Análise de Quarterbacks – Semana 4: Como o Jogo Corrido melhor ajuda Russell Wilson a brilhar

Neste ano, durante toda a temporada, teremos uma coluna semanal dedicada à avaliação da performance dos quarterbacks.

A ideia é discutir, baseado em achados extraídos da análise dos vídeos dos jogos, as características dos atletas que determinam seu sucesso (ou fracasso) na liga. Além de uma visão geral sobre os passadores na semana em questão, teremos alguns destaques individuais, tanto positivos quanto negativos.

Claro, como não pode deixar de ser, levaremos sempre em consideração o sistema ofensivo empregado pelas equipes, assim como a qualidade do elenco ofensivo. Estes fatores impactam de maneira fundamental o que os quarterbacks mostram em campo e, na medida do possível, iremos contextualizar as estatísticas (e resultados) dos jogadores dentro desta realidade.

Visão geral: semana 4

Mais uma semana em que os ataques aéreos, em geral, dominaram. Alguns placares elásticos contribuíram para esta impressão, mas também tivemos bons duelos de quarterbacks. Destaque para a vitória dos Panthers no Gillette Stadium, com Cam Newton se recuperando. Outro ótimo embate colocou frente a frente o surpreendente Jared Goff, do Los Angeles Rams, e Dak Prescott. Os Rams derrotaram os Cowboys em Dallas, seguindo a sua temporada de “Cinderela”. Goff é um dos quarterbacks que se beneficia de sistemas de leituras rápidas e simples, mais “fáceis” em teoria. O mesmo não pode ser dito para Brian Hoyer, mais uma vez muito mal.

Além do já citado Cam Newton, outros quarterbacks tiveram suas melhores atuações no ano, como Aaron Rodgers e Russell Wilson. Wilson, aliás, está ‘sob o microscópio’ na coluna desta semana. Finalmente, cabe destacar a ótima progressão, até o momento, de Deshaun Watson. O quarterback calouro dos Texans vem mostrando grande maturidade. Mais sobre isso lá embaixo.

Sob o microscópio: Russell Wilson

O quarterback do Seattle Seahawks vem, desde o início do ano, sendo questionado por suas atuações irregulares. Apesar da “desculpa” da linha ofensiva fraca dos Seahawks, o próprio Wilson apresentava dificuldades tanto dentro quanto fora do pocket, não mostrando suas habituais tranquilidade e precisão nos passes em profundidade.



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Para tentar explicar o que acontece com Russell Wilson, vamos nos aprofundar sobre a performance do quarterback no jogo do último domingo à noite. Na partida, em que o Seattle Seahawks venceu o Indianapolis Colts por 46 a 18, Wilson teve a sua melhor atuação na temporada, mesmo mantendo alguns dos mesmos problemas das primeiras semanas. O quarterback terminou o jogo com 21 passes completos em 26 tentativas, para 295 jardas, com 2 touchdowns e 2 interceptações.

Um fator me parece fundamental para a evolução de Wilson nesta semana. Ao contrário do que aconteceu nos primeiros jogos, o jogo corrido funcionou um pouco melhor. Mesmo com os problemas da linha ofensiva, Eddie Lacy e Chris Carson conseguiram bons avanços.

Os ganhos de jardas por terra abriram espaço para o jogo aéreo baseado em fakes dos Seahawks. Russell Wilson teve muito sucesso em jogadas de play action e bootlegs. Nos bootlegs, particularmente, Wilson teve oportunidade de criar muitas jogadas fora do pocket, quebrando a estrutura da cobertura e achando seus recebedores com frequência. O ritmo alcançado pelo quarterback, principalmente no segundo tempo do jogo, lembrou alguns de seus bons momentos na liga.

Apesar disso, ainda são perceptíveis alguns problemas na performance de Wilson. Neste domingo, assim como nos primeiros jogos da temporada, o quarterback mostrou estar com dificuldades de lidar com a pressão no pocket, o que tradicionalmente sempre foi um de seus pontos fortes. Russell Wilson, diante da pressão, tem oscilado entre fugir rápido demais do pocket e antecipar o lançamento.

Quando foge do pocket (fora do “programado”, como nos bootlegs), Wilson limita as oportunidades de leitura, o que torna mais difícil encontrar um recebedor aberto. Já quando lança a bola mais rapidamente, para escapar dos pass rushers, o quarterback perde o controle do movimento de passe, perdendo muito em precisão nos passes intermediários e longos. Para um quarterback como Russell Wilson, essa mecânica de passe acelerada é muito prejudicial. Wilson é capaz de compensar sua relativa baixa estatura para a posição (1,80m) com lançamentos intermediários e longos com muito “toque”, substituindo a força por uma parábola mais acentuada. Esta parábola permite que a bola passe por cima dos jogadores de linha defensiva, “caindo no colo” dos recebedores. Como estamos vendo com frequência nesta temporada, quando não consegue executar sua mecânica de passe, Wilson perde muito em precisão dentro do pocket.

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É muito provável que este fenômeno esteja relacionado à manutenção dos problemas de linha ofensiva do Seattle Seahawks (que já duram pelo menos três anos). Ao sempre se deparar com situações de pressão, que muitas vezes terminam em colisões pesadas, a chamada “memória muscular” do quarterback pode se alterar. Inconscientemente, é possível que Wilson esteja mais propenso a evitar o contato físico.

Esta hipótese ressalta o quão importante para os Seahawks é a melhora da linha ofensiva. Talvez o avanço do jogo terrestre na partida contra os Colts indique rumos ofensivos melhores para a equipe. Certamente isto fará muito bem para Russell Wilson.

De olho nos calouros

Que jogo fez Deshaun Watson. O quarterback do Houston Texans mostrou maturidade de veterano ao dissecar a defesa do Tennessee Titans na vitória de sua equipe por 57 a 14. Watson, se valendo de um bom plano de jogo, utilizou a ameaça de correr com a bola como um meio de paralisar a defesa, abrindo janelas para o passe. O quarterback atuou com ótima precisão e, principalmente, decisões muito boas. Destaque para as jogadas a partir do triple option, como no touchdown de Lamar Miller. É ótimo para a NFL ter o read option presente nos ataques. No fim das contas, Watson terminou o jogo com 4 touchdowns aéreos e 1 terrestre, além de 283 jardas de passe.

Já o outro calouro teve um jogo para esquecer. DeShone Kizer, do Cleveland Browns, esteve muito mal na partida contra o Cincinnati Bengals. Kizer esteve pressionado, mantendo a tendência de segurar demais a bola. Além disso, tomou muitas decisões ruins, lançando passes para recebedores totalmente cobertos. O ataque dos Browns é absolutamente disfuncional neste momento. Kizer carrega muita responsabilidade dentro do sistema ofensivo. Talvez uma simplificação do plano de jogo fizesse bem para o quarterback.

Semana que vem tem mais um quarterback calouro. Mitchell Trubisky fará sua estreia como titular do Chicago Bears na semana 5. Agora que a experiência Mike Glennon acabou, veremos o que a segunda escolha geral no último draft poderá fazer.

Troféu “parece Madden no nível amador” – melhor da semana

Alex Smith

O quarterback do Kansas City Chiefs segue sua excelente temporada. Em um jogo muito difícil contra Washington, Smith seguiu preciso, particularmente nos momentos decisivos. o quarterback acertou 27 de 37 passes, para 293 jardas e 1 touchdown. Os números podem parecer discretos mas, como sempre, só contam parte da história. Smith lidou com a pressão durante todo o jogo, acertando alvo atrás de alvo com muita precisão. Além disso, Alex Smith conquistou muitas jardas correndo com a bola, mostrando ótima presença dentro do pocket e habilidade e inteligência fora dele.

Menções honrosas: Aaron Rodgers – Green Bay Packers / Deshaun Watson – Houston Texans

Troféu “TEEBOOOWWW!!” – pior da semana

Jay Cutler

O que Jay Cutler está fazendo na NFL em 2017? Essa pergunta segue sem resposta. Desde que abandonou sua rápida aposentadoria para assinar com o Miami Dolphins, Cutler parece absolutamente fora do lugar. No jogo deste domingo, em Londres, contra o New Orleans Saints, Jay Cutler foi muito mal. O quarterback dos Dolphins, mesmo enfrentando uma defesa conhecidamente fraca, Cutler não foi capaz de acertar qualquer passe intermediário ou longo, buscando check downs e passes curtos em todos os momentos.

Já ficou famoso o lance em que, alinhado como recebedor, na formação wildcat, Cutler ficou parado, com as mãos na cintura, totalmente desinteressado. Acima você pode conferir. O quarterback terminou o jogo com 164 jardas em 20 passes completos, com uma interceptação. Desanimador…

Menções “desonrosas”: Mike Glennon – Chicago Bears / Joe Flacco – Baltimore Ravens

Olhando para a semana 5

Já nesta quinta-feira, teremos um confronto interessante: Jameis Winston e os Bucs enfrentam a até aqui fraca defesa dos Patriots. Com Tom Brady do outro lado, devemos ter um jogo de muita produção ofensiva.

No domingo, dois jogos se destacam. Dak Prescott e Aaron Rodgers medem forças em Dallas, em um confronto sempre interessante; e o calouro Deshaun Watson e os Texans enfrentam o melhor time (e quarterback) do ano até agora, o Kansas City Chiefs de Alex Smith.

Finalmente, na segunda-feira, teremos a estreia de Mitchell Trubisky, em que os Bears encaram a forte defesa dos Vikings.

Semana que vem voltaremos com mais sobre os quarterbacks. No twitter, em @JoaoHMacedo, comentários, sugestões e, eventualmente, cornetas, são muito bem-vindos. Até lá.

“RODAPE"

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