Os verdadeiros "Vontae Mack no matter what". É que se colocássemos eles para ilustrar o post, talvez você não tivesse prestado atenção

Moneyball a todo vapor: O quê o Cleveland Browns está fazendo para deixar de ser piada?

Desde o início da intertemporada passada, os olhares de todos aqueles que acompanham a NFL têm observado cuidadosamente os movimentos vindos de Cleveland. A contratação de Paul DePodesta como executivo dos Browns gerou muita expectativa para saber como o arquiteto do “Moneyball” traria sua prática do baseball para o futebol americano. Caso você não tenha lido o livro, de Michael Lewis – ou visto o filme que ele gerou, com Brad Pitt como protagonista –o moneyball tem como base:

  • Não seguir o que os outros times fazem só porque é o atual paradigma (“se jogarmos como os Yankees aqui dentro, perderemos para os Yankees lá fora”)
  • Utilizar-se de estatísticas avançadas e um olhar matemático em cima de jogadores – exemplo: você pode pagar 10 milhões para um wide receiver que receberá 6 TDs numa temporada. Ou, de maneira mais inteligente, pagar 5 para um que receberá 3 TDs e 4 milhões para outro que receberá mais 3 TDs (você gasta menos e o resultado final acaba sendo o mesmo).
  • Ou você revoluciona tudo ou implode a franquia. Basicamente, não ser medíocre e buscar aquele 8-8 é o objetivo final (mas, sim, ao menos chegar na pós-temporada).


“RODAPE"

Pois bem. O novo regime de Cleveland começou no ano passado com modificações… Bom, atípicas – tal qual era o esperado, no final das contas.  A exemplo, a não renovação de contrato com os free agents Travis Benjamin, Mitchell Schwartz e Alex Mack. Este acabou brilhando em Atlanta ao mesmo tempo que os Browns terminaram a temporada passada com apenas uma vitória. Mas no fim da festa, os cortes/não-renovações fizeram sentido – porque, além de liberar espaço no teto salarial para novos futuros jogadores, os Browns seriam “premiados” com escolhas compensatórias a partir da terceira rodada do Draft de 2017. Como, yay, aconteceu.

Após o mercado de “cortes” em Cleveland, os Browns optaram por atirar 14 vezes no Draft. Foram 14 escolhas, majoritariamente em cima de jogadores com alta produtividade no College Football.

Conforme o João Maurício analisou a classe do ano passado no Draft dos Browns: Ao analisarmos as escolhas do Cleveland Browns, alguns detalhes são perceptíveis. Por exemplo, além de buscar o maior número de escolhas possível, os Browns optaram por selecionar jogadores com boa produção na universidade. Não há nenhum jogador na classe selecionado apenas por conta de seu potencial atlético. Todos foram jogadores importantes em suas equipes universitárias, e a maior parte deles teve pelo menos dois anos jogando como titulares. Além disso, a personalidade foi levada em conta. Depois de experiências muito ruins com jogadores como Johnny Manziel e Josh Gordon, os Browns optaram claramente por jogadores que se destacam como presença positiva no vestiário. Nesse ponto, cabe destacar Shon Coleman, o tackle que conseguiu vencer um câncer durante sua carreira universitária.

Finalmente, é fácil perceber que influenciou nas escolhas dos Browns o nível de competição das equipes. À exceção de Seth DeValve, Rashard Higgins e Trey Caldwell, todos os demais jogadores (11) selecionados vieram de universidades fortes, e que enfrentam adversários de respeito – das chamadas conferências Power 5 dos College Football, cujos campeões tem vaga garantida no College Football Playoff ou em um dos seis Bowls importantes de ano novo. É fácil perceber que a equipe desejava jogadores habituados a enfrentar oposição de qualidade.

Ainda é cedo para termos certeza do que deu certo e o que deu errado nessa classe. O que podemos falar é que o plano segue para 2017 – com a penca de escolhas. Antes, porém, falemos sobre a free agency dos Browns neste ano.

Depois de liberar espaço no teto salarial, começa a reconstrução

A bem da verdade, não duvido nada que os Browns tankaram de propósito no ano passado. Com as primeiras escolhas em cada rodada, a vida ficaria mais fácil. O Draft da NFL dá uma possibilidade maior de montar um elenco se comparado com o Draft da NBA ou da MLB. No caso do primeiro, são apenas duas rodadas. No caso do segundo, são várias – e raríssimos os casos dos jogadores escolhidos que já vão para o time principal (geralmente eles vão para as categorias de base, chamadas de “Minors” no beisebol).

Antes de falarmos de Draft, cabe lembrar que Hue Jackson, Sashi Brown e DePodesta firmaram um comprometimento em arrumar as espinhas dorsais de um time de futebol americano atual. No ataque, a linha ofensiva. Na defesa, o pass rush. Com as regras cada vez mais rígidas no que diz respeito ao que uma secundária pode fazer ou deixar de fazer para defender o pass, o pass rush – ato de pressionar o quarterback adversário – acabou ganhando uma importância que nunca antes teve. Vide a maior parte dos jogadores que receberam a franchise tag sendo de linha defensiva ou outside linebackers.

Tendo uma tonelada de escolhas como munição no ano passado, os Browns trocaram por Jamie Collins após ficar claro que os Patriots não teriam nem espaço no teto salarial e nem vontade de pagar mais do que normalmente gostariam. Collins é uma peça importante numa defesa, dado que tem capacidade para liderar o time em tackles (como o fez em New England em 2015) e também tem boa produção em sacks (5,5 nos Patriots em 2015). Após trazer Collins, os Browns devem ir atrás da melhor arma em termos de pass rush no Draft 2017: Myles Garrett, que, a menos que uma catástrofe ocorra, deve ser a primeira escolha geral e consequentemente jogador dos Browns em 2017.

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No ataque, a linha ofensiva foi endereçada de maneira excelente no último final de semana. Para começar, é uma linha que já conta com um dos melhores left tackles da NFL há alguns anos – Joe Thomas. Mas a diretoria sabe que uma andorinha só não faz verão. É por isso que Joel Bitonio teve contrato renovado, J.C Tretter (center) chegou e o melhor guard da Free Agency, Kevin Zeitler. DePodesta/Sashi sabem muito bem que nem Tom Brady – vide o início da temporada 2014 – consegue produzir minimamente se a linha ofensiva for uma bagunça. E, em sentido contrário, sabem que se a linha for boa, o quarterback que é “marromeno” tem melhor chance de se tornar um cara acima da média. Falando em quarterbacks…

Adeus Robert

Na prática, a carreira de Robert Griffin III acabou. Após ser cortado por Washington e ganhar um contrato de dois anos em Cleveland, Griffin se machucou já na primeira partida da temporada, contra os Eagles. Ficou mais tempo no banco, desta vez por não conseguir jogar devido à lesão.

Em outros tempos, a diretoria de Cleveland daria “mais uma chance” para o signal caller. Em 2017, não. Mesmo eu fique com dó pelo fato do cara ter saído do céu para o inferno, é impossível dizer que os Browns erraram ao cortar Griffin. Fizeram o certo.

E, não, Cody Kessler não é a saída. Tampouco Brock Osweiler. E, falando nele…. A troca por Brock Osweiler foi a coisa mais sensacional da história da Free Agency. Os Browns não buscaram um novo quarterback: apenas usaram o cara como moeda para conseguir mais uma escolha alta no Draft (a segunda geral de Houston em 2018). Ele muito provavelmente não vai jogar em Cleveland. Ou vão tentar trocá-lo ou irão cortá-lo antes da temporada começar. A presença de Brock no vestiário, mesmo como reserva, não seria nada positiva.

Como resultado, uma penca de escolhas no Draft

Este é o ponto mais importante. Tal qual Jimmy Johnson nos Cowboys dos anos 90 ou Bill Belichick recentemente, o regime de Cleveland sabe que um time se reconstrói por meio do Draft. Os Browns poderiam gastar 10 milhões de dólares em um jogador qualquer ao invés de gastar numa escolha de segunda rodada – o que, antes de cortar Robert Griffin III, fizeram.

De toda forma, essa segunda escolha pode ser usada num jogador que será muito mais avaliado pelos olheiros do que um que venha pela free agency. E, principalmente: um calouro pode ser moldado ao sistema. Um jogador veterano já vem com seus “vícios” de sistemas anteriores.

Como resultado deste Moneyball maravilhoso, os Browns tem:

  • Draft 2017: 1ª rodada, 1ª rodada, 2ª rodada, 2ª rodada, 3ª rodada, 4ª rodada, 5ª rodada, 5ª rodada, 5ª rodada, 6ª rodada, 6ª rodada.
  • Draft 2018: 1ª rodada, 2ª rodada, 2ª rodada, 2ª rodada, 3ª rodada, 4ª rodada, 4ª rodada, 5ª rodada, 6ª rodada, 6ª rodada e 7ª rodada

Resumindo, 22 escolhas quando normalmente um time teria 14. Mais: nove escolhas entre as 65 primeiras dos Drafts de 2017 e 2018. A tendência, caso essas escolhas sejam bem utilizadas, é que Cleveland ressurja das cinzas e volte a ser um time imponente como fora até o final da década de 1980.

Com tanta munição, além de eventualmente poder escolher jogadores, os Browns podem trocar por Jimmy Garoppolo ou ir subindo no Draft como bem lhes convir. O recrutamento não será tão aflitivo, de maneira que os Browns não precisarão ficar tão desesperados “ai e agora, será que fulano estará disponível na nossa escolha”. Bastará trocar escolhas para subir e pegar esse cara. Em tese, portanto, o Draft dos Browns tem tudo para ser brilhante.

O problema é que Draft não é ciência exata. Fosse o caso, eu já estaria bancando o time como campeão do Super Bowl LIV. Não é, obviamente. Será? Só o tempo dirá. Mas que até agora eles estão fazendo o certo, estão. E o paradigma anterior – Jimmy Johnson trocando o running back Herschel Walker por uma tonelada de escolhas no Draft – resultou em três títulos. Vejamos o que rola.

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