Ele já não teria se aposentado como um packer por toda a carreira – afinal, Brett Favre foi originalmente draftado pelo Atlanta Falcons em 1991 e trocado para Green Bay no ano seguinte. Aos 38 anos e depois de uma interceptação que custou a ida ao Super Bowl – na prorrogação da final da Conferência Nacional de 2007 – Brett Favre anunciava a aposentadoria. Ainda não sabíamos, mas outras coletivas como aquelas viriam.
Favre chorou, agradeceu aos fãs de Green Bay e anunciou a aposentadoria oficialmente no dia 4 de março de 2008[note]https://web.archive.org/web/20080216044939/http://blogs.jsonline.com/packers/ Acesso em 10/07/2017[/note]. De repente, tudo aquilo ficou sem significado. Ainda em março[note] http://www.nytimes.com/2008/03/05/sports/football/05favre.html Acesso em 10/07/2017 [/note], o empresário do jogador declarou que ele queria jogar pelo menos mais uma temporada. “Ninguém chutou Brett para fora [de Green Bay], mas ninguém quis que ele ficasse também”, disse Bus Cook, o agente, à Associated Press na época.
E aí começou a novela.
Em julho, Favre tentou reatar com seu antigo time. O problema? Ele já tinha uma nova namorada. Aaron. Eles não queriam mais Brett. Eles já estavam caminhando para seguir com a vida. Não daria para parar o mundo só porque, aos 38 anos, Favre queria voltar. Era hora de seguir em frente. O camisa 4 não desistiu: no dia 11 de julho ele enviou uma carta (ainda não existia e-mail naquela época?) para o general manager dos Packers, Ted Thompson. O motivo da carta? Pedir para que Green Bay lhe cortasse para que ele fosse um free agent.
Thompson jogou duro: afirmou que o time estava comprometido com sua nova namorada, digo, não consigo resistir a essas analogias seu novo quarterback, Aaron Rodgers. Não tinha como ser diferente: Rodgers, o qual era considerado um pouco cru quando veio para a NFL em 2005, havia sido drafrado três anos antes como príncipe herdeiro de Brett. Esquentou banco por três temporadas. Era hora de seguir em frente. Mais: o general manager dos Packers, num primeiro momento, se negou[note] http://sports.espn.go.com/nfl/news/story?id=3484473 Acesso em: 10/07/2017[/note] a cortar Brett Favre.
As coisas começaram a piorar. Muito. O fã de Green Bay encontrava-se numa encruzilhada: o que apoiar? O novo ou o velho? O conhecido ou o desconhecido? A diretoria do time não tinha dúvidas.
Brett, em entrevista para a FOX News[note] Para o programa “On the Record with Greta Van Susteren[/note] disse que foi pressionado por Green Bay para se aposentar e que nunca estava realmente comprometido com a aposentadoria. O quarterback ateou fogo em tudo: falou que o time foi desonesto com ele e que deveriam ter sido diretos. E que não voltaria para Green Bay como reserva – reafirmando seu desejo de ser trocado ou cortado.
Calma que a novela fica ainda melhor – hoje eu tenho saudade, mas na época beirou o insuportável como se falava apenas disso. Green Bay peticionou à NFL para que esta fizesse algo por conta de “aliciamento” de Brett por parte do Minnesota Vikings. O recém-empossado comissário, Roger Goodell, disse que o fato não aconteceu. Embora tenha dito que não seria reserva em Green Bay, Favre foi para o Wisconsin – e peticionou a “desaposentadoria” antes disso. Ele jogaria naquele ano, pelo bem ou pelo mal.
Para evitar uma gigantesca distração antes da temporada – que, lembrando, seria a primeira de Aaron Rodgers como titular, fato do qual falaremos nesta semana aqui no site – a diretoria de Green Bay cortou o “mal” pela raíz. Depois do rolo com Minnesota, (ainda) não seria hora de Favre encarnar Fredo Corleone. Favre poderia ir para outras duas equipes ia troca com Green Bay, que ainda o tinha sob contrato.
À época, os times ventilados[note] http://www.denverpost.com/broncos/ci_10120428 Acesso em: 10/07/2017 [/note] eram o Tampa Bay Buccaneers e o New York Jets. Os Buccaneers faziam bastante sentido: seu head coach, Jon Gruden, foi assistente ofensivo dos Packers no primeiro ano de Favre (1992) por lá. Os Jets, idem: era um time com uma defesa se acertando, no maior mercado consumidor dos Estados Unidos e que não jogariam contra Green Bay naquele ano. Enquanto os Buccaneers tinham um técnico que provavelmente ficaria contente com a vinda de Brett, os Jets estavam do lado oposto. Eric Mangini, anos depois, diria em entrevista que não queria[note] https://www.youtube.com/watch?v=iojOwMBS9fU Acesso em: 10/07/2017[/note] o camisa 4 em Nova York. A diretoria seguiu com o plano.
Green Bay trocou um de seus maiores ídolos no início de agosto. O plano da troca era baseado em rendimento futuro, uma escolha condicional no Draft. Quanto melhor Favre fosse, maior seria a escolha que os Jets mandariam para Green Bay. Honestamente, não é como se os Jets precisassem desesperadamente de quarterback. O time contava com Chad Pennington, um dos mais precisos da liga. É verdade, Chad se machucava bastante. Mas também não é como se o time tivesse um cone como quarterback. Daí o motivo de Mangini, de pronto, não querer a troca. Pennington foi cortado no dia seguinte da troca por Favre. Ele assinaria com os Dolphins e a vingança viria.

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A temporada começaria e terminaria com confrontos contra o Miami Dolphins. Na primeira semana, Brett Favre deu seu cartão de visitas na Flórida e lembrou aquele gunslinger de anos atrás. Com rating de 125,9[note] http://www.pro-football-reference.com/players/F/FavrBr00/gamelog/2008/ Acesso em 10/07/2017[/note] e jogadas memoráveis, os Jets pareceram o lado mais inteligente da troca e posterior corte de Pennington. Mas a temporada é longa.
Longa o suficiente para que Brett Favre passasse por problemas de lesão. Embora o time tenha chegado à boa campanha de 8-3 e tenha vencido os Patriots em Foxboro e os Titans quando estes estavam com campanha de 10-0, a reta final da temporada foi o que marcou. Claro: houve partidas magníficas, com destaque para o confronto contra o Arizona Cardinals no qual Brett passou para seis touchdowns. Os Cardinals, lembremos, chegaram ao Super Bowl naquele ano.
Contudo, como disse, o problema foi o corpo aguentar mais dezesseis jogos. Favre reclamou de dores nos ombros durante o mês de dezembro, importante demais numa AFC East mais disputada do que nunca. Ele parecia outro quarterback. Mas o que New York faria? Colocar Kellen Clemens no lugar? Não parecia a melhor saída. Para todos os efeitos, um Brett com dor poderia render mais do que um Kellen inexperiente.
Semana 2008: Titans conquistam melhor campanha da AFC com 13-3
Semana 2008: Tom Brady machuca o joelho contra os Chiefs e perde restante da temporada
Semana 2008: Aos 37 anos, Kurt Warner ressurge e leva os Cardinals ao Super Bowl
Ponto é que não foi bem o que aconteceu. Para começo de conversa, Favre machucou o ombro/biceps, de fato. A ressonância magnética, que revelaria que ele estava com um tendão rompido no braço direito, só foi feita em 29 de dezembro. Um dia depois da derradeira semana 17 contra os Dolphins. Os Jets perderam quatro dos últimos cinco jogos daquela temporada. O camisa quatro jogou tão mal quanto poderia. Terminou o ano liderando a NFL em uma estatística que ninguém quer liderar: mais interceptações na temporada.

O confronto final, em casa, foi a vez de Chad Pennington dar o troco e a Lei do Ex aparecer. Os Dolphins venceram por 24 a 17 naquele que seria o pior jogo[note] http://www.pro-football-reference.com/players/F/FavrBr00/gamelog/2008/ Acesso em: 10/07/2017 [/note] de Favre naquela temporada: 50% de passes completos, 233 jardas, 1 touchdown, três interceptações e o medonho rating de 45,1.
No meio de janeiro de 2009, o quarterback já indicou para o general manager – e arquiteto de sua vinda – Mike Tannenbaum, que talvez fosse hora do time pensar uma outra saída para a posição. Em fevereiro (mais uma) coletiva de imprensa anunciando aposentadoria. Achando que ele não mais voltaria, os Jets cortaram Favre em maio – até porque tinham draftado Mark Sanchez na primeira rodada do Draft, em abril.
Confira aqui o índice completo da “Semana 2008”, um especial do ProFootball
Favre começou aquele ano com o sonho de mais um tiro até o Super Bowl. A caminhada sequer chegou a janeiro. A lesão prejudicou, talvez não houve tempo o suficiente para ele aprender o playbook, karma com Lei do Ex para os Jets: seja como for, todos que vestiam verde em dezembro – seja os Packers de Aaron ou os Jets de Brett – viram os playoffs do sofá e a novela não teve final feliz para ninguém naquele ano. Não seria a última aposentadoria de Favre: ele ainda voltaria na temporada seguinte, pelos Vikings. E tampouco seria o fim da linha para Green Bay: a separação permitiu que Aaron Rodgers finalmente entrasse em campo e fosse campeão anos depois.
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