Kurt Warner é dono de uma trajetória profissional muito, mas muito mesmo, peculiar.
Na verdade, trata-se de uma trajetória única e inigualável. Quem imaginaria que o jovem quarterback da pequena Northern Iowa, o qual não foi nem draftado em 1994, acabaria eleito para o Hall da Fama do futebol americano 23 anos depois? Um cara que, ao não ter resultados na NFL, trabalhava como empacotador[note] http://www.snopes.com/glurge/warner.asp Acesso em: 11/07/2017[/note] num mercado para pagar as contas?Um jovem que só foi ter sua primeira chance real na NFL em 1998, aos 27 anos de idade, após passagens por times da Arena Football League e NFL Europa.
Entre 1999 e 2001, Warner fez seu nome como um dos melhores signal callers de todos os tempos, sendo o comandante de um dos ataques mais prolíficos da história, o chamado “The Greatest Show on Turf”. Durante este período, levou os Rams duas vezes ao Super Bowl (uma vitória e uma derrota), conquistou dois prêmios de MVP da liga (1999 e 2001) e quebrou diversos recordes aéreos. Contudo, depois disso, sua carreira entrou em uma curva descendente e ele passou vários anos como um mero coadjuvante na NFL, até voltar subitamente aos holofotes em 2008, quando de maneira incrível ajudou os Cardinals a chegarem ao primeiro e único Super Bowl de sua história.
O ressurgimento de Warner e a épica caminhada de Arizona, além do desempenho espetacular de Larry Fitzgerald, são alguns dos principais capítulos de uma das temporadas mais malucas e divertidas que o futebol americano já viu. Como parte da semana especial sobre 2008, vamos relembrar como tudo isso aconteceu.
Bem-vindo de volta, Kurt
Chegado ao fim o período de glórias em St. Louis, Warner penou para ter sucesso novamente. Após a temporada de MVP e vice-campeão do Super Bowl em 2001, o quarterback passou dois anos batalhando contra lesões[note]http://www.arizonasportsfans.com/forum/threads/kurt-warner-and-his-history-of-injuries.71505/ Acesso em 12/07/2017[/note]. Os problemas físicos derrubaram seu rendimento em campo e o fizeram ficar de fora de várias partidas. Deste modo, os Rams decidiram cortá-lo durante a intertemporada de 2004, apostando que Marc Bulger seria o futuro da franquia na posição.
O jogador, entretanto, não ficou muito tempo desempregado, assinando com os Giants alguns dias depois de ser dispensado. Em New York, teria como principal missão ser o mentor de Eli Manning, o jovem quarterback recém draftado pelo time. O veterano começou os 10 primeiros jogos do ano como titular, porém em seguida perdeu o lugar para o calouro. Imaginando que teria pouco espaço com a ascensão de Manning, Kurt optou por deixar os Giants ao término da temporada.
Foi então que os caminhos de Warner e dos Cardinals se cruzaram, mas não pense que o início em Arizona foi fácil. Em seus três primeiros anos com a franquia, ele de novo sofreu com algumas lesões e performances irregulares, tanto que alternou entre a titularidade da equipe e a reserva de nomes como Matt Leinart e Josh McCown (sim, AQUELE que é titular nos Jets agora). Em 2007, ganhou definitivamente a posição de Leinart, após o garoto prodígio de USC se machucar na semana 5. Kurt voltou a dar sinais de vida já naquela temporada, terminando com 3,417 jardas aéreas, 27 touchdowns e um rating de 89,8 – seus melhores números desde 2001.
O herói improvável de um time improvável
Em 2008, os Cardinals não eram nem de longe favoritos ao Super Bowl. Na verdade, não eram nem favoritos ao título da NFC West. Uma franquia que nunca havia chegado ao Super Bowl e não conquistava um título divisional desde 1975 – não indo aos playoffs desde 1998 não tinha como estar bem cotada nas bolsas de apostas. Mas eles encontraram uma maneira de chegar lá.
A grande força do time era seu ataque aéreo liderado por Warner e pela dupla de wide receivers formada por Larry Fitzgerald e Anquan Boldin – juntos, somaram 2.469 jardas aéreas e 23 touchdowns durante a temporada regular. O ataque terrestre, por outro lado, pouco contribuiu para o sucesso ofensivo da equipe, sendo o pior da liga em média de jardas por partida (73,6). A defesa também não se destacava, afinal foi a quinta que mais cedeu pontos por jogo (26,6). Ou seja, tudo estava nas mãos do quarterback e dos seus recebedores.
Arizona encerrou a temporada regular com um record de 9-7, vencendo a divisão mesmo tendo sido derrotado em quatro dos seus últimos seis compromissos. Para sorte da franquia, na época os rivais da NFC West eram bastante fracos, até por isso foram seis vitórias contra eles, portanto tal retrospecto foi mais do que suficiente – a brincadeira era chamar a divisão de NFC Weak naqueles tempos (weak é fraco em inglês).
Os Cardinals alternaram grandes triunfos – como a vitória na prorrogação sobre os Cowboys, após um punt bloqueado por Sean Morey – com derrotas acachapantes – por exemplo, as lavadas por 56 a 35 e 47 a 7 sofridas respectivamente para Jets e Patriots. Uma prova de que a equipe teve problemas com a irregularidade e sobretudo com a fragilidade de sua defesa.

Nos playoffs, o time apresentou uma evolução impressionante e tornou-se absolutamente competitivo. Fitzgerald, em particular, foi monstruoso. Ao todo, o wide receiver somou 30 recepções, 546 jardas e sete touchdowns em três partidas. Só na Final de Conferência, vitória por 32 a 25 sobre os Eagles, foram 152 jardas e três visitas a end zone. Warner também brilhou, totalizando 1,147 jardas, 68% de passes completos, 11 touchdowns e três interceptações.
Arizona derrotou os Falcons no Wild Card por 30 a 24 e depois atropelou os Panthers por 33 a 13, em Charlotte. Curiosamente, o destaque contra Carolina foi a defesa, responsável por forçar seis turnovers do quarterback Jake Delhomme (cinco interceptações e um fumble). Bastava apenas superar Philadelphia no NFC Championship Game para que a franquia realizasse o sonho de disputar o seu primeiro Super Bowl. Como todo mundo sabe, isso aconteceu e os Cardinals foram até o Raymond James Stadium, em Tampa, para medir forças com os Steelers, tornando-se a segunda equipe da história a conseguir chegar ao Super Bowl depois de terminar a temporada regular com um record 9-7.
Desfecho triste
Uma saga épica como a de Arizona e Kurt Warner merecia um final épico, mesmo que ele não fosse necessariamente feliz. E assim foi o Super Bowl XLIII, talvez o melhor de todos os tempos. Após quase concretizar uma virada histórica no último quarto, o título escapou nos últimos segundos graças à conexão de Ben Roethlisberger com Santonio Holmes, mas nem essa dolorosa derrota é capaz de ofuscar a mágica temporada de 2008 vivida pelo quarterback e pela franquia.
Um signal caller de 37 anos, desacreditado e pouco tempo antes quase esquecido ressurgiu para carregar um time igualmente desacreditado ao Super Bowl. Está aí uma daquelas histórias da vida real que dão inveja a Hollywood.
Mais da Temporada 2008:
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Kurt jogou por mais um ano antes de se aposentar e de novo conseguiu levar os Cardinals aos playoffs. A equipe caiu no Divisional Round diante dos Saints, porém no Wild Card fez história ao vencer os Packers por 51 a 45 na prorrogação – Warner terminou o dia com 29 de 33 passes completos, 379 jardas, cinco touchdowns, nenhuma interceptação e um rating de 154,1.
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