O Denver Broncos decidiu na quarta-feira que Russell Wilson não é mais o quarterback titular da franquia. A missão de liderar o ataque nas duas últimas semanas ficará com Jarrett Stidham, um eterno reserva que nunca se estabeleceu e que agora, digamos, ganhou a confiança de Sean Payton para dar um pouco de vida a unidade no final de temporada.
A mudança enterra qualquer possibilidade de se considerar que a troca por Wilson foi um sucesso para a franquia, mas não apenas isso: pela forma que as coisas foram feitas e como se desenha o futuro de Russell Wilson, tudo se torna questionável: o timing, as razões e os próximos passos.
Wilson não era obrigado a nada
A primeira coisa a se deixar claro aqui é que existe um claro declínio de qualidade do quarterback em relação aos tempos de Seattle Seahawks. Wilson, hoje com 35 anos de idade, perdeu muito de sua mobilidade e de seu atleticismo que facilitaram sua vida ao longo da última década, fazendo com que as jogadas explosivas improvisadas que chocavam o mundo há oito ou nove anos sejam muito mais raras. E como o próprio Sean Payton falou após a partida contra o New England Patriots, isso não pode nunca ser a base de um ataque.
A questão é que contratos existem para serem respeitados. E no caso de Russell Wilson, se ele tinha todas as garantias do mundo no acordo que assinou em setembro de 2022, bem, ele não tinha razão alguma para deixá-las de lado só porque o treinador quer. Com um relato de Jordan Schultz de que o time ameaçou colocar Wilson no banco há algumas semanas se ele não removesse as garantias por lesão de seu contrato, você pode descobrir a real motivação de Wilson ter ido ao banco: dinheiro.
37 milhões do salário do quarterback sem 2025 se tornam garantidos se ele não passar num teste físico no quinto dia do ano fiscal de 2024 (em meados de março). O motivo pelo qual os Broncos colocaram Wilson no banco é que, se ele se machucar nos dois últimos jogos e não passasse nesse teste, estariam presos por ainda mais tempo e com muito mais dinheiro. Negócios são negócios na NFL; a questão aqui é que, com o time 7-8, e com problemas ofensivos muito maiores do que Russell Wilson, colocá-lo no banco por uma opção não-provada é um movimento muito bizarro restando duas semanas para o fim do ano.
O fator Sean Payton
Um pouco da falta de talento ao redor do ataque é a quantidade de escolhas trocadas para juntar a dupla Russell Wilson-Sean Payton nos últimos dois anos. O curioso é que Payton (que, justiça seja feita, tem uma gigantesca história de sucesso montando ataques na liga) não pareceu nada interessado em montar seu ataque em volta do que Wilson faz bem. A estrutura geral da unidade não funcionava bem com Wilson, que pouco saia do pocket e nunca foi um craque comandando um ataque baseado em timing e ritmo. No-huddle? Pouco vimos também.
É a receita do fracasso. Um quarterback caro, com pouca mobilidade e em declínio, executando um sistema ofensivo que não combina com suas principais características e que, de quebra, fracassa em lhe dar peças que facilitem seu trabalho, vide o péssimo desempenho da linha ofensiva e a quantidade de vezes em que Wilson era pressionado pelo interior. O resultado foi um ataque ineficiente pelo segundo ano.
E agora?
É claro e evidente que Russell Wilson vai procurar uma nova casa em 2024 depois desse movimento. Os dois pontos é que 1) é muito difícil imaginar um time trocando por esse contrato megalomaníaco e 2) na (provável) dispensa do jogador, o time vai engolir gigantescos $85 milhões de dead cap, que podem ser distribuídos entre 2024 e 2025 caso o movimento seja designado como post-June 1. Ainda assim, é um tremendo valor a ser jogado fora.
Vale lembrar, também, que os Broncos não estarão em posição de draftar um quarterback de elite no topo da primeira rodada. Além dos problemas financeiros, a franquia não tem nenhum plano desenhado para o futuro e terá de arriscar em algum dos prospectos de menos badalação no meio da primeira rodada.
Em resumo: o Denver Broncos fez uma das piores trocas da história da NFL.
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