Uma das coisas que mais me incomodam são estádios sem uma destinação fixa.
Não é barato manter um estádio. Precisa só pagar conta de luz? Não, tem limpeza, conservação, manutenção, cuidados com o campo de grama. No caso de um estádio público, esse dinheiro vem direto do seu bolso. Ah, mas eu sou isento de imposto de renda! Bom, se o estádio for estadual você paga sempre que comprar algo (ICMS). O que é bem público tem que ter esta destinação: o público, e não uma oligarquia.
Ontem a noite fiquei (positivamente) surpreso com a notícia, na home do UOL, de que o Pacaembu sediará uma partida de rúgbi ao final deste mês, dia 30, quando a seleção brasileira da modalidade jogará contra a chilena pelo sul-americano. Com ingressos gratuitos, a partida espera bater (ou chegar perto) do recorde estabelecido em dezembro do ano passado – 10 mil torcedores.
Ora, o paradigma foi estabelecido. O preconceito tosco de “tackles estragam a grama” não faz o menor sentido. Chutar uma bola de futebol, com a chuteira arrastando na grama, arrasta tanto quanto – ou mais, se pensarmos que é uma chuteira com travas ao oposto de um corpo de camiseta caindo.
O Pacaembu é um estádio municipal sem mandante fixo. Corinthians, Palmeiras e São Paulo – os três maiores clubes de futebol – têm seus estádios próprios. O último estava jogando no Municipal por conta de reforma no gramado do Morumbi. Nesta semana já voltou para o Cícero Pompeu de Toledo, então novamente o Paca ficou “abandonado”.
Por que não usar o estádio para seu fim? O fim público?
Para atender as necessidades da população como um todo e não só interesses privados de clubes de futebol?
É o que será feito com o rúgbi neste mês. Como, para efeitos de uso de gramado, rúgbi e futebol americano têm semelhanças óbvias, espero que seja mais um precedente para que o estádio seja utilizado também para partidas do gridiron. Times de futebol americano em São Paulo não faltam. Storm, Palmeiras, Corinthians, Lusa – devo até ter me esquecido de algum.
Neste ano essas equipes se juntaram para formar a SPFL – São Paulo Football League, um campeonato paulista organizado pelos próprios times. Honestamente não sei até que ponto ainda teriam tempo para realizar a final no Pacaembu ainda neste ano – mas é completamente viável para os próximos anos, no caso do campeonato continuar existindo como pretende.
Se corretamente divulgado – nós faríamos nossa parte aqui em ProFootball – um jogo como este daria mais de 10 mil pessoas no Paulo Machado de Carvalho (nome “inteiro” do estádio). E seria mais um marco para o esporte no Brasil. Seria, acima de tudo, um uso digno a um estádio que tem futuro incerto pela ausência de mandantes fixos fora jogos pontuais do Santos em São Paulo ou quando há Coldplay no Allianz Parque – ou seja, quando um dos outros três não pode jogar em seu estádio.
Precedentes há. Inúmeros. O Beira-Rio sediará final do Campeonato Gaúcho de Futebol Americano neste ano. A Arena Pantanal e a Itaipava Arena Pernambuco (sim, usamos naming rights aqui, é ridículo não usar) também já sediaram jogos de futebol americano. Nada mais natural que um estádio sem uso na maior cidade do país… Seja utilizado para o público como um todo.
Quem sabe se não fizermos barulho, isso não chega na prefeitura de São Paulo?




