, seria uma grande surpresa se o quarterback voltasse a jogar na liga em algum momento nos próximos anos. Já com idade avançada e detentor de um estilo de jogo que exigia muito do seu corpo – que já não responde como o fazia em 2011 -, Newton foi um personagem marcante para a liga na última década mesmo sem um título em seu currículo.

Newton foi a face de uma franquia que não parecia fazer tudo que era possível para ajudá-lo; posteriormente, ainda atuou por uma temporada junto com o New England Patriots justamente na situação mais bizarra possível, sem qualquer torcedor para apoiá-lo em campo por conta da pandemia de COVID-19 e substituindo somente o maior jogador da história do esporte, finalizando sua carreira com alguns jogos de despedida justamente na sua casa.

Por tudo que ele representou para os Panthers e para a NFL, não dá pra pensar em Cam Newton só dentro de campo.

Newton foi muito além das quatro linhas – para o bem e para o mal

Uma coisa precisa ficar clara quando você está falando sobre Cam Newton: nunca, jamais, em hipótese alguma se pode limitar Newton a somente um quarterback. Fosse dentro ou fora de campo, ele sempre foi ele mesmo – para o bem ou para o mal. Nem mesmo dentro da torcida dos Panthers ele foi unanimidade na última década; sua personalidade, excêntrica, acumulou fãs e odiadores pelos mais variados motivos.

Você não pode falar de Cam Newton sem mencionar o seu trabalho fantástico com a comunidade de Charlotte desde que os Panthers selecionaram-no com a primeira escolha geral no Draft de 2011. Também é difícil falar de Cam Newton sem mencionar sua marcante comemoração de Superman. Ou de como ele parecia, literalmente, um super-homem em campo por conta de seu porte físico. E de como isso fez com que ele estivesse em campo mesmo com lesões que teriam um efeito devastador em praticamente qualquer outro ser humano.

Você também não pode jamais deixar de mencionar a imensa quantidade de recordes quebrados pelo jogador em sua primeira campanha na NFL: ele lançou para mais de 400 jardas em suas duas primeiras partidas como profissional; ao final da temporada da 2011, ele se tornou o primeiro quarterback calouro na história da liga a lançar para mais de 4000 jardas num só ano. De 2-14, o time evoluiu para 6-10. O futuro estava ali.

Falar de Cam Newton no Carolina Panthers sem citar o ano de 2015? Impossível então. Os Panthers venceram os primeiros 14 jogos daquela campanha liderados por aquele que foi o melhor jogador da NFL naquela temporada. Até mesmo no maior jogo da história da organização o quarterback se tornou o centro das atenções: o infame fumble em que Newton não se jogou para tentar recuperar a bola e que praticamente decretou a perda daquele Super Bowl.

Tem quem goste, tem quem odeie. Mas ele nunca deixou de ser ele mesmo.

Sempre achei extremamente divertido assistir Newton em campo justamente por conta de sua autenticidade. Jogadores como ele são raros e adicionam um ar de humanidade que não costumamos ver em atletas, de quem, por algum motivo, esperamos perfeição e esquecemos de que possuem uma vida fora do esporte.

Isso não é pra dizer que ele era perfeito. Após a derrota no Super Bowl 50 para o Denver Broncos, por exemplo, ele abandonou a conferência de imprensa e, uma semana depois, deu a famosa declaração em que ‘você me mostra um bom perdedor e eu te mostro um perdedor’. Em 2017, durante uma conferência de imprensa, a repórter Jourdan Rodrigue perguntou sobre as rotas de um recebedor da equipe e a resposta do jogador foi que ‘era engraçado ouvir uma mulher falando sobre rotas’ – ele pediu desculpas pelo ocorrido posteriormente.

2017, inclusive, é o ano em que a carreira do jogador melhor foi resumida. Além do supracitado incidente extracampo, houve a ocasião em que Cam Newton ouve Clay Matthews declarar que a jogada chamada será uma wheel route saindo do backfield de Christian McCaffrey; Newton sorri, diz para Matthews algo na linha de “você tem assistido game film, não? Excelente, agora veja isto”, e anota o touchdown conectando com McCaffrey numa rota onde ele ameaça executar uma wheel e corta pra dentro, com muito espaço pelo meio do campo. No fim daquele ano, nos playoffs, o quarterback teve um jogo praticamente perfeito contra os Saints em New Orleans pela rodada de wild card. Os péssimos recebedores à sua disposição é que não ajudaram e o time de Carolina foi eliminado num jogo apertado.

É uma carreira de ‘e se?’

E se Kaelin Clay não dropa o touchdown contra os Saints? O time consegue empolgar e derrubar o Philadelphia Eagles com Nick Foles?

E se o time ganha o Super Bowl 50? Newton seria lembrado de forma diferente fora de Carolina?

A temporada no New England Patriots é esquecível em sua carreira porque ele nunca foi a verdadeira face da franquia. Com seu profissionalismo, se dedicou por um ano em que nada parecia fazer sentido tanto na liga quanto no mundo. Ele não foi um quarterback terrível, porém, ninguém jamais vai associar Newton a qualquer outro lugar que não seja o Carolina Panthers.

E quem torce pros Panthers jamais vai esquecer Cam Newton.

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