O tempo não perdoa os erros – e ele foi implacável com o Tennessee Titans. No início dessa semana, a franquia anunciou o corte de Treylon Burks, sua escolha de primeira rodada no Draft de 2022. Pode parecer um movimento pequeno, eu sei, e talvez você, fã mais casual, sequer se lembre desse jovem recebedor. Sua história, todavia, demonstra como um pequeno ato pode resultar em cenários grotescos.
Não debata por centavos
Brigar por valores com seu recebedor talentoso nem sempre vale cada centavo – oi, Terry McLaurin. Nos primeiros meses de 2022, A. J. Brown queria um novo contrato para permanecer em Nashville. Os Titans, todavia, não queriam ceder aos números que seu jovem e qualificado wide receiver demandava.
Naquela época, Brown era um dos wide receivers mais promissores da NFL, ainda que não houvesse atingido seu pleno potencial. No entanto, ele já apresentava suas qualidades como ameaça vertical e na redzone, com um jogo de quase 150 jardas nos playoffs poucas semanas antes do início desse embate contratual, além de anotar 3000 jardas aéreas e 24 touchdowns recebidos em suas três temporadas inicias na franquia.
Como gestor de uma franquia na NFL, você não pode, nem deve, perder um nome desse calibre. Os comandantes dos Titans, contudo, pensaram diferente. Aparece o Philadelphia Eagles e uma troca inesperada acontece: Tennessee recebeu duas escolhas de Draft por A. J. (18ª e 101ª) e utilizou a mais alta delas para selecionar Treylon Burks, à época visto como o substituto de Brown.
A troca para Philadelphia rendeu um novo contrato a Brown (4 anos e $ 100 milhões, seria o quinto maior em média naquela temporada), ainda que a troca de franquia não fosse seu grande desejo. Como ele disse no dia do Draft, “Não foi minha culpa. Eu queria ficar, mas eles ofereceram um acordo menor”.
Jon Robinson, então general manager de Tennessee, não demonstrava sinais de aflição com a negociação. “No fim do dia, […] eu tenho de tomar as decisões difíceis. Evidentemente, a parte financeira as impacta e precisamos tentar encontrar valor, quando podemos.” Mike Vrabel, treinador naquele período, tampouco transpareceu tristeza. “Amo A. J., mas estou muito tranquilo em relação à negociação e como eu e Jon (Robinson) lidamos com ela. […] Infelizmente, nós temos de entender que, como permaneceremos aqui por um tempo, nós não seremos capazes de manter todos os jogadores que draftarmos e desenvolvermos”. É, Mike. Quem diria que essa frase envelheceria tão mal.
Destino implacável
Para não ser totalmente engenheiro de obra pronta, é preciso ser justo: Burks era um wide receiver muito bem cotado na época daquele Draft e sua comparação era, justamente, com o próprio Brown. Arriscar faz parte da vida na NFL e erros são intrínsecos ao processo. O problema para Tennessee é que as consequências foram muito drásticas para todos os envolvidos.
Treylon conviveu com lesões desde seu início na NFL. Nunca atuou por uma temporada completa e só tem um jogo para mais de 100 jardas no currículo, com um mísero touchdown recebido na carreira. No seu período universitário, era conhecido por ser um recebedor explosivo, capaz de criar grandes jogadas, inclusive saindo do slot para gerá-las após a recepção. Nunca converteu isso ao nível profissional.
Brown, por outro lado, deslanchou em Philadelphia. Em um time organizado e com ataque vertical, circulou a marca das 1500 jardas em seus dois primeiros anos e foi selecionado ao segundo time All-Pro em suas três temporadas com os Eagles. Além disso, claro, venceu o Super Bowl, com partidas de alto calibre nos playoffs – incluindo a grande final que sairiam derrotados para o Kansas City Chiefs.
A insatisfação foi imediata em Nashville. Não demoraria um ano sequer para que cabeças começassem a rolar. Após um início 7-3, Tennessee perdeu todos os jogos até o fim da temporada de 2022 e ficou fora dos playoffs, anotando sua primeira temporada de recorde negativo com Vrabel. Robinson, o general manager que mudou o time da patamar, foi demitido antes do final daquela temporada.
Com o treinador, o destino tampouco seria solidário. Na temporada seguinte, Tennessee iria para sua segunda campanha negativa consecutiva. Dois dias após a rodada final, Vrabel foi demitido.
Uns bebem na sombra, outros pelejam, outros somem
Olhar esses movimentos em retrospectiva é fascinante. Brown se consolidou como um dos melhores de sua posição na NFL, conquistou um novo contrato na Philadelphia e levantou um caneco, sendo peça essencial dessa equipe. Vrabel ficou apenas como consultor do Cleveland Browns na temporada passada e, neste ano, retoma um cargo importante como treinador do New England Patriots.
Para outros, o destino foi o ostracismo. Robinson não voltou a um cargo importante desde sua demissão em dezembro de 2022. Burks, cortado nesta semana, sequer é lembrado pela maior parte dos espectadores e dificilmente voltará a ter oportunidades na NFL. A vida não é justa nesse esporte.
Na NFL, não há margem para erros com nomes importantes. A história dessa troca está aí para nos lembrar que um simples movimento pode acarretar consequências maiores do que se pode prever.
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