Como San Francisco assaltou Chicago: a história por trás da troca

A coluna semanal “Monday Morning Quarterback” é um dos pilares do jornalismo esportivo americano. É tão lida nos Estados Unidos que deu origem a um site homônimo, o MMQB. Nela, Peter King fala em mais de 2000 palavras semanais o que pensa sobre a NFL e vai além da notícia. É uma inspiração para este que vos escreve e, nesta segunda, publicou um conteúdo incrível.

Não vamos privar quem não sabe inglês de tal conteúdo. Como vocês bem sabem, tradução sempre foi a exceção aqui em ProFootball – só algumas poucas vezes optamos por isso, como na coletiva de imprensa de Tony Romo concedendo a titularidade para Dak Prescott. Aqui, é outro momento extraordinário que não pode passar. Para ler a coluna completa, clique aqui. Depois desse trecho, um pequeno comentário que é meu mesmo.

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SANTA CLARA, Califórnia – “Vamos ficar aqui um pouco e conversar”, disse o general manager calouro dos 49ers, John Lynch, para o técnico Kyle Shanahan e o estrategista Paraag Marathe, enquanto andava, 23 minutos antes do Draft começar, de seu escritório para o salão.

Três homens, um plano. Enquanto andavam na sala e Lynch fechava sua porta, isto era o que eles sabiam: Cleveland, escolhendo primeiro, não ia trocar e provável – mas não certamente – iriam escolher o pass rusher Myles Garrett em vez do quarterback Mitchell Trubisky. San Francisco, escolhendo em segundo, tinha três homens no topo de seu tabelão: Garrett em primeiro, o linha defensivo Solomon Thomas em segundo e, numa surpresa, o inside linebacker de Alabama, Reuben Foster, em terceiro.

Chicago, escolhendo em terceiro, queria alguém apaixonadamente. Os Bears e os 49ers tinham um entendimento de que se “o cara” de Chicago estivesse disponível depois de Cleveland escolher (o general manager dos Bears, Ryan Pace, não quis dizer quem o jogador X era – os Niners acharam que era Thomas), os Bears iriam dar pelo menos duas escolhas de terceira rodada para mover da terceira escolha geral para a segunda.

Sem nervosismo mas sem rasgação de seda. Marathe, que fala bem rápido e com confiança, ligou para outro time com interesse na segunda escolha e disse, “Olha, temos algum interesse na escolha”. Marathe disse para o membro do time – que não disse quem era, tampouco o clube (nota do Curti: deve ser Cleveland) por talvez um minuto, só para cristalizar que se Garrett estivesse disponível na #2, os Niners iriam escolhe-lo ou pegar uma tonelada de escolhas em troca.

“Veja se conseguimos algo de última hora com Chicago”, Lynch disse para Marathe.

Marathe ligou para os Bears. “Para tentar solidificar isso agora”, Marathe disse para Pace, “nós vamos precisar de um pouco mais para finalizarmos. Não seria muito. Tipo, sua quarta rodada. Então vamos dizer, sua terceira, 67 geral, neste ano, sua terceira ano que vem, sua quarta neste ano, 111 geral… Não vou te manipular… Vamos fazer isso rápido. Deixe-me falar com John e Kyle e já te ligo”.

Os Bears toparam. Eles deram duas escolhas de terceira rodada e uma de quarta para subir uma posição no Draft. “Cara, o que eles querem?”, Lynch disse. “Deve ser Solomon, certo?”.

“Chame-me de louco, mas eu acho que é Trubisky”, respondeu Marathe. (Lynch, então, disse o que todo mundo pensou na hora da escolha dos Bears). “Então por que eles foram atrás do [free agent Mike] Glennon?”.

Eles debateram para assegurar que não conseguiriam descer ainda mais no Draft (San Francisco, como o torcedor bem sabe, é um time com muitas necessidades. Maximizar escolhas seria interessante). Os Niners estavam confortáveis em escolher Foster – com um problema de lesão no ombro e um antidoping positivo no Combine por amostra diluída – com a terceira escolha geral se os Bears escolhessem quem eles achavam que Chicago escolheria (Thomas).

Mas San Francisco queria descer até a oito, porque eles sentiam que Foster não tinha chance de ser escolhido antes dos Bengals na nove. (Cincinnati é um time carente de inside linebacker).

Quatro minutos passaram. “Não perca Chicago, Paraag”, disse Lynch. Paraag Marathe ligou para os Bears. “Cleveland precisa fazer algo que não seja maluco”, disse ele para Pace. “Fora isso, estamos acordados se vocês estiverem – 67, 111 e a três de 2018. Cacete, o próximo ano já é 2018? O tempo voa, né?”.

Pausa.

“Hey”, Marathe disse, “vocês podem nos dizer quem vão pegar? Estou curioso pacas”. Sem chance.

Fora do telefone, Marathe disse para Lynch e para Shanahan: “Ele [Pace] disse “Eu acho que vocês vão ficar confortáveis com o que faremos” então eu não sei o que é.

Oito minutos até o Draft começar em Philadelphia. Os Niners estavam certos que Garrett seria a primeira escolha. Agora eles tinham um acordo verbal com Pace pela segunda escolha. Eles se sentiram bem. Eles não tinham certeza de qual seria essa escolha. Eles não teriam certeza se conseguiriam descer mais no Draft para arrumar um dos elencos com menos talento na NFL. Depois de quatro meses estudando para um draft vital, o GM e o técnico que foram pagos em contratos gêmeos de seis anos (nunca houve um assim) não sabiam se teriam Thomas, Foster ou uma tonelada de escolhas ao final da noite.

“Tem uma máquina de café aqui, John?”. Shanahan disse. Preciso de um pouco de café”.

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“RODAPE"

Os 49ers acabaram saindo com a escolha que queriam desde o começo na #2. Eles não iriam escolher um quarterback – apenas manipularam Chicago, de modo que os Bears achassem que mais alguém iria querer trocar para a #2. E não digo “manipularam” com uma conotação negativa: fizeram o certo. O Draft nada mais é do que um jogo de poker entre general managers.

Lynch, Marathe e Shanahan não escolheram nenhum quarterback com as duas primeiras escolhas. Escolheram, sim, seu segundo jogador do board e o terceiro – ambos na primeira rodada, com Thomas na terceira escolha geral e Foster após um trade up ao final da primeira rodada. Ainda falta um quarterback e mais lacunas do elenco a serem preenchidas. Mas Kirk Cousins – com quem Shanahan já trabalhou – é free agent no ano que vem. E o começo, para o torcedor dos 49ers, foi ótimo.

Leia também: 
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Não há meio termo: Os Bears deram “All In” no Draft com Mitchell Trubisky

Há basicamente duas possibilidades aqui, ao meu ver. Se Mitchell Trubisky estiver mais para Rodgers do que para Sanchez – os três foram titulares em apenas um ano no college – os Bears não saíram perdendo nesta troca. Se estiver mais para Sanchez, é uma troca que ocasionará uma chuva nuclear por anos na Windy City. Quanto aos 49ers? Também não podemos ter certeza de nada. Mas ao escolher o melhor pass rusher (dos mortais, vide Garrett na #1) e o melhor inside linebacker (no papel, vide os problemas de lesão e o extra campo), San Francisco começou a arrumar a casa da melhor forma possível.

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“RODAPE"

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