A negligência sempre cobra seu preço. Jogar a sujeira para debaixo do tapete pode escondê-la ou maquiá-la, mas ela nunca irá desaparecer. Nos últimos dois anos, o Pittsburgh Steelers tentou prolongar a carreira de Ben Roethlisberger para buscar a conquista de seu terceiro anel, mas não se preparou para quando a queda vertiginosa viesse.
Tentar estender as chances de título de um grande ídolo é uma atitude racional. Ignorar o plano sucessório e não pensar em um plano B não o é. Hoje, Pittsburgh colhe os frutos dessa decisão e está estagnado no meio da Conferência Americana. Com uma sequência mortal até a reta final da temporada – o jogo mais fácil será contra o Minnesota Vikings, para se ter ideia -, as chances de pós-temporada tornam-se cada vez mais improváveis. Os Steelers estão sendo cobrados por sua decisão e não há escapatória no curto prazo.
Sem expectativa de melhora
No início do ano, ainda buscávamos esperar uma melhora no ataque de Pittsburgh por dois pontos em específico: um esquema que privilegiasse os passes curtos e uma vontade acima do comum de Big Ben em sua última temporada na liga. Não seria o suficiente para ser topo de conferência, mas daria para beliscar uma temporada alinhando isso à qualidade defensiva da equipe.
Nisso, acertamos. Najee Harris correu a rodo, Ben passou a bola rápido – a chegada de Pat Freiermuth foi muito importante nesse sentido – e a defesa foi liderando a equipe. O resultado? Uma verdadeira montanha-russa. Pittsburgh começa 1-3, parece que encontra seu ritmo e depois decai de novo, com direito a um empate pífio contra o Detroit Lions.
Se Roethlisberger aparenta comprometer menos nesse sistema, ao mesmo tempo ele não é capaz de vencer jogos no braço. E não estou aqui para martirizá-lo ou coisa do tipo, é só uma constatação da natureza; sua hora passou, a aposentadoria é natural no esporte. Talvez você queira citar o emocionante embate contra o Los Angeles Chargers como exemplo, mas Ben só teve atuação aparentemente melhor naquele jogo porque Justin Herbert e amigos imploraram para Pittsburgh vencer a partida. Ainda assim, quando ele teve a chance de vencer o jogo dentro do two-minute warning, nós vimos o que aconteceu.
Claro que nem tudo é culpa dele. Mesmo sendo o quarterback que mais rápido passa a bola na liga (média de 2,32 segundos)[foot]Pro Football Focus[/foot], a linha ofensiva de Pittsburgh é a quarta pior controlando os bloqueios por mais de 2,5 segundos. Isso também explica a baixa média de 3,6 jardas/carregada de Harris. Ou seja, quando o ataque não pode dar passos de formiguinha, vai pifar.
Pelas limitações naturais dos atletas citados, fazer alterações no meio da temporada é uma alternativa inviável. O ataque chegou no seu limite e, infelizmente, Big Ben está longe do período que poderia superar as adversidades para conseguir elevar seu entorno exclusivamente com base no talento. Não há perspectiva de melhora e, sem solução, a conta finalmente chegou.
