LaDainian Tomlinson, Philip Rivers e Shawne Merriman. O que eles possuem em comum? Foram grandes estrelas em San Diego, elevaram a franquia dos Chargers a um outro nível e sempre serão lembrados pelos torcedores. Mas não é só isso. Os três (como outras estrelas em San Diego) tiveram que fazer um holdout como calouros devido a problemas com a diretoria dos Chargers.
Agora é a vez de Joey Bosa. Mesmo sendo desejado desde a época do Fiesta Bowl pela franquia, a diretoria resolveu jogar duro com o defensive end e ele acabou fazendo o maior holdout desde o lockout e a assinatura do novo CBA – novo acordo entre NFL e NFLPA que serviu, entre outras coisas, para praticamente padronizar os contratos dos calouros que entram na liga. A situação está tão grave que é possível que Bosa não se apresente nem mesmo para o início da temporada. Vale lembrar que, se ele não assinar com os Chargers, Bosa poderia entrar no Draft do ano que vem e ir para outro lugar – algo histórico na NFL.
Sem entrar em detalhes de quem está certo, quem está errado e o porquê desta dificuldade (este ponto será abordado no próximo Primeira Leitura), vale lembrar que existe o fator dentro de campo e é preciso entender o quão prejudicado ficará os Chargers (e Bosa) com este holdout. Prejuízos claros já ocorreram e que devem afetar a temporada como um todo da franquia.
Antes de tudo, o que perde Bosa?
Se o jogador não é um linebacker, interior de linha ofensiva ou running back, o tempo de pré-temporada é mais do que fundamental para poder produzir um pouco em campo. Wide receivers, safeties e pass rushers, normalmente, não conseguem produzir muito durante a temporada de calouro e precisam deste tempo para se acostumar com a complexidade e velocidade da partida – corners, quarterbacks e tackles conseguem pegar isto mais rapidamente.
Como deu para ver, Bosa não teve um snap sequer na preparação para a temporada com a camisa dos Chargers. Ele ainda não sabe como é enfrentar um linha ofensiva no nível profissional, como as leituras são diferentes e até mesmo como executar o playbook. Além disso, ainda não viveu o vestiário e tem zero de entrosamento com os seus companheiros. Na NFL não basta só talento; é preciso muito esforço, entrosamento e preparo mental para sobreviver.
O pior não é isso. Vale lembrar que Bosa era um defensive end de 4-3 (mesmo sendo o over, ainda é um 4-3) na universidade. Melhor contra o jogo terrestre do que contra o passe, ele tinha funções um pouco distintas daquelas que vai exercer em San Diego, quando jogará no 3-4 como defensive end na 5-tech. Ele vai precisar se adaptar, enfrentar mais guards e ainda não pode treinar o quanto deveria. Sem sombras de dúvidas este holdout não vai prejudicar apenas a sua temporada como calouro, mas sim toda a sua carreira – visto que terá o desenvolvimento um pouco atrasado. Se a escolha no Draft em si foi inesperada para a maioria, ela vai ser posta ainda mais em dúvida após esta dificuldade.
O jogador não será o mais prejudicado.
Apesar de Bosa ter um atraso enorme, sem sombra de dúvidas é a defesa de San Diego quem mais perde. Para quem não acompanhou o porquê da franquia ter tido a terceira escolha geral no Draft deste ano, a defesa no ano passado foi uma bagunça total e só não a pior porque o New Orleans Saints teve uma das piores defesas da história.
O principal problema de San Diego não é aéreo (tem problemas, obviamente). É o terrestre. A equipe foi a 31ª em DVOA contra a corrida no ano passado, cedendo incríveis 4,8 jardas por carregada – segunda pior marca da liga. Foram 417 tentativas, sendo que 24,2% destas tentativas viraram uma primeira descida – sexta pior marca da liga. Não havia nenhum combate ao jogo terrestre e isto, obviamente, vai afetar muito o combate ao jogo aéreo.
Com um combate tão pífio, o front seven fica mais apreensivo lendo as jogadas (querendo evitar ser surpreendidos com corridas) e a consequência foi um baixo número de sacks – apenas 32. O pior é que a unidade cedeu, como um todo, apenas 236,6 jardas aéreas por partida – ficou praticamente na média da NFL. Apesar disso, foram absurdas 7,9 jardas cedidas por tentativa de passe – quarta pior marca da liga. Só por curiosidade, a pior marca foi da defesa dos Saints, que cedeu ridículos 8,7 jardas por tentativa! Fica claro que os ataques adversários nem tentavam avançar pelo ar; era mais fácil correr com a bola, dominar o relógio, preparar o play action e sair vitorioso.
O mais incrível é que a defesa de San Diego tem talento. A secundária tem bom potencial, com um promissor trio de cornerbacks (Casey Hayward é um bom nickelback e Jason Verrett vem evoluindo) e certo problema na posição de safety – como mais da metade da NFL. Já o grupo de linebackers possui vários jovens talentos em desenvolvimento e alguns veteranos conhecidos. Jeremiah Attaochu ainda não conseguiu explodir como se esperava, é bem verdade, assim como Manti Te’o, porém estão evoluindo. Denzel Perryman oscilou muito quando calouro, mas é esperado que se estabilize melhor neste ano e vire o inside linebacker que se esperava – apesar de ainda achar um pouco redundante ter Te’o e Perryman ao mesmo tempo dentro de campo.
Só que em um 3-4, o segredo para combater o jogo terrestre é ter uma linha defensiva boa contra a corrida e este é o ponto de ter Joey Bosa em campo. Ano passado a franquia não tinha nose guard e a contratação de Brandon Mebane é justamente para cobrir este espaço – mas é pouco, muito pouco. Bosa era a peça essencial para melhorar de vez o combate ao jogo terrestre, visto que ele foi o melhor defensor contra a corrida ano passado em toda a NCAA – era o forte dele, como já falamos no site. Sem ele em campo, a franquia terá que ir com uma combinação de Darius Philon (sexta rodada de 2015) e Tenny Palepoi – longe de ser confiável.
Claramente a peça Bosa seria importantíssima nesta unidade e também peça essencial para melhorar o ataque. Lembre-se, uma defesa que não se deixa ser controlada acaba por dar mais tranquilidade ao seu ataque para trabalhar – principalmente o jogo terrestre que não engrenou nem um pouco com Melvin Gordon em 2015. Sem Bosa, mesmo com a adição de Mebane, esta defesa não deve melhorar tanto quanto poderia e vai continuar sofrendo contra o jogo terrestre adversário – o que vai impulsionar os números contra o passe para baixo, assim como aconteceu em 2015.
Independente de quem esteja certo ou errado, a incompetência da diretoria em resolver a situação acabou prejudicando muito a equipe dentro de campo e a história está longe de acabar. Uma pena, pois esta defesa iria ficar muito interessante de acompanhar com Joey Bosa em sua melhor forma.






