Em uma de suas maiores obras “The Constitution of Liberty“, Hayek – proeminente economista da Escola Austríaca – utiliza de um conceito chave sobre o valor dado as coisas para debater o ponto focal de sua obra. Não estou aqui para escrever sobre a igualdade, o mérito e as leis; mas sim para expandir esse conceito definido pelo autor para o futebol americano.
Para Hayek, o valor é intrinsecamente subjetivo, dependente da importância que cada indivíduo dá ao bem. Nada tem a ver com o esforço ou o mérito. Posso ser excelente em cavar buracos de 20 metros de profundidade no meu quintal, mas qual o valor gerado? Se ficar cada vez melhor em cavar esses buracos, necessariamente vou ganhar mais?
Ok, mas o que isso tem a ver com a bola oval? Você já se perguntou o motivo de Trey Flowers ter recebido um contrato tão alto? “Ah, por oferta e demanda”. Também, mas não só por isso. Na NFL atual, um pass rush tem um valor muito maior que um running back – por exemplo – por isso seu salário será maior, mesmo que os dois sejam os melhores em suas posições (Aaron Donald ganha uma média de $22,500,00 por ano enquanto seu companheiro de time, Todd Gurley, ganha $14,375,000).
Devido a isso, alguns jogadores acabaram recebendo contratos supervalorizados nessa free agency enquanto outros recebem abaixo do valor de mercado. Para possuir uma métrica objetiva, utilizarei a ferramenta do site Spotrac que calcula um valor de mercado para o jogador, baseado em contratos e situações que são semelhantes ao escolhido. Dessa forma, usarei essa ferramenta para analisar o valor real do contrato em comparação ao seu valor de mercado e veremos o motivo dessa ocorrência.
Na NFL atual, um pass rush tem um valor muito maior que um running back
1. Matt Paradis – Center (Carolina Panthers)
Valor do contrato real: 3 anos/$29,030,000 (média salarial anual de $9,676,667)
Valor de mercado: 3 anos/$32,492,826 (média salarial anual de $10,830,942)
Como primeiro exemplo, busquei o contrato de um jogador que foi pago abaixo do seu real valor de mercado.
Matt Paradis representa o casamento perfeito entre carência de posição e um bom contrato. O center entrará no seu quinto ano de NFL como um dos jogadores mais sólidos na posição, sendo um excelente bloqueador contra o jogo corrido e um bom protetor em jogadas de passe em um time que necessita urgentemente de ajuda na proteção a Cam Newton (lembrando que o mesmo jogou a temporada passada com o ombro arrebentado até que as chances de playoff de Carolina fossem nulas), após a aposentadoria de Ryan Kalil.
Quanto maior a importância do jogo aéreo, mais a linha ofensiva torna-se primordial para a proteção do seu passador e encontrar bons jogadores dessa posição no Draft tem tornado-se algo difícil. Justamente por isso, quando algum nome razoável da posição surge na free agency, costuma-se oferecer valores astronômicos tanto pela alta demanda, quanto pelo valor da posição na atualidade. Não preciso ir longe, olhe os contratos de Trent Brown (o jogador de linha ofensiva mais bem pago da história) e Ja’Wuan James nessa intertemporada.
Por que Paradis saiu, então, tão barato?
Existem alguns motivos fortes, como sua lesão na fíbula no ano passado – que o fez perder o restante da temporada – e sua idade (Paradis completará 30 anos, mesmo adentrando apenas sua 5ª temporada na liga).
Porém, há um fator primordial: a desvalorização dos centers. Nenhum – isso mesmo, nenhum – entre os 20 jogadores de linha ofensiva mais bem pagos é um center (o primeiro na lista é Mitch Morse, recém contratado pelos Bills, na 23ª posição). O estigma do estilo old school parece continuar sendo carregado: tackles bem pagos pois o pass rush vem pelas laterais, guards fazem o meio a meio e os centers muito mais preocupados com o jogo corrido.
Contudo, não funciona mais dessa maneira. Com jogadores de linha defensiva – como Aaron Donald – que podem facilmente alinhar em 2i tech e gerar pressão contra o passe internamente, o center precisa ser consistente na proteção do passe. Jogadores como Paradis não encaram mais nose tackles como Vince Wilfork (que sempre foi excelente fazendo o “trabalho sujo”, mas nunca passou de 3.0 sacks em uma temporada), mas i-DL como Grady Jarret e Kenny Clark (ambos tiveram 6.0 sacks na última temporada, o que para um jogador da posição é um bom número).
Felizmente para Carolina, Paradis traz consigo o melhor dos dois mundos na proteção e promete se tornar uma grande adição para que Cam Newton consiga se manter saudável.




