Seahawks acertaram no Draft?

Seattle apostou em suprir necessidades, mas com jogadores de piso baixo

Após um início de ano conturbado, o Seattle Seahawks encontrou o caminho da vitória e conseguiu uma reviravolta que permitiu o retorno do time aos playoffs em 2018. Porém, a turbulência que levou a franquia a terminar o ano com uma campanha 10-6 voltou a aparecer no confronto de wild card contra os Cowboys, encontro que marcou os problemas no plano de jogo ofensivo e encerrou a temporada de Seattle de maneira amarga.

A chama da esperança estava acesa, contudo. Se em um ano de possível reformulação – devido à saída de jogadores importantes e a falta de reposições a altura – a franquia conseguiu chegar a pós-temporada, um bom Draft poderia ser o passo restante para os Seahawks voltarem a ser candidatos ao título.

Escolhas do Draft 2019 pelo Seattle Seahawks 

1/29: L. J. Collier, EDGE, TCU 
2/47: Marquise Blair, S, Utah
2/64: D. K. Metcalf, WR, Ole Miss
3/88: Cody Barton, LB, Utah
4/120: Gary Jennings, WR, West Virginia
4/132: Ugo Amadi, S, Oregon
5/142: Ben Burr-Kirven, LB, Washington
6/204: Travis Homer, RB, Miami
6/209: Demarcus Christmas, iDL, Florida State
7/236: John Ursua, WR, Hawaii

Nazair Jones, Jarran Reed, Cassius Marsh, Rasheem Green. Se você não é torcedor da franquia, provavelmente não lembra desses nomes na sua vida. Isso porque a linha defensiva de Seattle não ficou conhecida por grandes marcas na última temporada (mesmo que não tenha tido um desempenho pífio) na última temporada, com exceção de Frank Clark – trocado para os Chiefs nessa intertemporada – e o já mencionado Reed (ambos com 13 e 10,5 sacks, respectivamente).

Por isso, a franquia escolheu reforçar o setor que perdeu o seu melhor nome trazendo o EDGE L. J. Collier para a reposição. Collier é um jogador versátil para a linha defensiva – podendo jogar na extremidade ou no interior -, já que se sai bem no pass rush e na contenção terrestre e que possui um bom teto de crescimento; contudo, ainda não está pronto para chegar e ter impacto desde seu primeiro snap. A chegada de Ziggy Ansah nos últimos dias deve aliviar o peso que estava sobre seus ombros, mas o problema é justamente esse: na primeira rodada, espera-se que o jogador escolhido cure sua necessidade de imediato. Collier deve se tornar um pilar da defesa daqui um ou dois anos, mas esse intervalo de tempo significa que ele poderia ser escolhido mais para baixo no recrutamento.

Na segunda rodada, os Seahawks continuaram preenchendo suas necessidades e selecionaram o safety Marquise Blair. Blair é muito parecido com Collier no aspecto de ser um jogadores com teto de produção alto, mas que ainda possui limitações técnicas que podem-no expôr em seu início na liga, como sua técnica de tackles e sua dificuldade em marcações homem-a-homem; contudo, sua alta inteligência deve ficar evidente logo de cara e auxiliar no processo de evolução do calouro. Novamente, a escolha não é ruim pensando no futuro próximo, mas com Nasir Adderley e Juan Thornhill disponíveis, Seattle poderia ter se voltado ao curto prazo em busca de talento imediato.

Na última escolha da segunda rodada, os Seahawks conseguiram uma das maiores barganhas desse Draft: D. K. Metcalf ficou muito conhecido após seu Combine surreal e tem tudo para se tornar o melhor amigo de Russell Wilson desde a primeira semana. Dono de atleticismo e fisicalidade sobrehumanas, Metcalf tem piso e teto muito altos e é um talento de primeira rodada que caiu no colo de Seattle em um setor que se tornou carente de talento após a aposentadoria de Doug Baldwin. O wide receiver já vem mostrando melhora no seu trabalho de pés e nas quebras de rotas nos primeiros treinamentos e até o início da temporada deve estar com movimentos mais leves para aterrorizar os defensores adversários; além disso, a precisão de Russell Wilson e o auxílio de Tyler Lockett puxando os marcadores para o fundo do campo devem facilitar ainda mais o caminho de Metcalf, permitindo que ele traga grandes alegrias para Seattle.

Na terceira rodada, a franquia incrementou seu setor de linebackers escolhendo Cody Barton, que é muito cru e não vale o valor da escolha, mas – deixando de lado de lado o real valor do jogador – isso não deve atrapalhar por enquanto. Bobby Wagner e K. J. Wright são os titulares incontestáveis da posição hoje, mas seus contratos estão perto do término (o de Wagner acaba nessa temporada e o de Wright na próxima). Portanto, Barton deve ser refinado nesse período para que possa brigar por uma vaga de titular no futuro próximo. Novamente, uma escolha que ignora o potencial presente e que poderia ter sido feita mais para baixo.

Na quarta rodada, Seattle realizou três escolhas. A primeira foi o wide receiver Gary Jennings, recebedor que foi muito utilizado como ameaça vertical no College, mas que pouco deve acrescentar de imediato já que Lockett realiza com maestria essa função. Os Seahawks poderiam ter focado em outras prioridades aqui. Após Jennings, a franquia escolheu o offensive guard Phil Haynes, mais um calouro que chega a franquia para ser mais bem desenvolvido para que possa ocupar a titularidade no próximo ano: Haynes é muito físico e se sai bem quando pode abusar disso, mas quando lhe é exigido mobilidade e trabalho de pés, não vai bem e a coisa desanda. Mike Solari (treinador de linha ofensiva da franquia) terá um ano para corrigir esses defeitos como fez com a linha toda nessa última temporada.

Leia também: A renovação de Russell Wilson indica uma mudança do plano de jogo dos Seahawks?

Na última escolha dessa rodada, Seattle selecionou mais um safetyUgo Amadi é um jogador versátil que pode atuar, inclusive, como nickelback e se destacando na marcação individual (apesar de ter defeitos na marcação em zona). Seu baixo peso pode ser um empecilho para a contenção do jogo terrestre, mas o calouro deve brigar pela titularidade desde o início, seja atuando na marcação do slot ou seja como free safety.

Na quinta rodada, a franquia voltou a selecionar um linebacker; dessa vez o nome foi Ben Burr-Kirven. Burr-Kirven é um projeto melhor do que Cody Barton e, como este, terá tempo para se desenvolver. O calouro é um pouco baixo e pode acrescentar mais massa muscular, mas é inteligente e consegue destaque nas marcações em zona. Na disputa do médio prazo, Ben deve levar vantagem em relação a Barton.

Chegando no final do Draft, a franquia selecionou dois jogadores na sexta rodada. O primeiro foi o running back Travis Homer, que chega para brigar por alguns snaps contra Chris Carson e Rashaad Penny. Com isso, o calouro deve ajudar muito mais nos special teams e em situações de terceira descida de passe, já que se destaca no jogo aéreo mais do que os dois titulares da posição. Logo após, Seattle selecionou Demarcus Christmas, um jogador de interior de linha defensiva voltado à contenção do jogo terrestre e não foge disso; deve entrar em campo em descidas óbvias de corrida e pouco acrescentará ao pass rush da equipe.

Por último, a franquia selecionou mais um wide receiver, dessa vez na sétima rodada. John Ursua é o típico jogador de fim de Draft: vai brigar por uma vaga no elenco. É um recebedor bom em rotas profundas e não foge disso. Deve disputar a vaga – seja como slot ou como reserva de Lockett – com o também draftado Gary Jennings.

Melhor escolha: 2/64: D. K. Metcalf, WR, Ole Miss; O melhor wide receiver do Draft cai no seu colo na última escolha da segunda rodada devido a uma suspeita de uso de esteroides. Se essa suspeita não se concretizar, os Seahawks conseguiram um alvo de confiança para Russell Wilson que deve ter impacto desde o primeiro dia e pode se tornar um dos melhores recebedores da liga, impondo sua dominância física em cima de qualquer cornerback. Metcalf é um tiro certo de Seattle.

Pior escolha: 3/88: Cody Barton, LB, Utah; Como falei no texto, o raciocínio da franquia na escolha é compreensível, mas ele é muito cru para ser escolhido na terceira rodada. Mack Wilson estava disponível para gerar competição no setor e a escolha de quinta rodada, Burr-Kirven, é mais prolífica do que Barton. Sim, a franquia não quer um titular para a posição, mas – devido a isso – algo melhor poderia ser feito com a escolha visando o presente.

Nota: Bom 

Seattle adotou uma estratégia clara: focar nas posições necessárias mais de uma vez escolhendo jogadores que tem piso baixo, mas podem se desenvolver bem. Isso foi bem cumprido e daqui dois anos, se tudo correr bem, poderemos aplaudir esse Draft. Porém, a franquia poderia ter focado mais no presente com as escolhas mais altas. Fora Metcalf, todos os jogadores escolhidos até Ugo Amadi não possuem garantias de começarem como titulares.

Um dos propósitos do Draft é desenvolver e lapidar seu novos jogadores. Contudo, quando seu time chega aos playoffs com um elenco com buracos e enfrentando os duros oponentes da NFC, isso é um sinal que o presente pode ser ainda mais promissor se houver investimento e escolhas que impactem desde o início da temporada.

A nota poderia ser “ótimo” se a franquia conseguisse trazer mais talentos imediatos, mas a incerteza em torno do que as promessas podem se tornar impedem uma nota maior. A franquia focou nas suas necessidades, como deve fazer, e se as apostas se pagarem, as alegrias permanecerão constantes pelos próximos anos em Seattle.

“odds