Top 5: As Cinco Melhores “Mentes” Ofensivas da História da NFL

O futebol americano está sempre em constante evolução. A cada ano, técnicos e coordenadores buscam pequenas alterações esquemáticas com o objetivo de vencer os ataques e/ou defesas adversários.

Alguns treinadores, nessa busca incessante, acabam criando (ou desenvolvendo) sistemas que se espalham por toda a NFL. Estes técnicos costumam escrever seus nomes na história da liga, como verdadeiros artesãos do futebol americano. São eles, juntamente com os jogadores, que moldam o esporte, fazendo da NFL o espetáculo que ela é hoje.

Hoje falaremos sobre alguns dos maiores desses treinadores no lado ofensivo. Todos eles, de alguma maneira, trouxeram para a NFL sistemas ou formações ofensivas que mudaram a maneira de se olhar para um ataque. Além disso, todos, em maior ou menor grau, se fazem presentes na liga até o dia de hoje.

Nesta lista caberiam muito mais do que cinco nomes. É provável que tenhamos sido injustos com alguns nomes que acabaram não estando presentes. Ainda assim, não há qualquer dúvida sobre o impacto que os cinco treinadores da lista a seguir tiveram (e ainda têm) sobre o jogo ofensivo na NFL.

Cabe lembrar que a ideia aqui não é falar sobre os melhores técnicos, mas sobre as melhores mentes ofensivas. Ao falarmos sobre melhores técnicos, outras coisas deveriam ser levadas em conta, como desempenho geral da equipe, não apenas no ataque, além que questões sobre motivação e manejo do elenco. Do outro lado da bola, por exemplo, Rex Ryan é uma excelente mente defensiva. Wade Phillips idem. Isso não quer dizer que eles estariam numa lista de cinco melhores head coaches da história só por conta disso.

Em tempo: a lista vem em ordem alfabética dos sobrenomes. Os técnicos a seguir não precisam de rankings, apenas de homenagens.

Paul Brown

Paul Brown talvez não seja um gênio dos “X e O” no que tange à criação de jogadas e esquemas inovadores. O técnico, que comandou o Cleveland Browns desde sua fundação em 1945 até 1962, trouxe para o esporte algumas inovações, como a corrida draw (em que o quarterback atrasa o handoff para o running back, deixando os defensores fora de posição, uma espécie de play action às avessas), mas seu impacto na própria profissão de treinador foi muito maior.

Paul Brown
Paul Brown

Brown trouxe organização para a equipe, em todos os aspectos. Organizava sessões de estudo de filmes dos jogos, treinava a equipe de maneira muito detalhada, formando uma equipe de coordenadores e estrategistas para ajudá-lo a melhorar o desempenho – algo inédito até então. Especificamente no quesito ofensivo, Paul Brown revolucionou o controle do treinador sobre o que acontecia em campo. Brown foi o primeiro a chamar as jogadas a partir da lateral do campo, definindo o plano de jogo conforme a situação e a atuação da defesa. Talvez o técnico tenha sido o principal responsável por fazer com que a estratégia pudesse sobrepujar a força física dentro do futebol americano.

Durante as partidas, Paul Brown se utilizava de diversas formações ofensivas, desde o tradicional single wing até às modernas (na época) formações T e I. O treinamento intenso dos jogadores permitia que a equipe executasse as diversas estratégias com precisão. Dentro das variações adotadas por Brown estava um sistema de proteção do quarterback pela linha ofensiva que se tornou quase um dos princípios do esporte. Ao fazer com que os tackles andassem para trás e para fora no início das jogadas de passe, o técnico criou nada menos que o pocket (bolsão de proteção do quarterback).

O Cleveland Browns ganhou três títulos da NFL sob o comando de Paul Brown, além de quatro da AAFC (liga alternativa em que os Browns foram criados, com três times absorvidos pela NFL). Aliás, supostamente, o nome da equipe foi dado em homenagem ao treinador, já famoso por seu trabalho no futebol universitário. Mas essa é uma história um pouco incerta, pois há uma versão que sugere que o nome dos Browns veio de Brown Bomber, apelido do pugilista Joe Louis.

De qualquer forma, Paul Brown colocou sua equipe homônima no mapa. Apesar disso, o técnico foi demitido em 1962, por conta de desavenças com Art Modell, novo dono da franquia. Futuramente, em 1968, Brown seria o sócio-fundador do Cincinnati Bengals, sendo técnico e general manager até 1975, quando se aposentou. Hoje o time pertence ao seu filho, Mike, e o estádio dos Bengals leva o nome de Paul Brown.

O "pocket" de proteção ao quarterback
O “pocket” de proteção ao quarterback (por ironia, é Johnny Manziel ali, um dos bustsrecebtes dos Browns)

Don Coryell

Em 1978, o San Diego Chargers estava em dificuldades. A equipe iniciou a temporada com uma vitória e três derrotas, quando a direção resolveu fazer uma mudança brusca. O técnico Tommy Prothro foi demitido, sendo contratado em seu lugar o ex-técnico do St. Louis Cardinals, Don Coryell. Nesta época, Coryell já era conhecido por sua predileção pelo jogo aéreo, mas em San Diego, surgiria um dos sistemas ofensivos mais importantes da história da liga: o Air Coryell.

Don Coryell
Don Coryell

Os Chargers já tinham uma história pregressa propensa à revolução que Don Coryell pretendia fazer. Nos 60, sob o comando de Sid Gillman, a equipe californiana foi a pioneira em usar o passe em profundidade como ferramenta principal de ataque. Entretanto, nada poderia se comparar ao impacto que a instalação do Air Coryell teria na equipe e em toda a NFL, não apenas naquele momento, mas até os dias de hoje.

A ideia de Coryell era simples: rotas longas e curtas em uma mesma jogada, baseada em timing preciso entre o quarterback e seus recebedores, acompanhada de uma progressão de leituras da rota mais longa para a mais curta. Agressivo, mas não tão diferente de outras modalidades de spread offense que você conhece hoje em dia. O que diferenciava o Air Coryell era sua simplicidade. A linguagem criada para descrever as rotas com números facilitava a compreensão e o trabalho dos recebedores. Por exemplo, ao chamar uma jogada de 825, todos já sabiam que o recebedor na esquerda do campo correria uma rota post (8), enquanto o recebedor à direita faria um rota comeback (5). O tight end, por sua vez, faria a rota shallow cross (20 – rotas dos recebedores internos iam de 10 a 90).

Utilizando o sistema de Don Coryell, o ataque dos Chargers se tornou o mais prolífico da liga, alcançando marcas impressionantes para a época. A equipe se classificou aos playoffs muitas vezes, mas nunca chegou ao Super Bowl. Muito disso se relaciona ao fato de que, durante o período que esteve sob o comando de Coryell, San Diego teve uma das piores defesas da liga. Seus próprios assistentes declaravam que o técnico nem olhava para a defesa, só se preocupando em aperfeiçoar seu sistema ofensivo.

As rotas numéricas de Don Coryell seguem em uso até hoje. Diversas equipes da atualidade se utilizam dos princípios do Air Coryell. Entre estas, podemos citar o Dallas Cowboys e o Minnesota Vikings, cujos ataques são comandados por técnicos que sofreram muita influência de Coryell: Jason Garrett e Norv Turner, respectivamente. Mesmo em outras equipes, dos mais diversos estilos ofensivos, a influência do sistema de Don Coryell está presente. Seja na terminologia ou no conceito de simplicidade e timing, o treinador alterou para sempre a paisagem ofensiva da NFL.

Provavelmente pela ausência de títulos conquistados, Don Coryell não está no Hall da Fama. Lá estão jogadores que floresceram em seu sistema (Dan Fouts, Charlie Joiner e Kellen Winslow) e técnicos que aprenderam com ele (Joe Gibbs e John Madden – ele mesmo). Não há dúvida que Don Coryell tem lugar entre os maiores de todos os tempos na NFL. Esperamos que esta injustiça possa ser corrigida em um futuro próximo.

A árvore de rotas numeradas do "Air Coryell"
A árvore de rotas numeradas do “Air Coryell”

George Halas

Poucos personagens gravaram seu nome na história na NFL como George Halas. O lendário jogador/técnico/dono do Chicago Bears criou a equipe e participou da fundação da NFL. Antes disso, Halas já havia sido MVP do Rose Bowl, jogando como como end (na prática, os receivers da época, mais defensive end, dado que não havia o sistema de pelotão duplo e quem jogava no ataque atuava na defesa também) e outfielder do New York Yankees! O treinador esteve no comando dos Bears de 1920 a 1967, com alguns anos de “folga”, em que foi apenas proprietário. No total, foram 40 anos como técnico da equipe, nos quais Chicago conquistou 6 títulos da NFL. Além disso foram outros 2 títulos como dono da equipe. Como ato final antes de sua morte, Halas contratou Mike Ditka – o qual fora seu atleta na década de 1960 – e aquele venceu o único Super Bowl dos Bears, em 1985.

George Halas
George Halas

Poderíamos falar muito sobre George Halas, mas aqui vamos nos focar no que o treinador trouxe de inovação ofensiva para a NFL. Além de ter vivenciado 4 décadas da evolução do futebol americano, Halas foi também um criador, alguém que soube olhar para trás para ir à frente.

Nos anos 30, o sistema predominante era o single wing, em que o snap ia diretamente para o running back, posicionado em algo que seria equivalente ao shotgun. O quarterback, em geral posicionado próximo ao guard, era, acredite, principalmente um bloqueador. O running back, por sua vez corria com a bola, às vezes dando passes curtos. Para superar um momento que seu time tinha dificuldade em avançar a bola, George Halas resgatou um dos mais antigos sistemas ofensivos existentes: a formação T.

A formação T foi criada praticamente junto com o futebol americano, no século XIX. Nesta formação, 3 running backs se posicionavam atrás da linha ofensiva, correndo e passando lateralmente a bola. Quando o passe para a frente foi permitido, a formação caiu em desuso, sendo substituída por sistemas como o já citado single wing. Em 1940, George Halas resgatou a formação T, utilizando o quarterback atrás do center, recebendo o snap diretamente em suas mãos. Assim, criou o ataque de passes mais elaborado até então.

O sucesso da formação T do Chicago Bears culminou na maior “lavada” da história da NFL. Na decisão do campeonato em 1940, Chicago venceu Washington por 73 a 0. Estava decretada a era da formação T e o fim o domínio do single wing.

Conforme já dissemos, as contribuições de George Halas ao esporte vão muito além de sua reinvenção da formação T. Este fato só corrobora seu status como uma das figuras mais importantes da história da liga. Hoje Halas dá o nome ao troféu entregue ao campeão da conferência nacional.

Wishbone - Variação da formação T utilizada por Halas
Wishbone – Variação da formação T utilizada por Halas

Vince Lombardi

O que falar sobre Vince Lombardi? O lendário técnico do Green Bay Packers, considerado por muitos o maior técnico da história, conquistou 5 títulos da NFL, incluindo os dois primeiros Super Bowls. Lombardi, é claro, hoje cede seu nome ao troféu entregue ao vencedor do Super Bowl.

Vince Lombardi
Vince Lombardi

Provavelmente o traço de Vince Lombardi mais frequentemente lembrado por todos seja sua personalidade forte. Lombardi exigia muito de seus jogadores, mas também dava muito em troca, na forma de entrega e dedicação. A obsessão de Vince Lombardi pela vitória acompanhou toda sua trajetória nos Packers, fazendo-o também conhecido por suas citações exaltando a importância de ganhar e a vergonha que era perder.

Às vezes isso pode ficar meio perdido por entre todo esse aspecto folclórico, mas Vince Lombardi foi um mestre do ataque, particularmente do jogo corrido. Ele soube como ninguém unir os princípios dos sistemas mais antigos, como single wing e wing-T, com estratégias mais modernas como os passes longos. Mas certamente, a jogada que definiu a carreira de Lombardi como estrategista ofensivo foi o Lombardi sweep.

O Lombardi sweep foi criado pelo treinador baseado em preceitos do single wing, como guards “puxando” (saindo de seu posto na linha ofensiva para abrir uma “avenida” de caminho para o running back) e corridas com mudanças súbitas de direção. Quando Vince Lombardi era coordenador ofensivo do New York Giants, imaginou esta jogada para o running back Frank Gifford. Mas foi em Green Bay, com os running backs Jim Taylor e Paul Hornung, além de uma poderosa linha ofensiva, que o sweep construiu sua história.

Na jogada, o quarterback faz o handoff para o running back, que se desloca para a lateral do campo. Ao mesmo tempo, os guards deixam seu lugar no meio da linha e “puxam”, ficando à frente do running back e realizando bloqueios. Ao mesmo tempo, o fullback e o tackle do lado da jogada precisam segurar os defensores que buscam perfurar a linha e para a jogada antes mesmo que ela comece.

Utilizando essa corrida aparentemente simples, Vince Lombardi reiterou dois de seus princípios quase “filosóficos” sobre o futebol americano. Primeiro, o que diz que o futebol americano sempre se baseará em vencer a batalha na linha de scrimmage. E segundo, como o técnico costumava gritar para seus corredores “Corra para a luz do dia!!”, ou seja, o running back precisa achar um espaço aberto para conquistar jardas.

O legado de Vince Lombardi vai muito além do sweep, mas seu papel no fortalecimento da importância do power running game segue incomparável.

Sweep com o right guard "puxando"
Sweep com o right guard “puxando”

Bill Walsh

Para finalizar a lista das cinco maiores mentes ofensivas da história da NFL, não poderíamos deixar de falar do criador da West Coast Offense, Bill Walsh. O sistema, criado em Cincinnati nos anos 70, onde Walsh era assistente, segue presente até hoje na liga, com alguns de seus conceitos fazendo parte de todos os ataques da NFL.

Bill Walsh
Bill Walsh

Bill Walsh iniciou sua carreira na NFL como assistente ofensivo de Paul Brown no Cincinnati Bengals. O quarterback dos Bengals, Virgil Carter, não tinha um braço muito potente, mas era rápido e ágil. Para melhor se adaptar às características de Carter, Walsh desenvolveu um sistema ofensivo baseado em passes curtos e que esticassem lateralmente a defesa. Desta forma, seria mais fácil obter ganhos maiores no jogo corrido, além de coberturas favoráveis para passes mais longos.

Essa ideia invertia o padrão tradicional dos ataques da NFL, em que utilizava-se o jogo corrido para abrir as janelas para o passe. O sistema de Walsh obteve sucesso em Cincinnati, principalmente após a chegada do quarterback Ken Anderson, que viria a ser MVP da NFL em 1981. Mas, nesse momento, Bill Walsh já tinha saído dos Bengals. Em 1979, foi contratado com técnico do San Francisco 49ers, tendo logo no seu primeiro draft, encontrado o quarterback perfeito para a nascente West Coast Offense: Joe Montana.

A inteligência e precisão de Montana fizeram o sistema decolar. Utilizando-se cada vez mais de rotas baseadas em timing, além de dropbacks curtos, Bill Walsh fez da West Coast Offense e do San Francisco 49ers máquinas de marcar pontos, gerando pesadelos nos coordenadores defensivos por toda a liga. Ao término do período de Bill Walsh como técnico dos Niners, a equipe havia conquistado três Super Bowls e Joe Montana já era um dos melhores quarterbacks da história.

Bill Walsh pode ter saído da liga, mas a West Coast Offense jamais a deixaria. Juntando-se a outras tendências, ou modificando-se ao longo do tempo, a criação de Walsh segue sendo parte fundamental do futebol americano praticado hoje.

montana
Joe Montana, o quarterback perfeito para a West Coast Offense

É muito bom e importante lembrar dos gênios que lapidaram o esporte, moldando a NFL dos dias de hoje. Certamente, em alguns anos, será possível acrescentar a esta lista nomes que ainda estão na ativa. Sean Payton, Jim Harbaugh, Bruce Arians são alguns dos nomes que vem à mente. Mas isso, o futuro, que começa logo ali em setembro, é quem dirá.