Já é tradição: todo ano, aproveitando o sossego da offseason, fazemos uma semana especial, relembrando alguma temporada da NFL. Para este ano, resolvemos contar a história da temporada de 2014, repleta de bons personagens e histórias cativantes. Nesse texto, vamos abordar a saída de Jim Harbaugh do San Francisco 49ers. Venha conosco nessa gostosa viagem no tempo!
Se tem alguém que pode discordar do disclaimer acima, é o torcedor dos 49ers. Para ele, voltar dez anos no tempo é uma viagem com gosto de leite estragado. Depois de um belo início e o time chegar ao Super Bowl dois anos antes, 2014 foi o ano em que tudo deu errado em Santa Clara: uma penca de lesões no elenco, uma fórmula desgastada, um clima de discórdia entre diretoria e comissão técnica que, no final, culminou na demissão do head coach. Relembremos o capítulo final da era Jim Harbaugh nos 49ers e como ela reverbera os destinos de ambos até hoje, dez anos depois.
Quando o 4-1-4-1 não consegue se adaptar aos novos tempos
NFL e Carnaval são mais parecidos do que se pensa: todo ano tem uma música que estoura e a gente passa o ano inteiro cantando. Se o início dos anos 2010 nos deram alicerces da MPB como Rebolation e Ai Se Eu Te Pego, na NFL só se falava em uma coisa: read-option. Febre no high school e no futebol americano universitário, o conceito ganhou força na liga profissional a partir de 2011, com Cam Newton e Tim Tebow sendo os primeiros símbolos dessa então nova era. No entanto, foi no ano seguinte que a read-option virou hit de verdade, graças especialmente a dois fatores: o ataque de Washington com Robert Griffin III e capitaneado por Kyle Shanahan (guarde este nome) e o de San Francisco com Colin Kaepernick e Jim Harbaugh.
Aquele time dos 49ers tomou de assalto a liga: além de uma defesa espetacular sob a batuta de Vic Fangio, o esquema de Harbaugh e Greg Roman levou a read-option a outros níveis. Kaepernick, aliás, era o retrato e maestro dele, após virar de fato o quarterback da franquia. Com nomes badalados em ambos os lados – Patrick Willis, Frank Gore, Joe Staley, NaVorro Bowman, Jimmie Ward e cia -, o time chegou à três finais de NFC consecutivas, vencendo em 2012 e indo ao Super Bowl, até perder para os Ravens. Apesar dos revezes, os 49ers eram uma força a ser batida na Conferência Nacional até então. Bem, até chegar a semana 7 de 2014.
A derrota acachapante para os Broncos – que estavam na berlinda também – foi o começo do fim. A defesa, que perdera Bowman por lesão na pré-temporada ainda, se desmantelou de tantos jogadores machucados. Mesmo assim, foi a quarta melhor da liga – diferente do ataque, que terminou como uma das piores. Durante as semanas 7 e 15, os 49ers marcaram por média 13.9 pontos por jogo, a pior marca da NFL. No mesmo período, Kaepernick foi sacado mais de 30 vezes, o que comprometeu a estabilidade do ataque. Com as defesas se ajustando às corridas da read-option, o sistema outrora bombástico ficou sem reação. O resultado não poderia ser outro: 8-8 de campanha, fora dos playoffs e Harbaugh demitido.
A demissão conturbada do técnico (falaremos dela abaixo) foi o primeiro capítulo de uma curta era tenebrosa nos 49ers. 2015 e 2016 foram anos de temporadas negativas e comissões técnicas fracassadas. 2016 seria também o último ano de Kaepernick na liga, muito influenciado pelo seu sinal de protesto contra a violência policial nos EUA. A maré ruim só terminaria a partir de 2017, quando John Lynch e (ele mesmo!) Kyle Shanahan chegaram à franquia. Desde então, San Francisco vive uma era de estabilidade e sucessos, apesar do início difícil e de não ter conquistado ainda o tão sonhado Super Bowl.
No final das contas, os 49ers viraram a página Jim Harbaugh. Ao mesmo tempo em que o outro lado também virou a página – e deu a volta por cima.
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Outros textos da Semana 2014:
Semana 2014: A Ressaca dos Broncos e Manning questionado
Semana 2014: O Draft do Vai Ou Racha
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Jim, um diabo necessário
As analogias com o querido pofexô e o Pica-Pau maluco não são descabidas: todos os três são representantes da classe dos agentes do caos e não possuem medo do perigo: tanto para o bem, quanto para o mal. Jim Harbaugh não teve medo de manter Kaepernick titular em 2012, mesmo com Alex Smith saudável no banco – este, inclusive, seria trocado para os Chiefs meses depois. Acreditou no potencial: recebeu os lucros no início, arcou com os erros e os poucos ajustes no final. Bateu de frente com Jed York, dono dos 49ers, e o então general manager Trent Baalke (hoje causando estragos nos Jaguars) por não concordar com as decisões tomadas: acabou sendo demitido no fim.
Dez anos depois, Jim Harbaugh está de volta à NFL: agora como head coach dos Chargers, time no qual foi quarterback, e com a credencial de campeão do college football por Michigan. Em 2024, ele terá novamente uma franquia com a moral baixa e precisando se remodelar. Mas diferente do início da década passada, terá em Justin Herbert um passador (e, de quebra, corredor) melhor do que teve com Smith e Kaepernick. Se sua filosofia do 4-1-4-1 (perdão, Luxa) dará certo nos Chargers, isso só saberemos a partir de setembro.
A não ser em caso de Super Bowl, Jim Harbaugh e San Francisco 49ers não se encontrarão nesta próxima temporada. Dois lados opostos que, há mais de dez anos atrás, se encontravam para marcar uma geração na história da NFL.
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