Johnny Manziel voltou aos holofotes recentemente após a Netflix lançar um documentário sobre sua vida e alguns de seus acontecidos ao longo da carreira na NFL, que durou apenas dois anos junto do Cleveland Browns antes da franquia se cansar de sua rebeldia e sua falta de dedicação e cortar laços. Mesmo para um time com tantos problemas de quarterback igual aos Browns, a paciência foi curta – natural após ser testada de forma tão intensa.
A ascensão de Manziel para o mundo do futebol americano foi quase que instantânea depois de liderar uma das maiores surpresas da última década no College Football. Desde aquele momento, seus problemas fora de campo já eram assunto e ameaçavam minar sua carreira profissional antes mesmo de começar. E foi isso que aconteceu.
[Nota do Editor: esse texto contém (pequenos, mesmo) spoilers do documentário publicado essa semana pela Netflix sobre a vida e a carreira de Johnny Manziel]
Chegando com pé na porta
Para começar a contar a história de Johnny Manziel, precisamos voltar ao contexto do College Football em 2012, quando ele ainda estava no seu primeiro ano (ou seja, freshman)
Enquanto estamos vivendo uma era de conferências malucas no nível universitário, 2012 nos deu um pequeno gostinho quando Missouri e Texas A&M se juntaram a SEC, a mais forte conferência do país. Entrando na Western Division, Texas A&M precisaria enfrentar todos os oponentes da mesma, dentre as quais a atual campeã Alabama, que começou a temporada como #2 mas rapidamente assumiu o topo do ranking – e se manteve invicta até o dia 10 de novembro daquele ano.
Texas A&M não tinha o nível de recrutamento ou talento capaz de competir no topo do ranking, de modo que começaram a temporada sem qualquer classificação e perdendo para Florida. A universidade até vinha com boa campanha, só que ninguém levava o time muito a sério até duas ótimas vitórias fora de casa contra Auburn e #17 Mississippi State, que lhe catapultaram para #15 antes de enfrentar Alabama na casa do adversário.
Foi aí que Johnny Manziel se apresentou para o mundo.
Manziel teve uma atuação individual fantástica, dominando a melhor defesa do College Football naquele ano e garantindo uma vitória mais que surpreendente sobre os comandados de Nick Saban. Com dois passes para touchdown, 345 jardas totais e uma vitória histórica, todo mundo começou a prestar atenção naquele calouro que derrubou a #1 e atual campeã. Com Texas A&M terminando a temporada de forma invicta e batendo a boa equipe de Oklahoma no Cotton Bowl, Manziel se tornou o primeiro freshman a receber o Heisman Trophy, prêmio dado ao melhor jogador do College Football naquela temporada.
Só que aí os problemas começam – pequenos, mas começam. Manziel violou uma das regras da NCAA e deu autógrafos por dinheiro, algo proibido antes da era NIL, de modo que ele ficou suspenso pelo primeiro tempo do primeiro jogo da temporada de 2013. Ele continuou jogando em bom nível e recebendo críticas na mesma proporção, especialmente por sua personalidade dentro de campo e sua falta de dedicação fora dele. As opiniões sobre sua cotação no Draft variavam bastante.
Estragos e mais estragos
O Cleveland Browns tinha naquele momento 15 anos desde sua volta e simplesmente não tinha nenhum franchise quarterback confiável desde então. O time arriscou em Manziel perto do final da primeira rodada, confiando que poderiam usar seu talento para ganhar destaque na liga e finalmente competir dentro da AFC.
O problema é que faltou uma parte importante para o plano funcionar: Manziel concordar com ele. Ao longo de seus dois anos em Cleveland, foram múltiplas as vezes em que ele foi filmado em Vegas completamente bêbado de forma que afetasse sua preparação física e seus planos de jogo. Como ele mesmo conta em seu documentário recente, sabe quantas horas em toda sua carreira profissional ele parou para ver game film das defesas adversárias? Zero.
Em dois anos de carreira, zero horas.
Com a falta de esforço, não tinha talento que compensava. Em 2015, ele mostrou alguns flashes quando Josh McCown (um excelente profissional, que se registre) esteve machucado e ele entrou em campo, a ponto de que o treinador Mike Pettine lhe deu a titularidade na época e, como conta uma famosa história, só deixou um único pedido: “não me complique enquanto estamos na bye week”.
Então Manziel foi para uma festa. Onde todo mundo estava proibido de tirar fotos dele ou com ele. Manziel foi disfarçado. Ele mentiu que não havia ido. A comissão técnica descobriu fotos e vídeos. Manziel nem voltou a jogar como titular: instantaneamente, Pettine fez dele o terceiro quarterback da equipe. Ele voltou a jogar só porque Austin Davis era péssimo, entretanto, ali era praticamente o fim de sua passagem por Cleveland.
Ainda teve tempo para uma última dor de cabeça: com sintomas de concussão, ele não iria participar da última partida em 2015. No sábado antes da partida, ele foi visto novamente numa festa em Las Vegas, e não conseguiu voltar para Cleveland para um encontro com a equipe no domingo de manhã porque não haviam voos comerciais. Johnny Manziel foi cortado pelos Browns em 11 de março de 2016.
Sobrevivência
A partir daqui, é uma história de fundo do poço e recuperação. Manziel revelou que em 2016 tentou tirar sua própria vida e que a arma falhou, e que hoje tenta viver uma vida simples e tranquila, com planos de abrir um bar perto do Kyle Field, casa de Texas A&M, dando seguimento a sua vida de um modo normal. O futebol americano ficou para trás.
Olhando da ótica profissional, as atitudes do quarterback enquanto um representante de uma franquia não possuem qualquer defesa. Olhando da ótica pessoal, ele aparenta estar recuperado e seguindo a vida de forma simples e tranquila. É o mais importante para todos nós.
Para saber mais:
4 motivos que justificam o hype dos Jets em 2023
Prévias 2023: A janela do Buffalo Bills ainda está aberta?
Prévias 2023: Vikings seguem reformulação, mas não deixam de sonhar alto
Podcast ProFootball +: Prévias das divisões South
