O desespero nos faz tomar atitudes que, na maior parte das situações, muitas vezes deixaríamos de lado. Nesta free agency, Kliff Kingsbury fez exatamente isso: após dois anos decepcionantes no comando do Arizona Cardinals, o treinador entra em 2021 pressionado e, com um grande fardo nas costas, apostou todas as suas fichas em contratações no mínimo arriscadas nos últimos dias.
Buscando colocar Arizona como a primeira força da disputada NFC West, Kingsbury contratou A. J. Green, J. J. Watt, Malcolm Butler e ainda realizou uma troca por Rodney Hudson. Entretanto, com exceção do center, nenhum dos novos nomes está em seu auge, apesar do peso que carregam nas costas da camisa. Em um verdadeiro all-in, o treinador tenta colocar os Cardinals em um patamar que não foi visto nos últimos dois anos, afinal, se isso não acontecer, um retorno ao College deve ser seu destino em 2022.
No papel, elenco é estelar
Se por um lado as contratações trazem suas dúvidas por conta do nível de atuação recente dos jogadores, por outro ela torna o elenco de Arizona um verdadeiro recinto de antigas estrelas. Hudson é o único que mantém sua constância há anos e é uma grata adição: a linha ofensiva de Arizona apresentou melhoras no último ano, mas ainda é porosa; Rodney, um dos melhores centers da liga, promete trazer estabilidade no miolo para evitar que Kyler Murray parta para o scramble mais vezes do que o necessário, além de garantir caminhos abertos para o jogo terrestre.
Ainda no ataque, A. J. Green é uma aposta entendível apesar de sua brusca queda de produção em 2020. Embora os problemas com lesões tenham o atormentando de 2018 para cá, o recebedor já provou diversas vezes seu valor e, ao lado de DeAndre Hopkins, pode formar uma dupla extremamente perigosa. Na pior das hipóteses, Green chamará a atenção da secundária adversária em algumas situações, o que já é suficiente para que seu parceiro de posição possa se encontrar mais vezes em confrontos individuais ao longo da partida.
Do outro lado da bola, ainda que não estejam em seus melhores momentos, Watt e Butler buscam tapar alguns buracos que ficaram muito expostos na defesa de Arizona no último ano. Na linha defensiva, J. J. e Chandler Jones se completam perfeitamente: ambos são excelentes em todos os quesitos e infernizarão a vida do quarterback adversário. Nas temporadas passadas, o grande problema em suas vidas foi a falta de um EDGE de qualidade na outra extremidade para evitar um número alta de “marcação dobrada” da linha ofensiva adversária; agora, esse empecilho não existe mais.
Já na secundária, Butler deve fazer o mesmo papel que foi de Patrick Peterson no último ano, longe de seu auge, mas que ainda pode ser útil. Apesar das oscilações, Malcolm teve boa contribuição na conturbada secundária do Tennessee Titans e voltou a apresentar números decentes em 2020, o que traz esperança de dias melhores agora vestindo a camisa vermelha. Com um pass rush tão talentoso, ao menos o trabalho da defesa aérea deve ser facilitado.
A hora é agora, Kingsbury
Depois dessa free agency, não há mais desculpas: Kingsbury precisa apresentar resultados melhores. Se sua contratação já era colocada em dúvida desde o início, 2020 serviu para realçar todos os questionamentos: chamadas questionáveis, decisões muito controversas, uma campanha medíocre que custou a vaga nos playoffs e um rendimento total da equipe muito abaixo do esperado.
Em 2019 havia a desculpa da adaptação e em 2020 de que “seria uma atitude precipitada”. Agora, é vai ou racha para o treinador. Como dito, há muitas dúvidas sobre a qualidade atual das contratações, mas é inegável que o time de Arizona como um todo se tornou muito melhor; se todos os atletas recém-chegados forem capazes de produzir minimamente, os Cardinals podem ser uma das grandes surpresas da temporada, já que estamos falando de nomes que já conquistaram o estrelato na NFL e que foram alguns dos melhores em sua posição durante algum período.
A temporada de 2021 já seria importante para o treinador, mas as ambições tornaram-se ainda maiores. Se Kingsbury não corresponder às expectativas, um retorno ao futebol americano universitário o espera. O all-in do treinador, portanto, é completamente compreensível, já que tempo desesperadores requerem atitudes desesperadas. Entretanto, nós sabemos o que uma atitude impensada na NFL pode custar e, se a barca virar, Arizona pode acabar deixando seus torcedores em um mar de decepção.
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