Foram 50 anos de espera entre a última vitória do Kansas City Chiefs no Super Bowl e o título mais recente da franquia, conquistado nesse domingo; ainda mais importante, foi o primeiro título da carreira de Andy Reid depois de mais de duas décadas como treinador principal na liga: ele assumiu o Philadelphia Eagles em 1998 e, apesar de 5 visitas à Final da Conferência Nacional, ele só chegou ao Super Bowl em uma delas, quando perdeu para o New England Patriots em 2004.
Num jogo que vai gerar mais questionamentos futuros sobre as decisões de Kyle Shanahan, o Kansas City Chiefs anotou 21 pontos consecutivos nos últimos 10 minutos de jogo para vencer o San Francisco 49ers por 31 a 20; o tão esperado duelo ofensivo entre Shanahan e Reid entregou tudo o que prometeu: criatividade, boa execução e, principalmente, emoção.
A decisão de San Francisco dar a bola à Kansas City no primeiro drive da partida foi interessante. Os 49ers costumam receber no segundo tempo quando ganham o cara-ou-coroa, contudo, toda decisão precisa ser tomada com um pouco mais de cuidado quando se está enfrentando Patrick Mahomes. Mesmo assim, os Chiefs não pontuaram – nem mesmo conseguiram um first down. Quando receberam a bola de volta, os campeões da NFC já tinham a vantagem no placar.
Por mais que o ataque aéreo dos Chiefs não estivesse voando naquele momento, o ataque terrestre estava tendo seus momentos – especialmente com Damien Williams. Depois, Kyle Shanahan declinou uma falta numa 2nd & 2 que voltaria Kansas City em 5 jardas, e os campeões da AFC converteram a 3ª descida na jogada seguinte. Mais na frente no mesmo drive, Andy Reid arriscou uma quarta descida na linha de 5. Sua coragem foi recompensada: a conversão veio e, duas jogadas depois, seu time estava na frente.
A defesa dos Chiefs começou a jogar cada vez melhor a partir de então. A atuação de Chris Jones foi fabulosa: com o plano de jogo de Shanahan focado em esticar o campo horizontalmente por meio de suas corridas em zona, o defensor parecia estar em todo lugar. Melhor ainda: no início do segundo quarto, Jones bateu o guard Mike Person com facilidade. Pressionado, Garoppolo tentou se livrar da bola. Não teve força o suficiente. Bashaud Breeland conseguiu o turnover e a defesa de Kansas City, tão criticada, apareceu.
Só que a partir daí o jogo tomou um rumo que parecia muito favorável pra Garoppolo e companhia: a defesa dos 49ers, que não deu nenhum segundo de paz para Mahomes no pocket durante todo o jogo, conseguiu forçar o field goal. Depois que o quarterback de San Francisco se redimiu, conectando com Kyle Juszczyk num touchdown de 15 jardas, Mahomes de novo foi parado sem pontos.
Foi quando Kyle Shanahan tomou uma decisão extremamente conservadora: com 3 tempos restantes e praticamente 2 minutos no cronômetro, ele não quis tentar um drive para ir para o intervalo com a vantagem no placar, chamando duas corridas consecutivas e gastando o tempo. Mesmo assim, Garoppolo conseguiu um grande avanço na terceira descida; na jogada seguinte, uma conexão longa com Kittle, que não valeu por uma marcação de interferência ofensiva do tight end na recepção. San Francisco 10, Kansas City 10.
O mundo é de Mahomes, nós somente vivemos nele
Os que apontavam os Chiefs vencedores, em sua maioria, não achavam que o elenco de Kansas City era mais forte que o de San Francisco; a aposta estava baseada no fato de Patrick Mahomes ser um quarterback muito superior à Jimmy Garoppolo e que, numa liga cujo passe é vital, a diferença de nível na posição mais importante do jogo iria pesar a favor da equipe de Reid. Foi o que aconteceu.
Quando os 49ers conseguiram anotar 10 pontos consecutivos e elevar a diferença no placar para duas posses, parecia que o jogo estava definido. Na campanha seguinte, outra interceptação de Mahomes, e o resultado já parecia quase que definido. Restavam menos de 9 minutos quando os Chiefs receberam a bola de novo e precisavam de sua maior estrela brilhar, exatamente o que aconteceu: primeiro, uma conversão de 3rd & 15 que, se mais um punt viesse, Shanahan certamente gastaria o relógio o suficiente para assegurar o título.
Mahomes anotou um touchdown conectando rapidamente com Travis Kelce; Garoppolo perdeu George Kittle livre numa terceira descida e os 49ers devolveram novamente a bola; Mahomes encontrou Sammy Watkins num ganho longo e, mais tarde na mesma campanha, outro touchdown – Chiefs 24, 49ers 20. Garoppolo não conseguiu liderar o drive da vitória e, por fim, Damien Williams pôs números finais chegando na end zone pela última vez.
Ele não foi o MVP da temporada, mas foi o MVP do Super Bowl, e é certo que Patrick Mahomes se importa muito mais com esse prêmio. Ele terminou a partida com 26 passes completos em 42 tentativas, que resultaram em 286 jardas, 2 touchdowns e 2 interceptações. A defesa de Robert Saleh foi excelente pressionando o quarterback dos Chiefs ao longo de todo o confronto – Nick Bosa, especialmente, fez Eric Fisher ter uma noite horrível -, mas não foi o suficiente para segurar o talento de um dos jogadores mais incríveis em toda a liga.
A espera acabou, torcedor dos Chiefs. 50 anos depois, a franquia finalmente venceu novamente o Super Bowl. 21 anos depois, Andy Reid finalmente venceu seu primeiro Super Bowl. E com Patrick Mahomes under center pelos próximos 15 anos, pode apostar que não vai ser o único.
