Imaginem comigo o seguinte cenário: você, aos 21 anos de idade, é selecionado como o clarão de esperança para uma franquia recém-transportada para o gigantesco mercado de Los Angeles. Como quarterback, recai sobre seus ombros a obrigação de levar o time à glória, rechaçando fracassos recentes na posição, como Case Keenum, Sam Bradford e Nick Foles.
No seu ano de calouro, o frenesi midiático rapidamente lança o termo bust sem a menor paciência. Troca-se o treinador, e então chega a temporada 2017. Com a nova mente ofensiva no comando das chamadas, conquista sua primeira vitória profissional, e mostra sinais drásticos de crescimento: um esquema que te deixa confortável, permite que você desenvolva seus melhores talentos, e os resultados fantásticos – pós-temporada em 2017, e o privilégio de disputar o Super Bowl LIII contra ninguém menos que o dinástico New England Patriots.
E deste ponto em diante, as coisas degringolam. O duelo contra a defesa de Bill Belichick expõe as fragilidades não só do sistema do seu aclamado técnico, mas suas próprias limitações – dificuldades em lidar com pressão interna da linha defensiva, desconforto fora do play action, inconstância nas leituras. Bem ou mal, você segue duas temporadas como titular, tem rompantes da sua melhor forma, mas não desabrocha como um dos líderes da posição na NFL. Em 2021, você é trocado para um Detroit Lions em plena reconstrução, para, no dia 24 de outubro de 2021, enfrentar seu ex-time e ex-treinador, surfando a onda de um ataque explosivo sob a batuta de Matthew Stafford.
Tenho certeza que tudo isso passou pela cabeça de Jared Goff na tarde de domingo, antes de entrar em campo no SoFi Stadium, seu retorno à Califórnia. Vendo Matthew Stafford explodir pelo Los Angeles Rams, inevitável pensar no outro lado da troca: o que o futuro reserva ao camisa 16?
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Primeiramente, é importante termos em mente que ser um quarterback é o trabalho mais demandante e que é realizado sob o maior escrutínio de todos os esportes. Tanto é verdade que não existem trinta e dois profissionais de excelência na posição – franquias vivem em busca de um signal caller minimamente viável para que busquem a glória do Vince Lombardi. Nem todos podem ser Tom Brady ou Patrick Mahomes – e não há nada de errado nisso.
A partida de Jared Goff contra o Los Angeles Rams demonstra um quarterback capaz de comandar um ataque no nível profissional com qualidade. Claro, isso é o óbvio ululante, dado o sucesso do camisa 16 nos anos em Los Angeles. O ponto é que, num time que busca uma nova identidade, Goff não chegou como o salvador da lavoura, mas como um quarterback experiente e capaz de liderar a equipe na era Dan Campbell. Na tarde de ontem, vimos um ataque com peças talentosas no backfield – em especial D’Andre Swift – e o confiável T.J. Hockenson, bastante ancorado em tentativas terrestres, draws, explorando play actions e operando mais próximo da linha de scrimmage do que arriscando em passes longos. Vimos a cadência do ataque em diversos momentos, ainda que a dificuldade em terceiras descidas tenha aparecido; observamos, dentro do two-minute drill antes do terceiro quarto, Goff lançando bolas em espaços mais apertados, um dos calcanhares de Aquiles para o produto da Universidade da Califórnia.
Ainda tem como render?
Ainda que as dificuldades e limitações sejam evidentes, o papel de Jared Goff é capitanear uma mudança de cultura no Detroit Lions. Prefiro aqui pensar no panorama dos próximos anos do que no passe ruim numa terceira para sete, que poderia ter resultado no segundo touchdown de D’Andre Swift no jogo. Saísse o time ontem 1-6 ou 0-7, o prognóstico seria o mesmo.





