Shanahan antecipa a tendência: WRs produtivos após a recepção

Treinador dos 49ers tira o máximo de cada jogada em algo que começa a se tornar mais comum na NFL: os wide receivers funcionando quase que como corredores para além da linha de scrimmage

49ers

Não sou um grande fã de tratar treinadores como pessoas revolucionárias ou visionárias por conta de poucas temporadas mostrando algo diferente. Acredito que a capacidade de acompanhar a evolução do jogo e se reinventar seja mais importante que momentos esparsos. Entretanto, dar o devido crédito, sem necessidade de exageros de linguagem, é sempre importante. Kyle Shanahan, treinador do San Francisco 49ers, merece elogios por pensar “fora da caixa”. Além de voltar a usar o pacote 21 com eficiência, ele antecipou uma tendência para os próximos anos: os recebedores que produzem muito depois da recepção.

É uma sequência quase natural da evolução das sistemáticas ofensivas na NFL. Cada vez mais os times se utilizam de conceitos de spread offense, tão populares no college football. A premissa deste sistema é se aproveitar de vantagens numéricas ou de confrontos favoráveis, dando a bola na mão dos seus melhores jogadores e os deixando fazer o resto. Nenhuma equipe nas duas últimas temporadas teve tantas jardas após a recepção de média quanto o San Francisco 49ers e isso só prova que Shanahan segue essa linha.

O esquema de Shanahan possibilita isso de forma muito eficiente

O treinador da franquia da Califórnia soube unir a parte esquemática com a característica dos seus jogadores de uma maneira ímpar. Isso se deve ao fato de grande parte de seus conceitos de passes serem muito simples: os 49ers são um ataque de ritmo, que só atacará em profundidade quando tiver a chance certa. É quase como se fosse uma cobra a espreita, se movendo lentamente e de forma que não parece tão perigosa, para dar o bote quando a presa estiver desatenta.

Com isso, o quarterback Jimmy Garoppolo tem leituras mais simples e definidas. Assim, ele precisa ficar menos tempo com a bola na mão e alivia a pressão sobre a linha ofensiva. Segundo o NFL Next Gen Stats, Garoppolo foi o sexto quarterback que mais rápido lançou em 2019. Por outro lado, Deebo Samuel e George Kittle terminaram a temporada passada entre os 5 recebedores com melhor média de jardas após recepção, entre aqueles que tiveram ao menos 500 jardas em 2019.

O Draft prova que isso é uma tendência

Se até alguns anos atrás, ao se fazer a análise de um prospecto, se considerava jardas após a recepção como um plus, um algo extra, hoje não se pode mais dizer o mesmo. Em 2020, por exemplo, os três primeiros wide receivers selecionados tiveram mais de 50% de suas jardas no último ano universitário conquistadas após a recepção. Dos seis selecionados no primeiro dia, apenas Jalen Reagor – que teve problemas com o seu ataque e o quarterback – não teve pelo menos 45%. Os 49ers, aliás, não ficaram para trás: escolheram Brandon Aiyuk na vigésima quinta escolha geral. Veloz e forte, teve mais de 700 jardas após a posse e dará ainda mais dinamismo ao sistema de Shanahan.

Vale frisar que isso vem ganhando importância também entre os tight ends. Hoje muito mais recebedores que bloqueadores, são peças fundamentais no jogo aéreo e ocupam espaços, em geral no meio do campo, onde a defesa deixou buracos. Cada vez mais jogadores da posição terão essa característica. O já citado Kittle é o expoente, mas nomes como Mark Andrews e Darren Walller são outros bons exemplos. A união da explosão com a força para quebrar tackles é cada vez mais valorizada na posição.

Parece um caminho sem volta: produzir com a bola após a recepção é uma tônica para os próximos anos. Afinal, as defesas começam a se moldar par evitarem as desvantagens que vimos durante a década passada. Atletas defensivos cada vez mais explosivos e com capacidade de cobrirem longos espaços de campo surgem com mais frequência, sendo Derwin James, Minkah Fitzpatrick e Jamal Adams alguns exemplos icônicos. Com isso, aproveitar as brechas de campo livre e maximizar cada recepção se faz ainda mais importante. Kyle Shanahan já entendeu e parece que o restante da liga começa a compreender também.

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