O fim de uma era parece se aproximar no Denver Broncos. Na última terça-feira, a franquia do Colorado acertou uma troca com o Jacksonville Jaguars pelo cornerback A.J. Bouye, enviando uma escolha de quarta rodada (127° geral) do próximo Draft. Com isso, é bem provável que Chris Harris Jr., último remanescente da histórica secundária que ajudou a equipe a vencer o Super Bowl 50, deixe o time. Harris é agente livre e sua relação com a direção já não era das melhores nos últimos dois anos. Com 30 anos, ele deve testar o mercado e buscar um derradeiro acordo com grandes valores financeiros.
Por mais que alguns poucos boatos insistam que Harris pode renovar, mesmo com o acordo por Bouye, é pouco provável que isso aconteça. Estima-se Harris ganhe no mercado algo em torno de 13 milhões por ano. Somados aos 13,5 do recém contratado, o gasto total seria de 26,5 milhões em apenas uma dupla de cornerbacks. Numa secundária que ainda tem contratos pesados como de Kareem Jackson e Bryce Callahan e que em breve agregará pelo menos a franchise tag de Justin Simmons, ter ambos é inviável.
Broncos acertaram?
O movimento pode ser considerado bem-sucedido para os Broncos por alguns motivos. O primeiro deles é que o valor enviado é baixo. Na escolha 127, dificilmente o time conseguiria um jogador que pudesse ser titular, quem dirá no primeiro ano. Para ilustrar, os últimos dois defensive backs escolhidos por John Elway depois da centésima escolha foram Isaac Yiadom e Brendan Langley. Não conhece? Não tem problema, a torcida dos Broncos também preferia não ter conhecido.
Vale também ressaltar que essa escolha endereçada aos Jaguars não é originalmente de Denver, tendo sido adquirida na troca que enviou o wide receiver Emmanuel Sanders para o San Francisco 49ers, em outubro de 2019. Ou seja, o time não está gastando seu capital de draft e sim trabalhando com o excedente. Fica ainda melhor ao se considerar que Sanders é agente livre neste momento. Ou seja, de um jogador que sairia de graça dos Broncos para um novo titular por dois anos (tempo que resta no contrato de Bouye) sem gastar nenhuma pick extra. Denver tem cinco escolhas no top 100 e fez bem em não poupar a penúltima escolha da quarta rodada.
Outro ponto é o contrato de Bouye.
Por mais que 13,5 milhões dólares na folha salarial não seja um valor baixo, o time não terá prejuízo algum caso resolva o cortar na temporada que vem. O dead cap – famoso dinheiro morto que o continua contando na folha salarial, mesmo após dispensa ou troca – em seu contrato é zero. Supondo que ele jogue mal ou se lesione, basta cortá-lo, sem peso para o futuro da franquia. O prejuízo ficou todo em Jacksonville.
Essa troca também prova a confiança da direção e de John Elway no head coach Vic Fangio. Mantido após um primeiro ano irregular, Fangio teve respaldo na contratação de Pat Shurmur como novo coordenador ofensivo assim que o mesmo chegou ao mercado. Agora, tem atendido um antigo desejo: quando era coordenador defensivo do Chicago Bears, tentou levar Bouye para lá em 2017. Ele entende que o jogador tem características que casam perfeitamente com o sistema que usa.
A chegada de Bouye altera positivamente os planos do time em relação ao próximo Draft. Se antes cornerback era apontada como uma das necessidades primárias no próximo processo de seleção, agora deixou de ser. Isso não quer dizer não será draftado um jogador na posição, ele somente não será prioridade. Como exemplo, a escolha 15 da primeira rodada passa a ter como preferência as posições de wide receiver e offensive tackle, hoje muito mais carentes no elenco.
O menos claro dos motivos que fazem essa troca ser positiva, é também o mais dolorido para o torcedor do Denver Broncos: Chris Harris Jr. ir embora é muito benéfico nesse momento. Juntamente com Von Miller e Derek Wolfe (que também é agente livre), era um dos remanescentes da conquista do Super Bowl 50. O problema é que existe um saudosismo letárgico entre os torcedores por conta deste título. Já se passaram cinco anos e é hora de uma virada de página, de começar um novo ciclo em busca de vitórias, sem comparações com uma era que se findou. Miller segue por ser um jogador diferenciado, mas sua hora também vai chegar. Tenho certeza que o torcedor dos Broncos será eternamente grato a Harris, mas é hora de dizer adeus.
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