História: Com erro de Favre e polêmicas da arbitragem, Vikings caem para os Saints na final da NFC

[dropcap size=small]P[/dropcap]or obra do destino e dos computadores responsáveis por montar a tabela da NFL, foi determinado que o primeiro Monday Night Football[note]Não se esqueça que na primeira segunda-feira da temporada tem rodada dupla. Colado com Saints e Vikings teremos Chargers e Broncos[/note] da temporada será um duelo entre Saints e Vikings. O confronto por si só não teria nada de muito extraordinário a ser destacado, não fosse o fato de que ele marcará a estreia de Adrian Peterson em New Orleans logo contra Minnesota, lugar onde o running back construiu uma carreira digna de Hall da Fama. E o melhor de tudo: a partida acontecerá no U.S. Bank Stadium, casa dos Vikings. Assim, poderemos ver em primeira mão como os torcedores receberão o antigo ídolo.



Neste texto, contudo, não iremos tratar sobre o aguardado jogo de 2017. Em vez disso, vamos voltar quase oito anos no tempo, relembrando algumas memórias que os fãs de Minnesota provavelmente gostariam de deixar esquecidas para sempre.

Saints e Vikings não nutrem uma rivalidade acirrada e nem costumam se enfrentar com tanta frequência. Porém, em janeiro de 2010, os dois times protagonizaram uma batalha épica no NFC Championship Game válido pela temporada de 2009[note]O jogo completo foi disponibilizado pela NFL no YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=-rUp-t386sU Acesso em: 06/09/2017[/note]. A partida teve todos os ingredientes para ser um clássico: grandes jogadores em campo, lances incríveis, altas doses de drama, reviravoltas, prorrogação e decisões polêmicas da arbitragem.

No final, New Orleans venceu por 31 a 28 no tempo extra e avançou para disputar o primeiro e único Super Bowl de sua história. Já Minnesota ficou com o gosto amargo da sensação de ter perdido para si mesmo, após uma sequência de vacilos inacreditáveis nos segundos finais de jogo – sem contar os erros dos árbitros, os quais quase sempre prejudicaram a equipe. A derrota também significou a última participação de Brett Favre em um confronto de playoff.

A traição de Favre e o auge do renascimento em New Orleans

O contexto dos times na época era muito interessante. De um lado, os Saints viviam o ponto mais alto do seu renascimento depois da tragédia causada pelo furacão Katrina na cidade de Nova Orleans em 2005. Drew Brees empilhava jardas e touchdowns ano após ano, o ataque idealizado por Sean Payton funcionava como uma máquina e a equipe era super competitiva, tanto que venceu 13 partidas de temporada regular pela primeira vez em sua história. New Orleans levou com sobras a NFC South e conquistou o seed #1 da conferência. Nos playoffs, mais precisamente no Divisional Round, triturou os Cardinals por 45 a 14.

Os Vikings, por sua vez, tinham como principal destaque Brett Favre. Aos 40 anos de idade, o quarterback resolveu assinar com a franquia, despertando a ira dos torcedores dos Packers, que consideraram a ida para o arquirrival uma traição. O veterano teve uma das melhores temporadas da carreira em termos estatísticos, ajudando Minnesota a conquistar o título de divisão e a ficar com o seed #2 da conferência. Na estreia do mata-mata, Favre e os Vikings atropelaram os Cowboys por 34 a 3.



“canecas"

Minnesota deu uma aula de como não ganhar um jogo

Dois grandes times em campo, Brees vs. Favre. Como era de se esperar, a partida foi sensacional. Saints e Vikings mantiveram o equilíbrio e trocaram golpes o tempo inteiro. Ninguém nunca conseguiu abrir mais de sete pontos de vantagem sobre o outro.

Em pleno Superdome, Minnesota dominou quase todas as estatísticas[note]https://www.pro-football-reference.com/boxscores/201001240nor.htm Acesso em: 06/09/2017[/note]: foram 475 jardas totais contra 257 dos donos da casa, 31 a 15 em first downs, sete a três em conversões de terceira descida, 36 a 27 em minutos de posse de bola e 165 jardas terrestres contra apenas 68. A equipe, entretanto, também liderou uma outra estatística nada favorável: cinco turnovers contra um de New Orleans. Esse acabou sendo o maior motivo da derrota.

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Dos últimos sete drives dos Vikings, cinco acabaram com a paçoca sendo entregue aos Saints. Favre foi interceptado duas vezes e também perdeu um fumble ao tentar fazer um handoff para Adrian Peterson na beira da end zone ofensiva. Percy Harvin e Bernard Berrian também sofreram fumbles, ambos no último quarto do confronto. Com tantos erros, é quase impossível vencer um jogo de playoff.

Os visitantes começaram com tudo, anotando touchdowns em suas duas posses de bola iniciais. O primeiro após uma corrida de 19 jardas de Peterson e o segundo em uma conexão curta entre Favre e Sidney Rice. New Orleans, entretanto, também entrou duas vezes na end zone na primeira etapa com passes de Brees para Pierre Thomas e Devery Henderson. O duelo foi para o intervalo empatado.

Voltando dos vestiários, os donos da casa rapidamente assumiram a vantagem no marcador. Após Courtney Roby retornar o kickoff 61 jardas, Pierre Thomas finalizou a campanha com uma corrida de nove jardas. Minnesota respondeu no drive seguinte, graças à uma corrida de uma jarda de Peterson. Depois, no quarto derradeiro, mais um touchdown para cada lado, anotados respectivamente por Reggie Bush e outra vez Peterson – o running back, aliás, terminou o dia com 122 jardas terrestres e três touchdowns, mas em compensação sofreu dois fumbles que por sorte foram recuperados pelos próprios Vikings.

Um vacilo histórico

Com cerca de cinco minutos ainda no relógio e o placar empatado, New Orleans recebeu a bola, porém não conseguiu ir a lugar nenhum e precisou chutá-la de volta aos adversários. Assim começou a ser escrito um dos capítulos mais esquecíveis na história da franquia de Minneapolis.

Partindo da sua linha de 21 jardas e com 2:37 minutos no cronômetro, os Vikings no início marcharam facilmente pelo campo. Favre completou passes longos para Rice e Berrian. Chester Taylor correu 14 jardas. Com 1:06 ainda a ser disputado, o time já estava na linha de 33 jardas do campo dos Saints, na área de alcance do kicker Ryan Longwell. Minnesota, então, tentou duas corridas e não avançou nada com bola. Na sequência, pediu um timeout faltando 19 segundos para o jogo acabar.

Foi nessa hora que o inacreditável aconteceu: voltando da pausa, a equipe entrou em campo e fez o huddle com 12 jogadores. Os juízes perceberam e assinalaram a falta, a qual resultou em uma perda de cinco jardas. Um vacilo imperdoável, sobretudo por ter ocorrido após um timeout, que tirou os Vikings da zona de field goal.

Contudo, o pior ainda estava por vir. Precisando colocar seu kicker em uma situação mais confortável, o time chamou uma jogada aérea. Favre, ao invés de tentar um passe curto ou correr ele mesmo com a bola, buscou bater um home run, lançando a bola desequilibrado e contra o movimento do corpo na região central do campo. O “pato morto” acabou parando nas mãos do cornerback Tracy Porter[note]https://www.youtube.com/watch?v=4rnCVf1ASL8 Acesso em: 06/09/2017[/note], aquele mesmo que algum tempo depois seria herói no Super Bowl interceptando Peyton Manning. A jogada gerou uma reação memorável de Paul Allen, narrador da radio oficial dos Vikings famoso por as vezes perder a batalha contra o clubismo[note]https://www.youtube.com/watch?v=0UUeqvquXZI Acesso em: 06/09/2017[/note].

O duelo foi para a prorrogação. New Orleans ganhou o cara ou coroa, recebeu a bola, marchou pelo campo na base do sofrimento e chutou o field goal da vitória com Garrett Hartley. Naquela época as regras do tempo extra eram diferentes. Elas diziam que se uma equipe pontuasse de qualquer maneira na primeira posse da prorrogação, seria declarada vencedora e a outra não teria chance nem de tentar o empate. Hoje em dia, a morte súbita na primeira posse só acontece em caso de touchdown.

Controvérsias

A partida foi recheada de polêmicas envolvendo a arbitragem, a maioria supostamente prejudicando Minnesota. A franquia reclamou principalmente de quatro lances. Em primeiro lugar, a interceptação sofrida por Favre no terceiro quarto deveria ter sido anulada, pois ele sofreu uma falta pessoal ao ser atingido ilegalmente na região dos joelhos. O próprio Mike Pereira, na época chefe de arbitragem da NFL, admitiu que os juízes erraram ao não lançar a flanela[note]http://profootballtalk.nbcsports.com/2010/01/27/pereira-talks-about-controversial-calls-in-saints-vikings-overtime/ Acesso em: 06/09/2017[/note].

Depois, no tempo extra, mais três queixas: uma conversão de quarta descida que não teria ocorrido, uma recepção de Robert Meachem em que a bola aparentemente mexeu ao encostar no chão e, por fim, uma penalidade de interferência no passe assinalada após um lançamento impossível de ser recebido (uncatchable)[note]Todas as polêmicas e melhores momentos podem ser conferidos neste vídeo: http://www.nfl.com/videos/nfl-game-highlights/09000d5d815f3f2b/2009-NFC-Championship-Vikings-vs-Saints-highlights Acesso em: 06/09/2017[/note]. Os dois primeiros casos eram marcações muito difíceis e não havia indícios suficientes em vídeo para alterar a decisão, mas o terceiro parece ser outro erro claro das zebras. Tanto a recepção de Meachem quanto a penalidade foram fundamentais para a colocar os Saints na área de field goal.

O duelo também ficou marcado por conta do chamado Bountygate. Para quem não se lembra, New Orleans recentemente foi punido porque, entre 2009 e 2011, alguns treinadores da franquia incentivaram seus atletas a machucar os adversários de propósito em troca de incentivos financeiros. O escândalo resultou em severas sanções ao time e ficou conhecido como Bountygate.

A punição física imposta à Brett Favre no confronto foi um dos motivos para a NFL começar a investigar as denúncias contra os Saints. Vários jogadores de Minnesota acusaram os adversários de tentar machucar o quarterback. Favre, inclusive, sofreu uma lesão no tornozelo depois de ser atingido ilegalmente nas pernas no lance da interceptação citado logo acima.

A vida pós-2009

Concretizada a derrota traumática, os Vikings passaram os anos seguintes vivendo no limbo da NFL, alternando algumas temporadas boas com outras medíocres. Foram outras duas vezes aos playoffs, mas nunca venceram. O mais próximo que chegaram foi outra derrota traumática, dessa vez em 2015 por conta do infame field goal desperdiçado por Blair Walsh. Favre, por sua vez, pendurou as chuteiras em 2010.

Já New Orleans ganhou o Super Bowl diante dos Colts e experimentou mais sucessos nos anos seguintes, principalmente em 2011 com outra temporada 13-3. Após as punições pelo Bountygate impostas em 2012, a franquia passou a viver tempos difíceis, terminando quatro vezes com o record 7-9 de lá para cá. Drew Brees, entretanto, até hoje continua sendo o mesmo quarterback excepcional daquele período de ouro dos Saints.

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