Se Kaepernick não passar a bola bem dentro pocket, não terá futuro na NFL

Na temporada passada, eu fui um dos grandes críticos de Colin Kaepernick – em realidade, talvez ele tenha sido um dos poucos jogadores que critiquei com frequência ao longo da temporada. Motivos eu tinha. Muitos. A princípio, porque detesto quando um quarterback opta por correr com mais frequência do que passar – na NFL, claro, em College o jogo é diferente.

É uma questão física. Um corpo de 1,90m a 30 km/h é mais fácil de ser defendido do que uma bola de 35cm de diâmetro a 80 km/h. Ano após ano o passe com a mão para frente se mostra cada vez mais como essência do esporte e o que lhe especifica dos demais “futebóis”. Negar isso é negar a essência do futebol americano. Não é por acaso que nenhum quarterback com essência puramente scrambler (Michael Vick, Randall Cunningham e conexos) venceu o Super Bowl. Porque as defesas se adaptam.

Veja, é uma questão de ação e reação. Não há nenhum outro esporte no qual a Terceira Lei de Newton seja melhor empregada. Se um ataque surge com um esquema ou uma filosofia nova e pirotécnica, a defesa reage a isso. Os coordenadores defensivos – bem como a maior parte da comissão técnica de um time de futebol americano – reagem a essas novidades e costumam neutralizá-las em dois anos no máximo. Um exemplo notório foi a wildcat (formação ofensiva na qual o running back se posicionava onde normalmente estaria o quarterback). Ela foi um sucesso em 2008, sobretudo depois que o Miami Dolphins a empregou para derrubar o bradyless New England Patriots na AFC East. No mesmo ano 70% da NFL tinha jogadas com ela. Três anos depois, ninguém mais falava sobre.

Só há uma coisa que os coordenadores defensivos não vão conseguir neutralizar: o passe perfeito. Porque ele é a essência do esporte. É por isso que houve um declínio na produtividade de Colin Kaepernick de 2012 para cá: ele jogava em função da read-option. Quando ela foi neutralizada, seu jogo foi embora junto. No ano em que chegou ao Super Bowl XLVII, Kaepernick teve o sétimo melhor rating da liga (“nota” dada ao quarterback em resultado de uma fórmula matemática). 2014 ele foi o 14º e 2015 o 27º.

O passado você já sabe, e o futuro?

Sendo coerente e justo, esses não foram os únicos problemas que Colin enfrentou nos últimos três anos. Alguns foram sua própria culpa – como as seguidas lesões por estar tão exposto correndo constantemente com a bola. Só em 2015 foram três cirurgias – polegar direito, ombro esquerdo e joelho esquerdo. Isso não aconteceu por acaso: correr faz com que você esteja vulnerável. É por isso que lugar de quarterback é no pocket, protegido. Ou você acha que é um mero acaso que existam cinco jogadores de linha ofensiva que são pagos para protegê-lo? Usá-los é questão de lógica e respeito à evolução do esporte.

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Igualmente não é por acaso que a melhor temporada de Cam Newton, a de 2015 na qual ele foi eleito MVP, foi aquela na qual ele teve mais passes para touchdown de dentro do pocket. Foram 32 dos 35 lançados pelo quarterback do Carolina Panthers no ano passado. Claro, Newton corria com a bola – mas isso foi acessório em seu jogo. É exatamente isso que Kaepernick tem que ter em mente se quiser voltar ao auge. No ano passado, ele teve o segundo pior rating da NFL quando lançando de dentro do pocket. Isso explica bastante coisa.

Com Kaepernick querendo ser trocado, o que esperar?

Acabei tendo um pouco de esperança no futuro do produto de Nevada quando soube que Chip Kelly seria o técnico do San Francisco 49ers. Kelly foi o técnico que mais executou a option nos últimos três anos. Além disso, ele tem um esquema tático que favorece o uso de quarterbacks móveis, saindo do shotgun.

Justamente por isso espanta que Colin queira ser trocado de San Francisco, como reportamos ontem. Talvez um dos poucos técnicos que dariam “jeito” no quarterback seria Chip Kelly. O pedido de troca, em realidade, pode ser um tiro no pé “diplomático”. Porque ele pode não dar em nada e Colin acabar ficando em San Francisco. Considerando que tanto o general manager quanto o técnico foram feitos de idiotas ao elogiar Colin e horas depois ele querer ser trocado, acredito que esteja bem claro aqui o erro diplomático. Ainda mais se lembrarmos que Chip Kelly é um técnico de personalidade forte e que não costuma tolerar em seu elenco jogadores com quem ele não tem um bom relacionamento.

Explico; Quando você recebe um jogador via troca, herda o contrato dele. Para 2016, Kaepernick teria o 16º maior salário na posição: 16,8 milhões de dólares. 16º salário para o 27º rating da liga não é algo que matematicamente faça sentido, certo? Pois é. Achar um time para herdar isso – sem qualquer garantia de que Colin volte à boa forma é algo complicado. Primeiro porque não sabemos como ele volta da cirurgia no ombro, realizada em novembro. Segundo porque não sabemos se ele conseguirá ter maior eficiência como passador.

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Kaepernick expressou recentemente vontade em jogar pelo New York Jets, equipe bastante coesa defensivamente e que viu em Ryan Fitzpatrick um jogo sólido na temporada passada (mas que não foi suficiente para chegar aos playoffs). Se em Nova York ou qualquer outra equipe, o ponto é que por mais que tenha criticado Colin, ele merece mais uma chance. A última, talvez. Mas mudando seu estilo de jogo, focando em melhorar como passador e como líder. O quarterback que ganha títulos é aquele que passa bem a bola e aquele que é líder, que inspira seus companheiros. Do jeito que está, não deve ter futuro na NFL, dado que foi justamente o oposto. Ele não passou bem a bola em 2015 e arranjou problemas no vestiário.

Relacionamentos mudam, fronteiras entre países mudam, opiniões mudam. Nada mais natural que o que dá certo em filosofias ofensivas também mude. A read-option não é mais efetiva como era em 2012, Colin Kaepernick tem que entender isso. Caso ele esteja limitado a ela, terá o mesmo destino: não ter futuro na NFL.

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