Na última quarta-feira, Eli Manning decidiu colocar um ponto final em sua bela e vitoriosa carreira de 16 anos. Era um desfecho esperado, dada a ideia do New York Giants de seguir a vida agora com Daniel Jones, um plano posto em prática desde a semana 3 da temporada regular, quando o calouro assumiu a titularidade do time. Eli não queria ser reserva nesta altura da carreira, tampouco demonstrou interesse em assinar com outra franquia, logo a aposentadoria era o caminho natural.
A despedida dos gramados em si, não foi exatamente como ele merecia: um melancólico duelo contra o Miami Dolphins na semana 15, reunindo duas equipes ruins que não brigavam por absolutamente nada na temporada – a não ser uma posição mais alta no Draft. Manning terminou com 20 de 28 passes completos para 283 jardas, 2 touchdowns e três interceptações, números nada de extraordinários, mas pelo menos suficientes para lhe permitir se despedir com uma vitória por 36 a 20 na última partida de sua vida.
Eli pendurará as chuteiras como o maior quarterback da história do New York Giants, uma escolha óbvia ao Hall da Fama da franquia e a ter sua camisa aposentada – como de fato já aconteceu. Além disso, também entrará para a história como um dos casos mais polêmicos de candidatura ao Hall da Fama do futebol americano profissional. A interminável discussão sobre o merecimento ou não de Manning pertencer ao grupo de imortais do esporte é um tema comum há algum tempo e, sem dúvida, pegará fogo agora que ele se aposentou oficialmente.
Estatísticas dão argumentos contra e a favor, mas não é só isso que importa na discussão
Você pode usar as estatísticas de Eli como quiser, contra ou a favor a ele ir para Canton, e você não estará errado.
Por um lado, Manning nunca liderou a liga em jardas ou passes para touchdown, porém já a liderou em interceptações três vezes. Excesso de turnovers, aliás, é a grande mácula de sua carreira, afinal ele era o quarterback em atividade com o maior número total de interceptações (244) – o que faz o seu rating ser de 84.1, apenas o 45º melhor da história. Além disso, seu record pessoal 117-117 e o fato de só ter ido aos playoffs uma vez nas últimas oito temporadas também não impressionam ninguém.
Contudo, vamos colocar essas informações em perspectiva. Vários signal callers históricos nunca tiveram estatísticas monstruosas e nem lideraram a NFL jardas aéreas, mesmo em suas respectivas épocas, quando o foco do jogo era muito mais terrestre do que hoje – nomes como Terry Bradshaw, Len Dawson, Bob Griese e Troy Aikman. Mesmo assim, isso não os impediu de serem eleitos ao Hall da Fama.
Já em relação ao retrospecto, Eli possuía um honroso record de 78 vitórias e 57 derrotas até 2012, nunca terminando com uma campanha negativa desde 2005, seu primeiro ano como titular em tempo integral. Seu declínio coincidiu exatamente com o período de declínio da franquia, a qual tomou decisões ruins e montou times cada vez piores até chegar ao atual fundo do poço. É claro que uma coisa está ligada à outra e todo mundo tem a sua parcela de responsabilidade, mas seria injusto considerar Eli o único culpado pelo fracasso dos Giants nos últimos oito anos.
Agora, pensando nas estatísticas que jogam a seu favor, Manning é o 7º da história em jardas aéreas (57,023), passes para touchdown (366) e passes completos (4,895) – e todo mundo elegível com mais de 50.000 jardas e 300 touchdowns entrou para o Hall da Fama.
Mais importante do que isso, ele é apenas um de seis quarterbacks a ganhar e ser eleito MVP de dois ou mais Super Bowls. Eli também pertence ao grupo de 12 signal callers com dois anéis de campeão, sendo que dos oito nomes atualmente elegíveis a Canton, sete foram escolhidos – a única exceção é Jim Plunkett. E, claro, como todo mundo se lembra, foram conquistas monumentais, com direito a vitórias épicas na finalíssima sobre o temido New England Patriots de Tom Brady e Bill Belichick.
Enfim, como dissemos antes, você pode usar as estatísticas para defender o ponto de vista que quiser. A única coisa que você provavelmente não deveria fazer é usar os números para afirmar que a carreira de Eli foi normal – ou seja, que ele não fez nada de especial na NFL. Não existe nada de normal em ser líder de uma franquia por 15 anos, disputar quase 250 jogos como titular e vencer dois Super Bowls sobre o New England Patriots.
A propósito, muitas pessoas argumentam que ele não foi o personagem principal dos títulos, dizendo que a defesa foi a maior responsável pelas vitórias. Isso não é verdade. É óbvio que a defesa teve um papel fundamental parando Tom Brady, mas Eli foi brilhante durante aquelas duas pós-temporadas inteiras e fez jogadas decisivas quando mais se precisava dele, como o “Helmet Catch” em 2007 ou o inacreditável passe para Mario Manningham no Super Bowl XLVI.
Por fim, para encerrar essa parte da discussão, qual seria exatamente a definição de “carreira normal” na NFL? Vamos pensar em Andy Dalton, apontado por muito tempo como o sinônimo absoluto de mediocridade na posição de quarterback. Se Dalton é um signal caller normal – ele, Derek Carr, Matthew Stafford e outros com carreiras boas, mas não gloriosas –, então o que podemos dizer de uma carreira como a de Manning? Ele não é alguém obviamente acima da média?
O que realmente faz de Eli um Hall of Famer?
A melhor comparação com o legado de Eli provavelmente seja o de Troy Aikman, quarterback três vezes campeão do Super Bowl com o Dallas Cowboys nos anos 1990. Aikman, que também jogou em uma época insana no quesito quarterbacks talentosos, nunca chegou perto de ser o melhor da sua posição e nem colecionou estatísticas espetaculares, mas não teve problemas em entrar para o grupo de imortais do esporte. Por quê? Provavelmente porque ele foi um dos principais símbolos do Dallas Cowboys por uma década, umas das caras da dinastia conseguida pela franquia.
Os Giants obviamente não tiveram uma dinastia igual a de Dallas, mas Manning foi o símbolo da organização por 15 anos, um período que bem ou mal rendeu dois Troféus Vince Lombardi. Um símbolo de liderança, ética, trabalho duro e profissionalismo. Eli nunca deixou de ser profissional um segundo sequer, mesmo quando foi injustamente barrado por Ben McAdoo ou então quando perdeu a posição para Daniel Jones. Aguentar a pressão de ser o quarterback na equipe do maior mercado consumidor dos Estados Unidos, sob escrutínio de torcedores e analistas 24 horas por dia e sete dias por semana durante 16 anos, é para poucos. Nesse aspecto, Manning foi o Derek Jeter, ex-jogador do New York Yankees, do futebol americano.
Some isso às suas conquistas, momentos inesquecíveis dentro de campo, o seu evidente talento natural e o fato de nunca ter perdido uma partida por lesão ou suspensão e temos a receita de um Hall of Famer.
Eli pode não ter sido o maior de todos – ele nunca foi Tom Brady, Drew Brees ou o seu irmão mais velho Peyton Manning -, mas foi um dos grandes da sua geração. Ele não redefiniu o esporte ou mesmo a sua posição como outros o fizeram, mas fez mais do que o suficiente para ser lembrado como o dono de uma carreira excepcional. O lugar de Eli Manning é no Hall da Fama.







