
Há quase 6 anos, o mundo da NFL foi surpreendido por uma notícia triste: a aposentadoria precoce e repentina de uma carreira bastante promissora. Bem cotado desde os tempos de prospecto — como um jogador de grande talento e com uma trajetória a ser observada — Andrew Luck, apesar de bons recordes como quarterback titular, performances notórias e campanhas aos playoffs, teve sua carreira marcada por uma série de lesões que o tiraram de campo diversas vezes. Segundo ele próprio, essas lesões “…me tiraram a alegria pelo jogo.” Luck optou por deixar os gramados após apenas seis anos desde que havia sido draftado pelos Colts como sucessor de Peyton Manning.
Desde então, o time de Indianápolis encarou a árdua missão de encontrar um novo franchise QB, apostando em nomes como Philip Rivers e Matt Ryan, ambos em fim de carreira, além dos erráticos Carson Wentz e Nick Foles — tudo isso em meio ao conturbado fim da gestão de Frank Reich, que acabou sendo sucedido no meio da temporada de 2022 pelo inusitado (e inepto) Jeff Saturday, que não resistiria ao final daquela mesma temporada.
Em 2023, ano novo, head coach novo: Shane Steichen, que liderou o ataque dos Eagles e notoriamente encaixou Jalen Hurts em um sistema bastante amigável às suas fragilidades — um fator importante na campanha do time de Philadelphia rumo ao Super Bowl de 2022. O drama de Saturday e Reich em 2022 também renderia aos Colts a quarta escolha geral no Draft de 2023. Parecia, enfim, uma boa forma de retomar as rédeas da franquia.
“Com a quarta escolha no NFL Draft de 2023, o Indianapolis Colts seleciona…”
Antes de mais nada, convenhamos: estamos em 2025. Somos o terceiro país com maior fanbase de futebol americano no mundo, vamos receber nosso segundo jogo de temporada regular, e é necessário que nossas análises sobre o esporte deem um passo à frente — mais elaboradas, mais reflexivas, com conclusões menos rasteiras.
Ano após ano, no processo do Draft — especialmente após o Combine — sempre aparece algum jogador universitário que misteriosamente emerge das sombras (geralmente um quarterback) e passa a ser cogitado como escolha de primeira rodada. “Projeto de prospecto”, dizem. Um talento bruto que, se bem desenvolvido, pode mudar o rumo de uma franquia. Mesmo quando o videotape mostra evidências frágeis e vulnerabilidades técnicas claras. Casos recentes como Zach Wilson, Trey Lance (2021), Malik Willis (rumores de 1ª rodada, mas escolhido apenas no segundo dia em 2022), e até nosso protagonista aqui, Anthony Richardson, se encaixam bem nessa descrição.
Vindo de apenas um bom ano liderando os Florida Gators e com pouca experiência universitária (13 jogos como titular, 797 snaps), Richardson apresentava em seus reports uma combinação de grande atleticismo, força no braço e capacidade de improvisação com as pernas. No entanto, faltavam fundamentos importantes: trabalho de pés no jogo aéreo, antecipação nos passes, leitura de defesas e progressão entre alvos. Tudo isso era reflexo de sua inexperiência — e, portanto, levaria tempo para ser desenvolvido.
Contudo, dois anos após sua estreia com o uniforme azul e branco, Richardson começou apenas 15 dos 34 jogos possíveis, devido a lesões. Fica evidente o risco do estilo “dual threat”, ainda mais quando o jogador não demonstra autoconsciência corporal nem se protege bem dentro do pocket. Se foi draftado como projeto que exige desenvolvimento, estar constantemente fora de campo não ajuda. E, quando esteve em campo, as deficiências ficaram expostas: com as pernas, o jogo de Richardson é arriscado; com a bola nas mãos, a produção é ainda pior — foram 2.391 jardas, 50,6% de passes completos, 11 touchdowns, 13 interceptações e um rating de 67,8 ao longo dos dois anos. Some-se a isso alguns problemas de conduta, especialmente no que diz respeito à postura de liderança que se espera de um quarterback — algo por vezes ausente na ética de trabalho de Richardson.
Outros fatores, mais relacionados ao coaching staff, também contribuíram para o fracasso do projeto. Cabe sim questionar o quão adequada foi a mentoria de Steichen para o desenvolvimento do jogador — tanto nas mecânicas quanto nas leituras e nos planos de jogo mais compatíveis com seu estilo. Faltaram ajustes que o colocassem em situações mais favoráveis ou que evitassem exposição às lesões.
Com duas temporadas abaixo do esperado, no início da offseason de 2025 ouvimos que os Colts buscariam competição para Richardson. Afinal, após lesões e baixo desempenho, surgem dúvidas legítimas sobre sua capacidade de liderar o ataque da franquia. Além disso, após dois anos questionáveis de gestão, o assento de Steichen começa 2025 na berlinda.
E por falar em reach…
Pensando em Drafts recentes, é difícil lembrar de um reach maior do que Daniel Jones, escolhido pelos Giants com a sexta escolha geral em 2019. Sim, vários jogadores de primeira rodada não atingiram seu potencial. Sim, times apostam em perfis atléticos ou flashes de talento. Mas o caso de Daniel Jones é outro: era muito risco para pouco retorno. Seu scouting mostrava problemas como segurar demais a bola, excesso de fumbles, turnovers, passes longos inconsistentes e produção abaixo da média mesmo contra adversários fortes no college.
Na NFL, Jones foi exatamente o que o scouting previa: performances ruins, lances cômicos, turnovers. Seu melhor ano foi 2022 sob o comando de Brian Daboll, quando lançou para 3.205 jardas, 15 TDs e 5 interceptações. Teve rating de 92,5 e uma vitória em playoffs — mas, no máximo, não atrapalhou o time de Nova York. Foi trocado no meio da última temporada para o Minnesota Vikings e, entre todas as opções disponíveis nesta offseason (Kirk Cousins, Sam Darnold, Aaron Rodgers, Russell Wilson, entre outros), os Colts optaram por ele.
Fica a pergunta: os Colts queriam realmente competição para Richardson ou apenas um backup? A escolha é no mínimo duvidosa e torna o grupo de QBs da equipe um dos mais frágeis da NFL para 2025. Embora o time tenha talentos relevantes nos dois lados da bola, nenhum dos dois quarterbacks inspira confiança ou aponta para grandes aspirações — algo que Steichen precisa entregar para manter seu cargo nesta temporada.
Não me surpreenderia se ele fosse o primeiro técnico demitido de 2025 e se os Colts acabassem com uma escolha alta no Draft de 2026. Toda minha solidariedade ao torcedor dos Colts neste ano. E, por fim (mas não menos importante):
Ei, Ballard! Jim Irsay (R.I.P.) não está mais entre nós. A nova gestão pode querer novos ares — e talvez seu nome esteja incluso na dança das cadeiras da próxima offseason também!
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