Crônica: Onde estão os quarterbacks que costumávamos conhecer?

Matt Ryan e Russell Wilson simplesmente parecem ter deixado alguma coisa no caminhão de mudança de Seattle e Atlanta. O Thursday Night Football foi uma grande demonstração do que um ataque não tem que ser na NFL

Mudanças são difíceis. É por meio delas que as pedras são esculpidas com anos e anos de ondas batendo. É por meio delas que os continentes se formaram, afastando-se numa dança eterna. A mudança é difícil porque ela traz consigo o que é incerto. E se é incerto, é desconfortante, porque não é familiar. 

Russell Wilson e Matt Ryan passam por uma mudança. E seu novo ritmo, ainda não encontrado numa cidade nova, é o mesmo de tantos nós que já tivemos que mudar de cidade algum dia por trabalho ou qualquer outro motivo. As coisas não clicam como no papel deveriam ou poderiam. 

Tom Brady passou por isso em seus primeiros jogos em Tampa, Peyton Manning passou por isso nas primeiras semanas em Denver. Os dois acabariam passando também. O Thursday Night Football da Semana 5, depois de um mês com cada um se ambientando, seria o Rio Rubicão para Matt Ryan e Russell Wilson. Um deles, inevitavelmente, venceria na quinta e o outro poderia acabar ficando pelo caminho. 

Quem perdesse, certamente estaria com campanha negativa e sem rumo ao favoritismo na divisão. Com os dois ataques jogando mal e com desfalques, caberia a um deles resolver a parada. Quarterbacks não jogam ao mesmo tempo no campo. No ar que pairava sobre Denver, porem, psicologicamente seria o caso na abertura da Semana 5. “É muito simples: no final do dia eu preciso jogar melhor”, disse Wilson. “Preciso jogar melhor, deixei o time pra baixo hoje, mas uma coisa que eu sei de mim mesmo é que vou responder a isso”, completou.

No início do segundo quarto, Wilson tinha 8/14 para 64 jardas. Ryan, 3/6 para 30 jardas.  Bem de acordo com os inícios ruins de temporada de ambos. O novo quarterback do Denver Broncos entrou a Semana 5 como o 22º em rating. O novo quarterback do Indianapolis Colts, como o 23o em rating. As expectativas dos fãs de Broncos e Colts, alinhados na história por um dia terem tido Peyton Manning, era de ter um quarterback top 10 da NFL em 2022. Os dois estavam sendo um quarterback entre os 10 piores do primeiro mês de temporada. 

Ficou claro, naquele início horroroso, que os dois ataques se equivaliam em ruindade e talvez a partida não fosse decidida na grandeza de um dos dois. Mas na fraqueza que eventualmente fosse mostradas.  Ao final do segundo quarto, as coisas não pareciam dar sinais de que iriam melhorar. Ryan estava sendo pressionado em mais de 50% dos recuos de passe. Wilson não tinha nenhuma sintonia aparente com seus recebedores. Depois de praticamente um tempo inteiro de um péssimo futebol americano e a bola batendo no chão quase todo passe, os dois quarterbacks tinham 7 passes combinados para mais de 10 jardas. 0 completos, 0 jardas, 1 interceptação. 

Aí veio outra interceptação de Ryan, ele ficou em sentido de descrédito na sideline, o torcedor dos Broncos vaiou o ataque na sequência e, enfim, foi tudo horrível. As defesas têm sim seu mérito. Stephon Gilmore fez um final de 4º período impecável, sendo crucial em duas grandes jogadas. Os Broncos pressionaram Ryan em snap sim, snap não. Mas a questão é que a culpa maior foi dos ataques.

Mudanças ou não, Matt Ryan e Russell Wilson estão desapontando nesse início de temporada. Estão irreconhecíveis e parecem quarterbacks que não conhecemos. Pode até melhorar, mas nada indica que será o suficiente. Seja por fé ou regressão à média, vai melhorar. Mas colocar Denver e Indianapolis numa final de AFC hoje é um completo devaneio. Até porque, para chegar lá, eles vão ter que anotar pelo menos um touchdown.

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