A troca que deixou o mundo da NFL de queixo caído na última segunda-feira deixará rastros de sangue inextinguíveis em Houston pelos próximos anos. Bill O’Brien cometeu diversas atitudes questionáveis desde o momento que assumiu o cargo de general manager, como a cara aquisição de Laremy Tunsil e a troca de Jadeveon Clowney que rendeu uma mixaria à equipe na intertemporada passada; sua última atitude, contudo, supera todos os erros anteriores e se tornará o símbolo de pior troca da NFL na última década.
O envio de DeAndre Hopkins ao Arizona Cardinals em troca de David Johnson e uma escolha de segunda rodada mina qualquer anseio positivo do ano de 2020 para o Houston Texans e aloca o futuro da franquia em uma região de incerteza e temor. O técnico e dono da equipe – afinal, não há quem freie O’Brien dentro da estrutura de Houston – mostra-se cada vez mais confortável em ignorar jogadores talentosos em prol de manter na equipe os nomes que apetecem os seus desejos e que não batem de frente com suas ideias no ambiente interno. Hopkins, afinal, foi trocado por confrontar o técnico em diversas ocasiões e por demandar um salário maior, ainda que restasse três anos em seu vínculo com a equipe.
Em uma divisão que se mostra mais uma vez conturbada para a próxima temporada, os Texans projetavam-se como favoritos ao título após um 2019 positivo, mas que requeria uma intertemporada bem direcionada. A chegada de Johnson e a saída de Hopkins, todavia, colocam um breu sobre o ano que está por vir; restando, apenas, uma única certeza: com Bill O’Brien no comando, Houston é um local em que os fracos não têm vez.
A volta dos que não foram
Quando O’Brien, há algumas semanas, indicou que o coordenador ofensivo,Tim Kelly assumiria o comando das chamadas ofensivas da equipe em 2020, as expectativas foram boas. A mudança no cargo seria benéfica ao ataque, pois traria uma inovação à unidade – deixando de lado o DNA terrestre que o técnico tanto tentou instaurar – e agregaria maior responsabilidade aos jogadores-chaves do elenco, sendo Hopkins um desses nomes.
A chegada de Johnson, entretanto, muda o paradigma que prometia ser instaurado e leva a crer que, na verdade, o ataque de Houston continuará preso ao passado. A troca reforça o alto desejo de O’Brien pela aquisição do running back e implica que o manda-chuva continuará tendo influência primordial na construção do plano de jogo ofensivo e que a base do ataque de Houston continuará sendo o jogo terrestre. Assim, O’Brien não apenas negligencia todos os problemas que foram apresentados nas últimas duas temporadas, mas, principalmente, reduz o potencial ofensivo da equipe e, consequentemente, mina o crescimento de Deshaun Watson como quarterback.
Johnson realizou uma excepcional temporada em 2016, mas se lesionou na primeira partida de 2017 e nunca mais foi o mesmo correndo ou recebendo passes, um de seus pontos fortes. Ainda assim, com o técnico bancando a contratação, o running back deve receber a bola muitas vezes por partida e os principais pontos que deveriam ser, finalmente, desenvolvidos no ataque dos Texans serão deixados de lado: como os RPOs, os play-actions e, principalmente, um jogo aéreo bem construído que contasse com a presença de Hopkins e sua conexão precisa com Watson. Um dos ataques mais promissores para 2020 tornou-se abaixo da média em um estalar de dedos.
Destruição interna de uma mente (com) lembranças
Quando anunciei que a troca de Hopkins era um indício do fim do promissor futuro dos Texans, não era um exagero. A menos que um milagre improvável aconteça em 2020, o ano será um fracasso completo para a franquia e qualquer expectativa futura irá embora, o que nos leva ao pior dos cenários: quais seriam os motivos pelos quais Deshaun Watson renovaria com a franquia?
O quarterback sacrificou sua saúde por anos ao ver sua linha ofensiva sendo negligenciada, viu O’Brien diminuir seu potencial em um esquema tático que não fazia sentido e, mesmo assim, mostrou talento para levar a equipe aos playoffs por dois anos consecutivos – incluindo uma virada épica contra o Buffalo Bills, em que Watson demonstrou possuir todas as qualidades tangíveis e intangíveis requisitadas por um quarterback.
Ainda assim, a comissão técnica o sabota e retira seu principal alvo dentro de campo por brigas internas, contratando Randall Cobb (!) como peça de reposição. É pouco, muito pouco. Não há por que Deshaun se prender a Houston enquanto pode ir a uma equipe que possui uma estrutura que, realmente, privilegiaria seu talento e aproveitaria enquanto esse é jovem. Após isso, todo o restante se desmancharia como em um efeito dominó. Por uma troca errada, os Texans podem perder tudo o que construíram desde a chegada de Watson em 2017, após anos sofrendo sem um quarterback de verdade e buscando amparo em sólidas defesas – para os anos a vir, contudo, não há uma defesa para segurar a barra.
O’Brien não é um marujo de primeira viagem, ele passou por erros como técnico e general manager mais de uma vez e, mesmo assim, resolveu repeti-los nesta free agency. Errou com Brandon Brooks, errou com Duane Brown, errou com Jadeveon Clowney, errou com Laremy Tunsil e continua errando, agora, com Deandre Hopkins. Aos poucos, O’Brien continua destruindo Houston por dentro, mesmo sabendo que o destino final de sua teimosia e infindáveis decisões ruins é, sem dúvida, uma tragédia.
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