Já é tradição: todo ano, aproveitando o sossego da offseason, fazemos uma semana especial, relembrando alguma temporada da NFL. Para este ano, resolvemos contar a história da temporada de 2014, repleta de bons personagens e histórias cativantes. Nesse texto final, vamos relembrar a campanha e o título de Tom Brady, Bill Belichick e o New England Patriots. Venha conosco nessa gostosa viagem no tempo!
Ao longo da semana aqui no Pro Football, relembramos algumas histórias muito legais – e várias outras ficaram fora da Semana 2014. Teve demissões, polêmicas, ressaca, time vencendo a divisão com campanha negativa, enfim, 2014 teve de tudo. Mas absolutamente nenhum time marcou tanto aquele ano como o New England Patriots.
Alguns dos tópicos já foram cobertos de forma mais extensa aqui no site – por exemplo, há algumas semanas eu falei sobre como o Draft de 2014 causou uma senhora dor de cabeça em New England. A Anna falou ontem mesmo do Deflategate. Eu já falei do Jonas Gray quatro anos atrás. Tem muita, muita coisa que envolveu os Patriots de 2014 e que fizeram daquele um belíssimo ano pro fã de NFL, até pra quem não torce pro time.
Mas que não haja nenhuma dúvida do que esse título significou.
Um time absurdamente completo
Pra começar a falar da montagem desse elenco, vamos voltar até a offseason de 2013. Naquele período, os Patriots perderam quatro (Wes Welker, Brandon Lloyd, Aaron Hernandez, Danny Woodhead) de seus cinco principais jogadores com mais jardas recebidas em 2012 por motivos variados. Quando o ano começou, passar a bola foi um sufoco para New England, mesmo com Brady ainda em seu auge, o que forçou o time a buscar alternativas que, honestamente, estavam longe do mesmo nível. Mas ainda permitiu a ascensão de Julian Edelman, a primeira vez que ele virou titular incontestável e ultrapassou as 1.000 jardas.
O time terminou aquele ano perdendo a final de conferência para o Denver Broncos, dono do melhor ataque aéreo da história da NFL, então 2014 foi a vez de se preparar melhor. Brandon LaFell, já experiente, chegou ao time, enquanto Rob Gronkowski estava saudável de novo. O trio LaFell/Gronkowski/Edelman somou respeitáveis 3.049 jardas naquele ano, então o problema do ataque aéreo ao menos tinha sido resolvido.
A defesa também foi reforçada. Sai Aqib Talib, entra o excelentíssimo Darrelle Revis, ainda jogando em alto nível, enquanto Brandon Browner chega da Legion of Boom (ok, não era o Sherman, mas isso vai ser BASTANTE relevante no fim do texto). O elenco era de ponta e a dupla Brady-Belichick vinha motivada após três anos chegando ao menos nas finais de conferência.
Eu nem vou me alongar na temporada regular, só vale citar as famosas Semanas 4 e 5. Os Patriots, 2-1, levaram uma senhora surra do Kansas City Chiefs (41-14) em pleno Monday Night Football, o que gerou até questionamentos da imprensa se Brady seria substituído por Garoppolo – uma pergunta que Belichick deu risada. Logo após o massacre, o treinador respondeu todas as perguntas com “Vamos para Cincinnati”. Basicamente um “isso acabou, já estamos no próximo”.
Na Semana 5, no Sunday Night Football, os Patriots (2-2) receberam o Cincinnati Bengals (3-0), então o grande favorito da AFC no começo da temporada e que vinha jogando em altíssimo nível. Resultado final do jogo: Bengals 17, Patriots 43.
Eles realmente estavam On To Cincinnati.
Rivalidade inflada, bola murcha
Os Patriots terminaram 12-4 e tinham a segunda seed geral. O jogo contra o Baltimore Ravens no Divisional foi fantástico de assistir como torcedor neutro: os dois times se enfrentaram nos playoffs em 2011 e 2012, com uma vitória e muita provocação para cada um dos lados. Os Ravens estavam atrás de sangue em Foxboro naquele sábado, abrindo vantagens de 14-0 e 28-14 em determinados momentos.
Foi aí que a genialidade de Belichick e Josh McDaniels apareceu: primeiro, num drive onde confundiram totalmente a defesa (e causaram um surto em John Harbaugh) alterando os jogadores inelegíveis; com 28-21, essa jogada bastante famosa – o vídeo mostra o contexto dela, especialmente o “Ninguém Além De Brady Vai Lançar”:
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New England venceu aquele jogo no mais absoluto detalhe: em 2012, perderam de forma murcha, e em 2013 também não teriam vencido um jogo contra o adversário tão feroz. 2014 era o ano em que as coisas estavam se alinhando bem.
Quanto a final de conferência… bem, o texto sobre o escândalo saiu ontem e não vou repetir muito. Só vale falar que o jogo foi um domínio completo e absoluto dos Patriots e que nada alteraria o resultado daquela partida. Não vou fazer juízo de valor sobre um assunto tão exaustivo e chato; vou apenas pontuar que os Colts não tiveram chance alguma naquele jogo.
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Outros textos da Semana 2014:
Semana 2014: A Ressaca dos Broncos e Manning questionado
Semana 2014: O Draft do Vai Ou Racha
Semana 2014: A crise e o fim da era Jim Harbaugh nos 49ers
Semana 2014: A tragédia NFC Southiana
Semana 2014: A derrocada de Chip Kelly
Semana 2014: O fim da era Rex Ryan
Semana 2014: Mais um “quase” dos Packers
Semana 2014: a polêmica do Deflategate
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Título com a cara de Belichick
No Super Bowl XLIX, a missão era impedir que os Seahawks repetissem os Patriots de 10 anos atrás e vencessem dois títulos de forma consecutiva. Eu sei que New England não era #1 (Denver tinha essa condição, só que perderam no Divisional para Indianapolis), mas foi o jogo entre os dois melhores times da liga ali.
Vamos voltar para a primeira parte do texto. Lembra que eu falei do Brandon Browner, não é? Ele participou de nove partidas aquele ano e teve uma única interceptação. Só que, em 2014, o Browner veio justamente… dos Seahawks. Ele tinha boa consciência do que podia rolar. Se você quer rever os melhores momentos desse jogaço, clique aqui.
Aqui, entram dois pontos.
- O primeiro é que os Patriots seguraram um tal de Malcolm Butler, cornerback não-draftado em 2014, no elenco, e ele foi ganhando mais espaço ao longo do ano. Depois de um primeiro tempo muito ruim do experiente Kyle Arrington, o treinador não teve medo de arriscar: Butler voltou como titular na segunda metade do Super Bowl.
- O segundo é que Brandon Browner tinha total consciência do que ia acontecer na famosa chamada da linha de uma jarda. Os Patriots literalmente treinaram essa jogada na semana do Super Bowl e, curiosamente, Butler cedeu um touchdown no treino. Browner não apenas aponta para Butler antes do snap o que vai acontecer como tem o momento mais subestimado de todos: ele segura Jermaine Kearse de forma perfeita, de modo que Kearse não consegue atrapalhar Butler no pós-snap. Dessa forma, o cornerback dos Patriots tem caminho livre para cortar na frente de Ricardo Lockette e fazer a interceptação mais importante da história da NFL.
Que os últimos anos não apaguem como Bill Belichick mudou a liga. Tom Brady e o treinador, naquela noite, afirmaram sua condição de melhores da história da NFL. A dinastia estava com a chama acesa novamente e ainda renderia belíssimos frutos para o New England Patriots, que se sagrou o grande campeão de uma das temporadas mais legais que já foi vista na história da liga.






