4 Descidas: O futuro incerto do casamento entre Earl Thomas e Seahawks

[dropcap size=big]Q[/dropcap]uatro Descidas é a coluna semanal de Antony Curti sobre a NFL, publicada todas as segundas. São quatro assuntos e não mais que 3000 palavras (ou quase… Às vezes vai passar). Para ler o índice completo da coluna, clique aqui.


1st and 10: Earl Thomas no último ano de contrato

O grande assunto “por baixo dos panos” nesta época da intertemporada é a situação de Earl Thomas no Seattle Seahawks. Aos 29 anos, Thomas não parece mais no seu auge e vem tendo problemas de lesão. Com uma profunda reestruturação tomada a cabo por Pete Carroll na terra do Starbucks, Thomas está em seu último ano de contrato: 10,4 milhões de dólares de salário e, caso cortado, importa em apenas 1,5 no cap como “peso morto”.

Por conta desse poder de barganha baixo, Seattle pode não conseguir muita coisa via troca. Embora tenha sido especulado que Thomas poderia sair para o Dallas Cowboys – para cujos técnicos chegou a dizer “venham me pegar” após um jogo – por uma escolha de primeira rodada, o mercado gira em segunda rodada de Draft e olhe lá.

Fato é que o último elemento da Legion of Boom – o status de Kam Chancellor, lembrando, ainda é incerto para a próxima temporada – pode ter o ano de 2018 como o último no CenturyLink Field. Não que sua idade (29 anos) seja de todo mal para um jogador da posição. Safeties não desvalorizam tão rápido como running backs nesse sentido, mas no caso de Thomas há muito contexto.

A unidade defensiva de Seattle tinha personalidade muito forte e, a partir do momento que as derrotas começaram a aparecer com mais frequência, Carroll perdeu o controle do elenco. Verdade seja dita, há rumores de que o grupo estava rachado desde os momentos finais do Super Bowl XLIX, quando Russell Wilson foi interceptado por Malcolm Butler na linha de duas jardas. Ali, ao que fontes indicam, a defesa virou uma coisa e o ataque, outra.

Qualquer um que já tenha praticado esporte competitivo – no meu caso, na faculdade, mas também conta – sabe que um time tem, sim, grupos. E que, dependendo da situação e do potencial desperdiçado, atritos surgem. No caso de Seattle, Pete Carroll escolheu Russell Wilson. Nada mais natural: é uma liga de quarterbacks. Além disso, é muito mais difícil manter consistência defensiva de um ano para o outro do que manter consistência ofensiva. Em alto nível, digo. A consistência ofensiva pode ser mantida apenas por um quarterback de elite – vide Peyton Manning em seus anos de Indianapolis. A defensiva depende de mais elementos.

Seja como for, houve uma “limpa de personalidades” no elenco.

Lembra o que eu disse em coluna anterior sobre “só vamos descobrir o que está pegando em New England quando… Alguma coisa de fato acontecer?”. Então, as coisas em Seattle já estão acontecendo. Thomas teve seu nome ventilado em troca e até o momento não há nenhuma garantia de que ele terá o contrato renovado. Richard Sherman foi cortado. Michael Bennett, trocado para os Eagles. Kam Chancellor pode sequer jogar futebol americano novamente – “meu corpo dirá se posso continuar”, disse ao final de maio.

Não é como se Thomas não quisesse ficar em Seattle. “Quer permanecer aqui para o resto da minha carreira, mas também acredito que com base na minha produção nos últimos anos ganhei o direito de ter isso tratado (o contrato novo) o mais breve possível”, falou no Twitter.

Não é tão fácil assim. Embora doa no torcedor de Seattle, há uma mudança de rumo na NFC West. Seattle e Arizona, outrora dois expoentes, estão em baixa. San Francisco e Los Angeles, em alta. O massacre imposto pelos Rams na antes fortaleza impenetrável chamada CenturyLink Field é a determinante dessa mudança de poder. Ainda, a posição de safety – vide vários nomes ainda na free agency – está marginalizada como poucas vezes vimos nesta década. Vale a pena renovar com um jogador de 29 anos cujo futuro é incerto? Esse é o sopesamento que John Schneider (general manager) e Pete Carroll (head coach) terão que fazer nas próximas semanas e meses.

Talvez o meio termo seja interessante. Vimos, nos últimos anos, a catástrofe defensiva que os Seahawks viram sem Earl Thomas em campo. Taticamente, não poderia ser diferente, dado que o time joga em single high, com um safety responsável pelo meio/fundo do campo. Se esse cara não é Earl Thomas, espere sempre pelo pior e a defesa desmanchando em efeito dominó.

Ao mesmo tempo, a reconstrução pode indicar que o time não quer mais o mesmo modelo. Ou que pensa em reforçar o pass rush – para mim, o verdadeiro herói dos melhores anos dessa unidade – e o corpo de linebackers. Bobby Wagner parece ser o ponto focal da unidade defensiva pelas próximas temporadas.

Seja como for, adianto algo. Carroll já parece ter indicado, por decisões anteriores, qual será a abordagem dos anos seguintes: esse time é de Russell Wilson.

2nd and 4: Greves, Odell, Julio Jones e Aaron Donald.

Engraçado como todo ano é a mesma coisa: a falta de pauta nesta época do ano faz com que disputas contratuais entre jogadores e equipes sejam o objeto do momento. Algo que faz com que isso seja problematizado é o potencial desejo do atleta em fazer greve e não participar de training camp ou coisas do gênero.

Há quatro jogadores que correm risco de montar piquete ao final de julho: Odell Beckham Jr, Julio Jones, Aaron Donald e Khalil Mack. Destes, Odell é o mais comportado. É, você leu isso mesmo: a maior diva da companhia dá a entender que não fará greve nos treinos de pré-temporada.

Antes que você elogie a benevolência de Beckham Jr, tenhamos senso crítico da situação. Dos nomes acima, apenas Odell vem de temporada perdida por lesão. Ademais, ele pode se dar ao luxo de esperar um novo potencial contrato de Julio para que o seu seja maior. Assim, Beckham não precisa fazer greve: pode deixar outros fazerem por ele.

A situação de Donald já foi brevemente falada pelo Henrique Bulio na coluna dele, mas tem um elemento extra que pensei nas semanas passadas. Também foi comentado no podcast do The Ringer: a franchise tag. Donald tem as virtudes de um defensive tackle e, também, a habilidade de disruptar o pocket tal como um pass rusher. Mas, no papel, é defensive tackle.

O mesmo acontecia com Jimmy Graham para a franchise tag: no papel, ele era tight end. Na prática, fazia coisas que poucos wide receivers seriam capazes. O problema? A tag é, na maior parte dos casos, em função da média dos cinco maiores salários da posição. Dito isso, os Rams podem se dar ao luxo de tagar Aaron Donald por duas temporadas seguidas simplesmente porque ele é um defensive tackle e os cinco maiores salários dessa posição são troco perto do que Aaron pediria de média salarial num contrato negociado sem a tag.

É uma saída arriscada e pode ser o “plano z” da diretoria dos Rams. No videogame, onde não há implicações de química de vestiário e etc, eu certamente faria isso. Na vida real, o buraco é mais embaixo justamente pelos mesmos motivos. Pode pegar bem mal para o resto dos jogadores que o melhor defensor da NFL seja tratado assim. Algo como “se fazem isso com Donald, imagine comigo?”. Vejamos o que vira disso tudo.

3rd and 2: Evolução das placas de publicidade na Copa do Mundo

Como tinha prometido anteriormente, vou usar um pouco desta coluna para falar sobre a Copa do Mundo FIFA 2018. Não falarei de nada intracampo em específico – estou tecendo comentários pontuais no Twitter ao longo dos últimos dias, para quem interessar.

Algo na beirada do campo me interessa mais e, a bem da verdade, sempre me interessou. As placas de publicidade ao longo do campo numa Copa nada mais são do que um reflexo da economia mundial. Calma. Sei que pareceu um tanto quanto confuso e ousado dizer isso. Mas é nessa toada mesmo.

Nos anos 1980, era comum, aceitável e tranquilo que cigarros patrocinassem a Copa – mesmo que cigarro e esporte seja oposto na prática. Winston (1982) e Camel (1986) são as duas marcas que figuram nas laterais. Esse é o primeiro “Estado das Coisas” que se tira.

Na Copa de 2018, o mesmo. Você pode não ter percebido, mas a economia chinesa cresceu absurdos nos últimos anos e décadas. E a Copa do Mundo é o palco perfeito para demonstrar isso ao mundo e para dar um verniz de legitimidade aos seus produtos. Hisense (TVs), Vivo (aparelhos de celular, nada a ver com a Vivo brasileira/espanhola) e Wanda (conglomerado de entretenimento e propriedades imobiliárias) são as três marcas que precisam e querem esse verniz. A Hyundai fez a mesma coisa a partir da Copa de 2002 – que foi no país de origem da montadora, a Coreia do Sul.

Ser país sede, aliás, é um elemento extra para colocar sua marca ao redor do campo. Antigo Ministério do Gás da União Soviética, a Gazprom é a maior produtora de gás natural do mundo e, indiretamente, responsável pelo aquecimento das casas no inverno europeu. Após marcar presença na UEFA Champions League, uma Copa na Rússia é a oportunidade perfeita para mais um verniz de legitimidade na primeira estatal privatizada após a queda da cortina de ferro. Sinal dos tempos: o que outrora era símbolo da capacidade energética do Kremlin, hoje é uma das engrenagens do capitalismo. Não escrevo isso com saudosismo não, vocês sabem pelas minhas entrelinhas quais minhas posições quanto a isso.




A própria tecnologia mostra sinais de evolução quando tomamos os patrocinadores da Copa do Mundo como objeto de estudo. Nas edições dos anos 1980 e 1990, a JVC era figura carimbada. A empresa japonesa era um dos maiores expoentes da indústria do videocassete, sendo a inventora do VHS. A também japonesa Fujifilm, cujo principal foco é a indústria fotográfica – filmes, principalmente – também aparecia nas laterais e assim o foi até 2006. Com o declínio de ambas as tecnologias, a torneira secou e as duas saíram das laterais de campo de partidas da Copa.

Enfim, poderia ir mais longe ao comentar sobre a breve presença do Yahoo (na época que a FIFA achava bom ter uma parceira de conteúdo na internet) na Copa de 2002 ou da CocaCola introduzindo o Powerade (sua resposta ao Gatorade) ao mundo por meio da Copa de 2006. Mas, fato é: as placas de publicidade da Copa, por ser um evento de audiência global, dizem mais do que logos e letras.

4th and 1: Mudanças no Site

Estamos preparando algumas mudanças na linha editorial do ProFootball – seja em textos abertos, seja no ProClub, seja em podcasts, seja em vídeos (sim, novidade, #youtuber). Por isso, você deve ter reparado que estivemos com menor publicação nos últimos dias. Colaborou, também, que estivesse doente – mais sobre, abaixo – mas no todo haverá mudanças. Em resumo, estamos saindo de uma era mais romântica da cobertura e vamos para algo mais profissional e realista.

Saem textos que forçamos demanda e entram textos de acordo com a demanda. Após dez anos de futebol americano crescendo no Brasil, já sabemos o que dá certo e o que não dá. O que vai para frente, na nossa realidade, e o que não vai.

Em resumo, como funcionará, em textos abertos: minha coluna na segunda, podcast (apenas um) na terça, coluna do Bulio na quarta. Demais textos opinativos pulverizados ao longo da semana – o foco, como disse, será opinativo. Ademais, contrataremos um estagiário para ajudar na produção de notas sobre os acontecimentos do dia-a-dia da NFL. Se você faz algum curso da área de Comunicação, fique ligado nos próximos dias.

Em termos de conteúdo, o grande foco serão textos opinativos. O college football, futebol americano nacional, CFL e Madden não serão mais objeto de nossa cobertura. Neste caso, menos itens no cardápio fazem com que os pratos que fiquem sejam melhores cozidos.

O foco do ProClub também muda. Em vez de colocarmos um cardápio gigante com sorteios, hotline e um monte de coisa que apenas uma parcela dos assinantes podem usufruir, teremos 100% de foco em conteúdo, usufruído por todos. Para tanto, contratamos mais dois redatores especializados. Textos de Fantasy e de História da NFL serão exclusivos dos assinantes. Mais conteúdo, melhor conteúdo.

Em breve contaremos mais sobre. Devemos implementar isso aos poucos desta semana até o início de julho. Mas o objetivo será um site mais de acordo com o que o leitor quer e precisa no momento do futebol americano no Brasil.

Feedback:

Podem mandar para minhas redes sociais que vou respondendo na medida do possível. Nas últimas semanas praticamente não chegaram perguntas para esta coluna – não os culpo, entendo muito bem a falta de pauta gigantesca.

A propósito, peço desculpas pela demora na publicação da coluna. Tive graves problemas pessoais no final da semana passada e, para piorar, peguei uma gripe forte – febre, garganta ruim e etc. Hoje, finalmente, estive disposto para escrever e olhar para uma tela. Como isso só acontece no inverno e dificilmente mais de uma vez por ano, podem ficar tranquilos que será a única ocasião na qual a coluna atrasará.




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