Deu a lógica na Conferência Americana. Embora os dois times não tenham tido um mês de dezembro tão forte como outrora, Kansas City Chiefs e New England Patriots repetem o confronto da Semana 6. Agora, porém, no Missouri e valendo vaga no Super Bowl LIII. Em seu segundo ano na liga, Pat Mahomes é o virtual MVP e tem pela frente o melhor quarterback da história da liga.
O que está em jogo? Muita história. O Kansas City Chiefs é a franquia do fundador da AFL (Lamar Hunt), liga que daria origem à Conferência Americana. O nome do troféu da liga é justamente em homenagem a ele. Porém, os Chiefs nunca foram campeões da AFC – indo ao quarto Super Bowl como últimos campeões da AFL. Do outro lado, os Patriots estão em finais consecutivas da AFC desde 2011 – representando a conferência em três dos último quatro Super Bowls.
Contudo, o tabu está de pé: New England tem três derrotas seguidas quando joga fora de casa na final da AFC. Será que param Pat Mahomes e quebram a sina ou o segundanista coroa sua temporada ao bater a grande força da conferência nesta década?
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New England Patriots (11-5) @ Kansas City Chiefs (12-4)
Local: Arrowhead Stadium, Kansas City, Missouri
Horário: Domingo, 20 de janeiro, 21:30 (horário de Brasília). TV: ESPN
Linha da Odds Shark: Chiefs favoritos por 3 pontos.
Mahomes conseguirá proteger a bola?
Um grande trunfo patriota nos playoffs reside no futebol americano situacional. Bill Belichick é o grande mestre em situações como essas e Peyton Manning, em temporada semelhante a Pat Mahomes 2018, ruiu nos playoffs de 2004 por conta de toneladas de interceptações. Não que estejamos “zicando” ou algo do gênero: mas já aconteceu e é algo para ficar de olho.
No primeiro confronto entre Chiefs e Patriots nesta temporada, Mahomes solidificou minha impressão: Brett Favre reencarnou. Para o bem e para o mal. Foi o primeiro jogo que ele teve os momentos “Bad Favre”, sobretudo no primeiro tempo. 14-23 para nenhum touchdown e duas interceptações.
Depois, no segundo tempo, as coisas melhoraram e aí tivemos os momentos “Good Favre”: 9-13 para quatro touchdowns. Tyreek Hill teve três deles. Qual Pat Mahomes vai aparecer no domingo? Os Patriots tiveram apenas 11 interceptações na temporada regular de 2018, sendo a 22ª unidade defensiva da liga no quesito. Então o fiel da balança pode estar aqui.
Como a defesa dos Chiefs jogará contra os running backs dos Patriots?
Um dos grandes trunfos do New England Patriots na vitória contra o San Angeles Chargers (sic) foi correr bem com a bola. Foram 155 jardas terrestres em 34 carregadas, gerando 4,56 por corrida – excelente número. Isso arma o play action e também facilita a vida de Tom Brady quando os alvos são running backs saindo para receber.
Em contrapartida, New England não passou das 100 jardas terrestres em nenhuma das derrotas de 2018. Contra os Titans, por exemplo, o caso foi ainda mais grave: 40 jardas terrestres. Contra os Dolphins, apenas 77. Nos três últimos jogos? Média de 186 jardas por jogo.
Isso é grave para Kansas City na medida em que os Chiefs têm uma defesa terrestre horrenda. A equipe cedeu 4,97 jardas por carregada na temporada regular, segunda pior da liga – só um time teve uma defesa terrestre pior e acabou vencendo o Super Bowl, os Colts de 2006 (5.33). Se logo no início da partida os Patriots estabelecerem o jogo terrestre, um apocalipse pode acontecer para a unidade de Kansas City: o efeito cascata começa.
Defender a corrida é mais cansativo que defender o passe – num último quarto disputado, a defesa pode estar cansada e isso ser o fiel da balança. Ainda, quanto mais corrida, mais tempo de posse dos Patriots. Logo, menos dos Chiefs. Menos tempo de posse dos Chiefs importa em menos tempo para Pat Mahomes colocar pontos no placar: assim limita-se quarterbacks potentes e o plano de jogo de Belichick certamente passará por isso.
Na partida da semana 6, os Patriots tiveram 173 jardas em 38 corridas – média de 4,55 por oportunidade terrestre contra os Chiefs. Logo, a tendência é que a situação se repita.
Ainda, a defesa dos Chiefs precisa se preocupar com running backs recebendo passes – de longe uma das maiores virtudes do ataque de New England. Na semana passada contra os Chargers, James White recebeu 15 passes e a expectativa é que ele novamente seja bem utilizado. Até porque a defesa de Kansas City cedeu 7,5 jardas por tentativa de passe quando running backs são alvos nesta temporada – pior unidade da NFL no quesito.

As Big Plays de Tyreek
Uma forma de Kansas City quebrar a partida e a disciplina da defesa de Bill Belichick é enfiando big play goela abaixo dos Patriots. Por óbvio, o cara para fazer isso tem nome e sobrenome: Tyreek Hill.
Ele tem duas partidas contra New England, uma nesta temporada e a outra na abertura da temporada de 2017. Somando os dois jogos, Hill tem 14 recepções para 275 jardas e quatro touchdowns nesses jogos. Com 137,5 jardas recebidas por jogo, ele tem as maiores média da carreira justamente contra New England.
Os Patriots não encontraram resposta para anular Hill nesses dois duelos. Principalmente em jogadas para mais de 20 jardas. Contra New England, Hill tem dois touchdowns para 75 jardas ou mais – o de exatamente 75 jardas na Semana 6 foi a big play mais longa que os Patriots cederam o ano inteiro.
Claro, uma diferença fundamental é um cara que ninguém está falando. JC Jackson, o Malcolm Butler de 2018, por assim dizer. Cornerback não draftado, Jackson não jogou a partida da Semana 6 e faz um final de temporada fantástica no outro lado de Stephen Gilmore. Para você ter ideia, JC tem o menor rating cedido por um cornerback nesta temporada. E ninguém está falando disso.
Poucas coisas derrubam a moral de uma defesa do que a big play e essa é a especialidade de Kansas City. Uma jogada assim é um banho de água fria nos Patriots e, considerando que o jogo é no Arrowhead, a torcida entra no jogo como nunca. Na minha analogia de que New England é o Império Galáctico de Star Wars, essa jogada é o equivalente ao tiro impossível de Luke na Estrela da Morte. Olho nisso.
Pressionando Tom Brady: como e em quais situações?
A receita é sabida há tempos: há uma forma clara de parar Tom Brady e ela se chama pancada no 12 e sem mandar blitz. Foi assim em diversas derrotas “clássicas” do maridão da Gi: Super Bowl XLII, Super Bowl XLVI, final da AFC em 2015 contra os Broncos. A questão é que uma coisa é saber a receita. Outra completamente diferente é executá-la.
O mais maluco de tudo é que, historicamente, a receita era de mandar quatro ou menos homens para cima de Brady na pressão – ou seja, situação de não-blitz. Na vitória dos Chiefs contra os Patriots na Semana 1 da temporada 2017, Kansas City chegou a mandar apenas três no pass rush em várias situações-chave.
Em playoffs, foi assim também. Desde 2006, Brady tem três partidas de pós-temporada nas quais ele foi sackado em quatro ou mais vezes por pressão padrão (isto é, sem blitz, com no máximo quatro defensores indo para cima dele).
Nesta temporada, porém, a coisa virou. Brady jogou mal contra a blitz (7-5 em TD/INT e, em rating, apenas o 23º da liga) e melhor do que o costume contra pressão padrão de quatro ou menos homens. Isso ficou evidenciado contra os Chiefs na Semana 6. Nos três primeiros quartos os Chiefs mandaram blitz em menos de 20% das situações de passe. Mesmo assim, Brady completou para 7,9 jardas por tentativa.
No último quarto a casa caiu ainda mais: não houve blitz e Brady teve 15,2 jardas por tentativa – com um touchdown correndo, ainda. Essa reviravolta no jogo de Tom Brady não é muito boa para os padrões da defesa de Kansas City, dado que a unidade tem como padrão a pressão com quatro homens. São 41 sacks nesta temporada e situações assim, a melhor marca de uma defesa nos últimos 10 anos. Os Chiefs foram a sétima defesa que menos mandou blitz nesta temporada – apenas 19% dos recuos de passe.
Tradicionalmente, portanto, seria a receita do apocalipse contra Tom Brady. Mas em 2018-2019 pode ser diferente. Será mega interessante ver quem leva a melhor nesse duelo e ele pode ser o principal destes que coloquei aqui.

***
É realmente difícil dar um palpite aqui, ainda mais porque a narrativa do ataque do Kansas City Chiefs é sedutora demais. A cadência desse jogo passa, conforme conversei com o Deivis (também nosso redator) no WhatsApp, pelo seguinte: é como uma luta de boxe. Os Chiefs, mesmo jogando em casa, são os desafiantes ao trono da Conferência Americana. Se New England colocar Kansas City “nas cordas” logo no início do jogo com boa marcação homem a homem e toneladas de jogo terrestre, os Chiefs podem apavorar por conta da “camisa” dos Patriots em situações como essas.
Nos matchups que separei acima, a tendência a meu ver é que os Patriots levem vantagem. Principalmente na questão do jogo terrestre e da limitação de big plays pelo “fator JC Jackson”, coisa que está bastante sob o radar nas últimas semanas (praticamente não vejo ninguém falando sobre).
Seja como for, a promessa é de um jogo bem brigado – não vejo uma lavada de um lado ou de outro. Ficaria extremamente surpreso se fosse o caso. Ainda, temos a questão psicológica: New England (Brady/Edelman e outros) comprou a narrativa de que são zebras nessa partida (o que o são, por Las Vegas). Bem, a pior coisa possível é fazer os caras ficarem pistola. Dito tudo isso, minha aposta é em vitória do New England Patriots por até 4 pontos.
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