Há mais ou menos 10 temporadas, ensaiava este texto anualmente para o site. Ensaiava e colocava-o em prática, ao menos por algumas semanas ou meses. Um texto de despedida, dado que financeiramente o site não teria como ser minha profissão de fato – acreditava, à época, que seguir carreira jurídica seria o que Deus havia reservado para mim e que assim deveria ser.
Tantas e tantas vezes, no ônibus ou tomando banho, ensaiava: este é meu último ano no site. Depois, que seja o que Deus quiser. Ele, porém, quis que continuássemos nesta missão porque ainda haveria muita coisa a ser feita.
Hoje, porém, digo adeus ao ProFootball. Foi uma história linda, de 12 anos. Fundei o site, ainda com o nome de The Concussion (para alertar sobre a existência da lesão, não como uma apologia a ela, óbvio) justamente na data de meu aniversário em 2011. A ideia era apenas para me distrair de uma briga com minha então namorada.
Mas, para falar a verdade, a ideia era apenas ter alguém para conversar sobre futebol americano. No meu ano da faculdade, havia cerca de 70 e poucos alunos. Fora eu, nenhum deles gostava de NFL. Dessa necessidade, germinou uma terapia em formato de vocação: escrever aqui para vocês. Nesta mais de uma década, foram facilmente mais de 3000 textos escritos entre crônicas, prévias de jogo, análises pós-rodada e todo o mais. Ainda, literalmente centenas de episódios de podcasts – moda que entramos muitos anos antes de ser moda, mais pelo quê da comunicação e do prazer do rádio do que qualquer outra coisa mais.
Sempre prezei pela forma. Orgulho-me de ver que o site é profundamente mais profissional do que no ano anterior e no ano anterior deste. Todas essas mudanças, bem como logos e design da página, fiz pessoalmente ao passar desse tempo todo. Fiz com esmero e sabendo da importância da missão que tínhamos.
Provavelmente, diante de tantas “coisas bonitas” que estou escrevendo aqui, você poderia se perguntar por que, então, deixar a cria. Justamente porque, tal como um filho, sinto que ele precisa andar por si pelo mundo. O sentimento hoje, ao contrário do que acontecia há oito ou nove anos às vésperas de entregar meu TCC e ter q ue prestar OAB, é que a missão foi cumprida.
O que eu poderia fazer pelo ProFootball e pela NFL em cobertura diária na mídia escrita, sinto que já fiz. Ao passo disto, outras tantas empreitadas foram crescendo e honestamente, preciso ter mais qualidade de vida e focar em novas andanças para manter as coisas frescas, azeitadas e todo o mais. Quando comecei o site, ao final de 2011, ele era filho único. Hoje, para além dele, tenho o ESPN League duas vezes por semana, um canal do YouTube com dois vídeos ou mais por dia, o podcast na ESPN com o Narda, as transmissões da Major League Baseball e… Não tenho mais meus novos projetos de livros.
Escrevi três, nesses anos. Sinto falta de poder voltar a escrevê-los e como editor-chefe e redator do ProFootball, somado às outras obrigações do dia-a-dia, ficou impossível. Escrever um livro é como uma gestação. São (pelo menos) nove meses carregando ele dentro de si. Quero poder voltar a fazer e sentir isso.
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Quando comecei, nas primeiras semanas, era apenas eu e eu mesmo. Logo, fiz um “processo seletivo” para trazer mais pessoas e uma delas ainda está conosco, mesmo depois de tantos anos. Henrique Bulio era um adolescente quando entrou no site. Foi uma decisão um tanto quanto irresponsável na época, mas via e ainda vejo bastante de mim nele. Provou-se a decisão correta. Hoje, ele é formado em jornalismo e segue com a gente, tendo uma participação maior após minha saída.
Muitos me perguntam como conheci o Deivis, fato é que em carne e osso foi apenas há algumas semanas. Não me lembro como ou quando exatamente conheci seu trabalho com o Draft, mas sabia que era importante ter alguém da vivência diária do futebol americano nacional conosco e com vontade de trabalhar duro. Por todos esses anos, foi o que aconteceu e fico feliz por nossos caminhos terem cruzado. Assim como aconteceu comigo, seus textos no início e hoje são água e vinho. Junto do Bulio, ele estará tocando as coisas por aqui.
Ainda, também contribuindo, Roberto Guraib, um dos melhores seres humanos que há conheci e que faz de tudo para conciliar a vida no comércio tocando o negócio da família ao mesmo tempo que encontra tempo para escrever aqui.
Não sei como a equipe ficará para além desses companheiros nesta última jornada, mas espero que siga crescendo. Muitos nomes e pessoas vieram e saíram daqui pelos mais variados motivos, agora eu faço parte deles. Alguns, como o Jean, o Murilo e o Eduardo Miceli, foram seguir outros sonhos profissionais como agora o faço. Outros tantos passaram, como o Bassi, o Felipe, o Rafael, o João Guilherme, o Rodrigo, o Gabriel, enfim, honestamente não teria como agradecer a todos com medo de por ventura esquecer alguém. Meu sincero agradecimento a todos e minhas desculpas se lhes magoei de alguma forma no caminho.
Não poderia deixar de terminar com um agradecimento imenso a você, leitor – especialmente a você que é assinante – por me aturar em tanto e tanto tempo. A maior parte das pessoas que me acompanha acabou por “me descobrir” nas transmissões de NFL ou MLB, no podcast, no YouTube. A vocês, porém, tenho um agradecimento a mais porque você acreditou em mim lá atrás, quando ninguém acreditava – nem eu mesmo, talvez. Obrigado por permitir que eu fizesse parte de sua aula chata de matemática, do pós-almoço em que você tinha batido uma feijoada e precisava descansar antes de trabalhar, do trajeto longo de volta para casa no metrô. Rogo para que você siga acompanhando meu ofício nas outras mídias.
Para quem gosta de meus textos, eles de alguma forma voltam com os livros num futuro tão distante. A verdade, para ser muito sincero, é que há algum tempo sentia que não estava fazendo tudo como deveria ser feito. Sou muito perfeccionista e as coisas não estavam andando redondas em todos os lugares da forma correta. Comecei e matei muitas colunas aqui por falta de tempo. Em outubro, com a temporada da MLB pegando fogo e transmissão pra tudo quanto é lado, ficou quase impossível tocar o site da forma que eu queria – 150%. Não sinto que algo estava sendo mal-feito e tampouco creio que você ache isso. Mas não admito, para mim mesmo, que algo não seja feito acima dos 100%. E pela quantidade enorme de coisas que acabaram aparecendo na minha vida profissional desde que o site foi criado, não haveria como dar 150% em tudo.
Preciso confessar, também, que não sinto mais a mesma paixão pelo ofício da cobertura diária em mídia escrita. Depois de tantos anos fazendo isso, em alguns momentos ficou mais repetitivo do que eu gostaria. Percebi há alguns meses que escrever um texto com prazo curto passou a ser mais difícil do que era há algum tempo. Encarei isso como um sinal.
Estou cansado.
Não cansado de triste, mas de exaustão mesmo. São 12 anos escrevendo diariamente, sem descansar nem mesmo na intertemporada. Quando as transmissões da MLB surgiram em minha vida, há 5 anos, esse cansaço cresceu de maneira exponencial. Eu sei que pode parecer que não ou que sou um vagal por reclamar disso, porque minha cobertura é fragmentada em vários locais e dificilmente alguém acompanha todos e percebe a avalanche que tento com muito carinho produzir.
Não descarto que no futuro eventualmente possa ter um blog em algum lugar ou algo assim, uma newsletter semanal, mas sinto que especialmente aqui em ProFootball, com os textos e o podcast, minha missão se encerra. Sem arrependimentos.
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Como disse, quero poder voltar a escrever livros com calma, crônicas com mais frequência – que serão postadas em meu instagram – e redigir documentários históricos para meu canal do YouTube. Criar cursos sobre futebol americano, beisebol e quem sabe poder ensinar o que aprendi sobre comunicação e jornalismo para mais pessoas. Em formato de imagens com pílulas de opinião, meu trabalho em escrita seguirá de alguma forma. Aqui, porém, cessará.
O foco, agora, fica maior nos outros trabalhos ao passo que o que segue terá mais tempo, atenção e esmero de minha parte. Ao mesmo tempo, minha saída permitirá mais espaço aqui para que outras pessoas possam ter essa experiência gigantescamente linda e de aprendizado que tive nos últimos 12 anos. A escrita é a base da comunicação. Aqui, consegui melhorá-la, ver o que funcionava, o que não funcionava e carrego-a comigo para as empreitadas que seguirão.
A quem quiser continuar acompanhando meu trabalho, sigo na ESPN, no YouTube e nas minhas redes sociais. O podcast do ProFootball volta das férias com o Deivis e o Bulio e seguirá como antes – apenas com a diferença que não terá a minha presença. Eles seguirão tocando o site com o maior profissionalismo possível e tenho certeza que ele estará melhor do que já esteve um dia comigo.
Não, não vou meter o Tom Brady e voltar daqui três semanas. Meu sentimento é realmente de missão cumprida. Senti a mesma coisa quando me “aposentei” do time de handebol da faculdade, ou mesmo quando me formei em Direito. On to Cincinnati.
No fundo, textos são só palavras e uma tela. O que realmente importou em todos esses anos foram as pessoas. Era o objetivo no início. Já fiz aqui, entre ajudar a lapidar textos e escritas, incluindo as minhas, o que tinha que fazer e sinto-me imensamente grato pelas parcerias no dia-a-dia, pelos milhares de leitores que aqui passaram. Nada mal para quem não tinha ninguém para conversar sobre NFL.
Fizemos todo o estrago que podíamos;
Antony Curti
12 de abril de 23.





