Por que os desafios de interferência no passe não deram certo?

Adotada de maneira experimental no ano passado, regra não será estendida para 2020

Embora em teoria tenha parecido ser uma iniciativa bastante razoável, a permissão para desafiar faltas por interferência no passe acabou se mostrando um tremendo fiasco na prática, tanto que a NFL já desistiu da ideia após um primeiro e único ano de teste: Rich McKay, presidente do comitê de competição da liga, anunciou no último dia 07 de maio que a regra experimental não será estendida para 2020, afirmando ainda que ela “terá uma morte natural”.

A pressão pela possibilidade de desafiar possíveis jogadas de interferência no passe ganhou força após a polêmica na Final da NFC de 2018, quando uma falta não marcada em Tommylee Lewis influenciou diretamente na derrota do New Orleans Saints para o Los Angeles Rams. Massacrada pela crítica, a NFL cedeu ao clamor popular, acreditando que a nova regra ajudaria a diminuir os erros dos árbitros e sobretudo acalmaria os ânimos de torcedores e jornalistas, todavia, o resultado foi exatamente o oposto, já que os novos desafios trouxeram mais controvérsias.

Se parecia ser uma boa ideia, por que não deu certo?

A medida falhou porque a NFL não foi capaz de estabelecer um critério claro e eficiente sobre quais marcações deveriam ser mudadas e quais não deveriam. E ela não foi capaz de estabelecer esse critério, ou explicar convincentemente a razão de lances iguais serem interpretados de jeitos diferentes, porque uma interferência de passe é algo muito subjetivo.

Quando um árbitro verifica se a bola cruzou ou não o plano de goal, ou se um jogador pisou ou não fora de campo, ele está analisando uma jogada objetiva – foi ou não foi e ponto final -, algo que ele não foi capaz de enxergar ou ter certeza absoluta dentro de campo – mesmo assim, por incrível que pareça, eles costumam errar esse tipo de coisa também.

Já ao ser chamado para revisar uma interferência, a questão é quase sempre outra: reinterpretar um lance subjetivo através de dezenas de replays e ângulos diferentes de câmera. O juiz viu o que aconteceu dentro de campo, porém é convidado a repensar sua decisão quando é chamado à cabine. Nisso, por exemplo, ele pondera se o toque do cornerback no wide receiver foi mais cedo do que devia, se foi forte o suficiente para caracterizar uma penalidade e etc., impressões que podem variar de ângulo para ângulo ou até mesmo de frame para frame.

Nesse sentido, não surpreende que apenas 13 dos 81 desafios feitos pelos técnicos em 2019 tenham resultado em revisões pela arbitragem, até porque a própria NFL diz que uma marcação de campo só deve ser alterada se houver evidências suficientes para ter 100% de certeza. Como um árbitro vai ter 100% de certeza em uma jogada altamente subjetiva como uma interferência? Claro, a gente sempre lembra os erros crassos das zebras, como a óbvia falta não revisada em cima de DeAndre Hopkins, mas na imensa maioria das vezes não é tão simples assim.

Os fãs ficaram com a impressão de que os juízes erravam duas vezes, primeiro dentro de campo e depois ao não mudarem a marcação após a revisão, o que prejudicou ainda mais a credibilidade da arbitragem. Também existiu uma certa sensação de boicote aos desafios desse tipo, como se as zebras fossem orientadas pela liga a não os revisar.

Ademais, a NFL também falhou feio na hora de explicar algumas decisões polêmicas dos árbitros, passando a ideia de que ela apenas estava inventando desculpas para os seus erros. Tal falta de transparência é bastante frustrante para quem acompanha o esporte, sobretudo quando você vê lances basicamente iguais serem marcados e explicados de maneiras distintas a cada semana.

Desafio de interferência não deve voltar tão cedo

No final das contas, o desafio de interferência no passe acabou virando um exercício de futilidade. Os treinadores lançavam a flanela vermelha e todo mundo sabia que os juízes não mudariam as marcações, salvo um ou outro caso bastante especial. Foi uma situação tão bizarra que hoje em dia ninguém realmente está lamentando o fim da regra tão pedida poucos meses atrás. Não é impossível que a NFL tente revivê-la em algum momento, mas por ora parece assunto encerrado, pois os desafios trouxeram mais confusão do que esclarecimentos, além de não reduzirem em nada os equívocos da arbitragem.

No futuro, se quiser tentar de novo, a liga provavelmente precisará repensar o próprio conceito de interferência no passe, estabelecendo um padrão mais consistente de marcação para tais as infrações que reduza a subjetividade dos árbitros. Também precisará ter um sistema mais ágil de replays e tomada de decisões.

Em todo o caso, o ideal mesmo é que as marcações mais subjetivas sejam decididas exclusivamente dentro de campo, doa a quem doer, com o replay instantâneo servindo apenas de auxílio em situações pontuais, ou seja, lances objetivos que os juízes não enxergaram ou geraram grande dúvida vistos em tempo real – um pé dentro ou fora de campo, o momento no qual o joelho toca o chão, etc. Muita interferência externa, como costuma acontecer no VAR do futebol da bola redonda, tende a aumentar a confusão ao invés de resolvê-la.

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